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Estado de Minas A MULTIPLICA��O DO �LCOOL

Pequenos agricultores mineiros fabricam etanol para abastecer ve�culos pr�prios

Pequenos agricultores da Zona da Mata mineira est�o fabricando etanol para abastecer ve�culos pr�prios. Excedente � trocado por produtos e servi�os e at� por m�o de obra


postado em 27/10/2013 06:00 / atualizado em 27/10/2013 07:45

Produtor de cachaça e açúcar, o engenheiro-agrônomo Luiz Valente decidiu diversificar e hoje produz de 80 a 100 litros de combustível por dia (foto: Marcos Michelin/EM/DA Press)
Produtor de cacha�a e a��car, o engenheiro-agr�nomo Luiz Valente decidiu diversificar e hoje produz de 80 a 100 litros de combust�vel por dia (foto: Marcos Michelin/EM/DA Press)

H� seis anos, o pedreiro Waldir Lopes Faustino mudou-se para a comunidade de C�rrego do Sert�o, localizada na zona rural do munic�pio de Cajuri, na Zona da Mata mineira. Durante a semana ele trabalha construindo e reformando casas em Vi�osa, localizada na mesma regi�o. Nos hor�rios de folga, incluindo os fins de semana, sua atividade profissional � outra. Waldir � s�cio do cinegrafista Henrique Simonini Rocha Gomes na produ��o de etanol no s�tio C�rrego do Sert�o. Como a Ag�ncia Nacional do Petr�leo (ANP) n�o permite que esse combust�vel seja comercializado, os dois trocam parte do volume produzido por servi�os e produtos.

Gra�as ao escambo, j� conseguiram fazer diversas benfeitorias na propriedade: reformaram os alambiques, instalaram uma coluna de retifica��o, trocaram cabos, postes e a parte hidr�ulica, recuperaram a nascente, constru�ram uma casa nova para o pedreiro, que al�m de s�cio virou caseiro do lugar. Como Henrique e Waldir, dezenas de outros pequenos agricultores e produtores de cana na Zona da Mata mineira est�o produzindo �lcool combust�vel que usam em sua propriedade, distribuem gratuitamente para a fam�lia e usam como moeda de troca para adquirir bezerros, pagar pela hora de trabalho de tratores alugados, esterco e m�o de obra.

O escambo � a alternativa encontrada para dar vaz�o ao combust�vel fabricado nas fazendas, j� que os pequenos produtores rurais n�o conseguem atender todas as exig�ncias da ANP para a comercializa��o do produto. “A produ��o em pequena escala � permitida pela ag�ncia reguladora, mas n�o pode ser vendida. Em Minas, eles podem fabricar 5 mil litros ao dia, e em S�o Paulo, 10 mil litros”, explica Juarez de Souza e Silva, professor titular do Departamento de Engenharia Agr�cola da Universidade Federal de Vi�osa (UFV), que vem desenvolvendo tecnologia para a produ��o de �lcool em microdestilarias h� cerca de tr�s d�cadas.

Custo Nesses locais, o custo de produ��o de cada litro de �lcool � de R$ 0,40, no caso de o produtor ser tamb�m fabricante de cacha�a artesanal, e de R$ 0,70 se ele produz somente o etanol. A mat�ria-prima usada para a fabrica��o desse combust�vel s�o a cabe�a e a cauda da cana. A partir deles se produz um pr�-destilado, considerado um subproduto na fabrica��o da aguardente. Com isso, criou-se um mercado real para esse res�duo, que de outro modo seria descartado pelos fabricantes de cacha�a de qualidade ou usado para fabricar um produto de segunda linha que tem acidez elevada e cont�m alde�do, acetona, al�m de outras subst�ncias t�xicas. O litro do pr�-destilado custa
R$ 0,50 ou menos, conforme a concentra��o.

Fabricante de cacha�a, rapadura e a��car h� 13 anos, o engenheiro-agr�nomo e produtor rural Luiz Gonzaga Valente incluiu o �lcool no seu mix de produ��o em 2009. Hoje, ele produz entre 80 litros e 100 litros diariamente. O combust�vel, que abastece os carros da fam�lia, tamb�m � trocado por cana-de-a��car. “Estamos criando uma associa��o com cinco produtores de cacha�a para aproveitar os res�duos. Se juntar cinco ou seis, na safra d� para produzir de 800 a 1.000 litros de res�duo, e isso d� 300 litros di�rios de �lcool”, estima. De acordo com o deputado federal Jesus Rodrigues, pela ANP a comercializa��o do �lcool hidratado produzido em microdestilarias � permitida quando feita a entes p�blicos, em associa��es e cooperativas, para consumo pr�prio e at� para a exporta��o.

Pre�o Na Zona da Mata, a permuta entre os produtores rurais e prestadores de servi�o ou comerciantes de mercadorias como o esterco � valorada por meio da defini��o do pre�o do combust�vel fabricado nas microdestilarias, cujo litro vale entre R$ 1,50 e R$ 1,90, dependendo de cada caso. Waldir Faustino explica que o aluguel de uma hora de trator para a aragem da terra custa R$ 70. No dia, s�o R$ 560. Trocando o servi�o por um litro de �lcool a R$ 1,90, o prestador pode adquirir 294 litros do combust�vel. A partir da� ele pode escolher levar todo o combust�vel ou deix�-lo armazenado no pr�prio s�tio e ir recolhendo aos poucos.

No escambo com esterco, o racioc�nio � o mesmo. Uma tonelada do produto custa R$ 300. “Para comprar cinco toneladas eu gastaria R$ 1.500. Trocamos por �lcool e o dinheiro que seria gasto foi reinvestido no s�tio”, diz. O pagamento da di�ria de profissionais que prestam servi�os eventuais no local funciona de modo semelhante. “Normalmente, eles cobram
R$ 50 ao dia durante duas semanas. Trocamos o servi�o por �lcool porque a maioria das pessoas tem motocicleta e economizamos R$ 500. A� as pessoas v�o pegando o �lcool aos poucos, na bomba.”

Cana como fonte de renda

Juarez de Sousa Silva, professor titular do Departamento de Engenharia Agr�cola da Universidade Federal de Vi�osa (UFV), defende a produ��o de �lcool hidratado em pequenas propriedades rurais como forma de aumentar a renda e o emprego no campo, nos moldes do que j� ocorre com o leite em todo o Brasil. De acordo com ele, uma coluna – equipamento que faz a destila��o do etanol – pode dar vaz�o a quase 60 litros do combust�vel por hora. Esse volume seria suficiente para tornar “independente” de combust�vel uma comunidade de 3.000 habitantes como Caju�, vizinha de Vi�osa. “S� n�o se fabrica �lcool nessa quantidade porque n�o h� como dar vaz�o e os produtores n�o querem se arriscar a vender.” A pr�pria UFV usa 500 litros de etanol ao dia em seus ve�culos. “Um produtor sozinho poderia sustentar a universidade”, sustenta.

De acordo com ele, o processo, al�m de aumentar a renda do produtor, eliminaria gastos com combust�vel, proporcionando renda extra � propriedade. “Com o �lcool d� para fechar um ciclo virtuoso na cultura da cana”, afirma. O primeiro passo � plantar a cana. Depois, parte dela vai para a alimenta��o do gado, parte para a produ��o de etanol e a outra para a de cacha�a. Os res�duos desse processo tamb�m viram alimentos para os animais ou s�o usados na fertiliza��o da lavoura. Al�m disso, podem servir como combust�vel para a produ��o de energia por meio da transforma��o do vinhoto em biog�s. “Para n�s, o �lcool � um subproduto da produ��o de alimentos. Ou seja: �lcool produz carne e leite.” (ZF)


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