A queda de 0,12% na pr�via do Produto Interno Bruto (PIB) do Banco Central no terceiro trimestre consolida as previs�es do mercado de que o PIB oficial de julho a setembro ser� negativo, apesar de o governo insistir em n�o admitir. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, evitou comentar o resultado do IBC-Br, mas sempre que pode ele e sua equipe n�o deixam de buscar explica��es cada vez mais criativas para o p�ssimo desempenho da economia e dos �ltimos indicadores. Mas o mercado sabe muito bem quais s�o as causas dessa letargia no crescimento e destaca que elas est�o relacionadas com as a��es das autoridades e isso consolida a previs�o de queda de at� 0,5% no PIB oficial.
Especialistas apontam uma desacelera��o cont�nua at� 2014, que dever� crescer menos que os 2% a 2,5% neste ano, enquanto a infla��o dever� passar dos 5,7%, em 2013, para 6%, ano que vem. “A economia brasileira est� andando de lado e isso � resultado das decis�es de pol�tica econ�mica do governo tanto no aumento dos gastos p�blicos quanto na desonera��o”, destacou o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Funda��o Getulio Vargas (FGV), Paulo Picchetti.
O economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, tamb�m considera o governo como o respons�vel pela atual situa��o da economia. Mas ele n�o acredita que o pa�s esteja � beira da estagfla��o, em sua defini��o t�cnica, que � o pior dos mundos do ponto de vista macroecon�mico. “Um trimestre de IBC-Br estagnado n�o configura recess�o. Os dados sugerem uma economia que cresce pouco com infla��o alta. � a vit�ria da mediocridade”, afirmou.
O �ndice de Atividade Econ�mica do BC (IBC-Br), divulgado ontem pelo BC, recuou 0,12% no terceiro trimestre do ano depois de ter registrado uma expans�o revisada de 0,84% nos tr�s meses anteriores. A �ltima queda trimestral contabilizada pelo indicador, de 0,52%, ocorreu entre janeiro e mar�o de 2012. No terceiro trimestre de 2012, a alta foi de 0,35%. Para piorar, o Indicador Antecedente Composto da Economia (Iace), medido pela FGV/Ibre em parceria com o The Conference Board, dos Estados Unidos, e divulgado ontem, registrou queda de 0,4% em outubro. Dos oito componentes do �ndice, apenas dois tiveram alta, mas demonstram fragilidade, de acordo com Picchetti. “O Iace antecipa um quarto trimestre de 2013 e um primeiro trimestre de 2014 nada animadores. Haver� um crescimento modesto, com infla��o pressionando. N�o teremos um cen�rio muito confort�vel”, explicou.
Pessimismo
Se as previs�es de queda no terceiro trimestre se confirmarem, os mais pessimistas j� come�am a fazer apostas em uma recess�o, caso o quarto trimestre tamb�m apresente retra��o no PIB em fun��o dos p�ssimos resultados em outubro, como queda na produ��o industrial, dos investimentos e da perda do vigor do varejo, que teve um dos piores resultados desde 2003. Diante desses indicadores cada vez piores, os especialistas se debru�am novamente sobre suas planilhas para reduzir as previs�es de expans�o do PIB no pr�ximo trimestre. Al�m disso, crescem as apostas de que o pa�s sofrer� um rebaixamento na classifica��o dos t�tulos da d�vida p�blica no exterior ainda no primeiro trimestre de 2014.
� o caso do banco brit�nico Barclays, que diminuiu de 0,3% para 0,2% a expectativa de avan�o do PIB oficial do quatro trimestre e estima que, no terceiro trimestre, a queda do PIB ser� de 0,2%. “Os indicadores de outubro n�o s�o bons. O resultado fiscal ruim e o intervencionismo do governo na economia s�o os principais fatores para a quebra de confian�a no Brasil tanto do mercado quanto dos investidores”, destacou o economista do Barclays para mercados emergentes Bruno Rovai.
Descr�dito mina investimentos
Os empres�rios est�o com o p� atr�s para investirem no pa�s porque o discurso do governo n�o convence. A presidente Dilma Rousseff, quando assumiu, se distanciou do setor privado e demorou para desencalhar os projetos de concess�o para destravar a economia. E a reaproxima��o s� aconteceu quando os resultados econ�micos pioraram e, agora, eles tentam atrair os investidores para obras que s� v�o come�ar depois das elei��es. E, sem investimento, n�o tem como o pa�s ter um crescimento mais robusto. E isso refor�a o cen�rio negativo que tem sido consolidado pelo mercado.
“O resultado do IBC-Br reflete uma acomoda��o da economia com rela��o ao trimestre anterior, que foi surpreendentemente forte. O desempenho do trimestre contar� com investimento muito fraco”, disse o analista s�nior para a Am�rica Latina da Economist Intelligence Unit (EIU), Robert Wood. “O Brasil est� de volta em uma din�mica de crescimento lento e parece improv�vel que ocorra “uma sacudida” na economia em 2015. “Para isso, ser� necess�rio que o governo melhore as suas pol�ticas”, completou. Ele fez um alerta para a baixa credibilidade do governo Dilma. “Dada a deteriora��o fiscal e a incapacidade de o governo apresentar explica��es mais convincentes para o fraco desempenho da economia, nada vai impedir que as principais ag�ncias de classifica��o de risco rebaixem o pa�s no in�cio de 2014”, sentenciou.
A economista Monica Baumgarten de Bolle, diretora do Instituto de Estudos de Pol�tica Econ�mica Casa das Gar�as, n�o arrisca usar o termo estagfla��o. “Acho que as pessoas usam esse termo de forma leviana. Estagfla��o � uma coisa muito espec�fica. A economia est� crescendo a uma taxa muito d�bil, mas est� crescendo. Este ano deve crescer em torno de 2,5%”, disse. “Hoje h� um exagero de pessimismo por parte do mercado, mas isso � culpa do governo. Agora eles est�o colhendo os frutos da s�ndrome de hipnose que se instalou na equipe econ�mica, que fica negando a realidade. Se voc� n�o disser a verdade para as pessoas, a verdade vai aparecer em algum lugar”, destacou.
Estagna��o na Europa
Bruxelas – O crescimento na Zona do Euro desacelerou no terceiro trimestre, a 0,1%, em rela��o ao per�odo anterior (0,3%), o que confirma, segundo os analistas, que a recupera��o econ�mica na Zona do Euro � “muito fr�gil” e beira a “estagna��o”. Segundo os dados publicados ontem pelo escrit�rio de estat�sticas europeu, Eurostat, para o terceiro trimestre, o crescimento na Fran�a decepcionou (-0,1%), o da Alemanha foi menor que o esperado (0,3%) enquanto a It�lia se contraiu menos que o trimestre anterior (-0,1% contra -0,3%). Na Espanha, houve uma leve expans�o (+0,1%). Al�m disso, persistem as d�vidas sobre a capacidade desses dois �ltimos pa�ses de manter uma “franca recupera��o”.
Oficialmente a Zona do Euro saiu, no segundo trimestre, de sua mais longa recess�o, que durou 18 meses, mas esta reca�da no terceiro trimestre “evidencia a fragilidade da recupera��o”, observou Howard Archer, economista chefe da Global Insight. “As taxas correspondentes ao terceiro trimestre dificilmente inspiram confian�a sobre o encaminhamento da recupera��o econ�mica da Zona do Euro”, considerou. Os analistas destacam que esta queda se deve aos resultados piores que o esperado na economia da Alemanha, com uma queda das exporta��es e um aumento das importa��es, e da Fran�a, onde as exporta��es tamb�m ca�ram e se destaca, al�m disso, a falta de competitividade de sua economia. A queda das exporta��es � “um claro sinal de que a for�a do euro come�a a afetar negativamente a recupera��o”, observou Martin van Vliet do banco ING.