Pequeno cafeicultor em Espera Feliz, na Zona da Mata mineira, Jos� Alexandre de Lacerda se uniu a tr�s fam�lias da regi�o para criar a marca Montanhas do Capara�. Os gr�os produzidos por eles venceram a etapa estadual e a nacional do concurso promovido pela Associa��o Brasileira das Ind�strias de Caf� (Abic), despertando o interesse de comerciantes estrangeiros. "Fomos procurados por chineses. Nossa mercadoria tem boa sa�da no pa�s e estamos nos preparando para, se poss�vel, exportar alguma parte. O problema � que o custo da produ��o est� muito alto", lamentou Jos�. A reclama��o dele � a mesma de 10 entre 10 homens e mulheres que ganham a vida na ind�stria, no com�rcio ou no agroneg�cio.
Trata-se do chamado custo Brasil, que mostra, por meio de diferentes indicadores, o quanto o pa�s perde em competitividade em raz�o de gastos com a alta carga tribut�ria, com rodovias prec�rias e outros gargalos. Com a crise que se instalou no mundo h� cinco anos, a falta de competitividade agrava o cen�rio para empres�rios de todos os portes. Esse � o tema do terceiro dia da s�rie "Turbul�ncia internacional", que o EM come�ou a publicar no domingo. Para se ter ideia, em rela��o ao peso dos impostos, a arrecada��o do poder p�blico com tributos cresceu a passos largos nos �ltimos anos. Em 1988, quando a Constitui��o da Rep�blica foi promulgada, a carga tribut�ria correspondia a 20,01% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2012, o percentual subiu para 36,27% – os dados s�o do Instituto Brasileiro de Planejamento Tribut�rio (IBPT).
Diferenciais
O custo Brasil prejudica tanto os grandes quanto os m�dios e os pequenos produtores nacionais. Jos� Alexandre, o cafeicultor na Zona da Mata, lamenta que, dependendo do pre�o dos insumos e do mercado do caf�, sua safra sai a um pre�o exorbitante. "Para ganhar mercado, estamos apostando no diferencial, que � a marca que criamos. As quatro fam�lias fizeram um pacto de qualidade. Conseguimos produzir cerca de 2 mil sacas, das quais aproximadamente 400 s�o especiais, com nutri��o melhor das plantas, secagem mais r�pida dos gr�os etc".
Claro, acrescenta Jhone Lacerda, um dos produtores das quatro fam�lias, que o faturamento dos pequenos agricultores seria melhor se o poder p�blico reduzisse a carga tribut�ria. Outro desafio dos agricultores, pecuaristas, comerciantes e empres�rios da ind�stria e do setor de servi�os � conseguir m�o de obra capacitada. "Ela est� cara e rara. � outro problema que deve ser solucionado para melhorar a competitividade do Brasil", alerta Roberto Sim�es, presidente da Federa��o da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento do Estado de Minas Gerais (Faemg).
A dificuldade de exigir m�o de obra qualificada refletiu na alta dos sal�rios em muitas regi�es, prejudicando, sobretudo, os pequenos e m�dios empres�rios. Em S�o Gon�alo do Rio Abaixo, na Regi�o Central do estado, o comerciante Vin�cius Torres Guedes, s�cio do dep�sito de material de constru��o Ros�rio, uma empresa de pequeno porte, penou para preencher as vagas de atendentes no balc�o. "Tivemos de contratar pessoas sem experi�ncia e, aos poucos, fomos treinando-as", disse.
Dependendo do setor, a falta de m�o de obra qualificada eleva o valor do sal�rio num ritmo maior do que o da infla��o. Ainda em S�o Gon�alo do Rio Abaixo, o encarregado de obra William Jos� Faria, respons�vel pela reforma numa churrascaria, disse que esse � um entrave ao setor de constru��o civil: "No in�cio de 2012, a di�ria de um pedreiro era de R$ 70. Hoje, o valor � R$ 120".
Apenas a t�tulo de compara��o, a infla��o oficial do pa�s, medida pelo �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou 2012 em 5,84%. No acumulado de 2013, encerrado em agosto, o indicador ficou em 3,43%. J� o aumento da di�ria do pedreiro em S�o Gon�alo subiu 70%.
Efici�ncia comprometida
A pr�pria economia arrefecida escancara a falta de competitividade da produ��o brasileira, observa o economista e consultor Felipe Queiroz. "Quando a demanda cai, vai produzir quem � mais eficiente, mas o problema central � que a nossa efici�ncia est� baseada principalmente nos pre�os, regulados pelo c�mbio", critica. Exemplo claro dessa distor��o no Brasil � o da ind�stria t�xtil, que conseguiu driblar os produtos da China no mercado internacional por meio do c�mbio valorizado, que estimula as exporta��es.
Isso mostra que a dificuldade da economia brasileira est� na falta de investimentos voltados para o aumento da produtividade no pa�s, alerta o economista. Queiroz acredita numa tend�ncia de recupera��o da ind�stria nos pr�ximos meses, mantidas as condi��es de recuo da infla��o e os sinais de rea��o um pouco mais consistente dos Estados Unidos – vale lembrar que o estopim da atual recess�o econ�mica foi a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, ocorrida em setembro de 2008.
O problema grave da falta de competitividade, no entanto, permanece. Desde o estouro da crise financeira mundial, em 2008, a produ��o industrial no Brasil afundou at� novembro de 2009, recuperando-se em 2010, quando passou do per�odo pr�-crise, e voltou ao mesmo n�vel de 2008 em abril do ano passado, para depois seguir um movimento de altos e baixos, predominando a queda em rela��o ao per�odo pr�-crise. (PHL e MV)
