
Quem precisa de aviso depois de ver o vizinho do lado fechar as portas da loja que j� havia atravessado tantas crises da economia brasileira? No cen�rio de desola��o do com�rcio de Belo Horizonte drasticamente afetado pelas obras do BRT, o sistema de transporte r�pido por �nibus, nas avenidas Santos Dumont e Paran� lojistas j� sabem que este n�o ser� mais um m�s f�cil e se preparam para uma nova batalha atr�s do consumidor desaparecido desses grandes corredores de tr�fego no Hipercentro. Vale quase tudo para trazer de volta o cliente �s prateleiras sobreviventes da dupla crise do setor nessas �reas comerciais tradicionais. Liquida��es fora de hora, descontos de 5% a 10% sobre pre�os j� rebaixados, panfletagem, corpo a corpo na rua e at� mesmo transformar parte do espa�o em estacionamento s�o algumas das armas testadas para salvar o Natal.
Medidas de redu��o de custos foram as primeiras a ser adotadas, quando os tapumes das obras do BRT come�aram a comprometer o poder de persuas�o das vitrines. Houve corte de empregos em lojas e de comiss�es pagas a vendedores. Um dos reflexos mais duros das obras, para Lindalva Oliveira Leite Reis, s�cia-propriet�ria da relojoaria e joalheria Casa Sanni, instalada na Avenida Paran�, est� no fato de o consumidor ter perdido a refer�ncia das lojas que frequentava antes da transforma��o das avenidas em canteiros de obras. A comerciante n�o se abateu e decidiu sair do balc�o para buscar o consumidor nas cal�adas.

Al�m das portas fechadas, boa parte dos comerciantes preferiu n�o apostar na recupera��o de p�blico e passou o ponto. Na Avenida Paran�, onde as obras foram conclu�das, trazendo passeios novos e boa ilumina��o, a postura de quem sobreviveu � de segurar o caixa pelo menos at� 15 de fevereiro, data prevista para o pleno funcionamento dos �nibus, diz o presidente da Associa��o dos Lojistas do Hipercento, Fl�vio Assun��o. “Trabalhamos visando o ano que vem. Aqui (na Avenida Paran�) caminhamos para um Natal perdido e os comerciantes da Santos Dumont v�o enfrentar o segundo Natal frustrado”, afirma.
FATIA GORDA
Os neg�cios motivados pela festa religiosa representam um naco entre 25% a 30% do faturamento do com�rcio de BH durante o ano, de acordo com levantamento feito pelo C�mara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH). A institui��o prev� uma receita do setor na capital mineira de
R$ 3,130 bilh�es neste m�s, representando 6% de aumento na compara��o com o ano passado, quando as vendas subiram 7,6% ante 2011.
Menos otimista, a Federa��o do Com�rcio de Bens, Servi�os e Turismo de Minas Gerais (Fecom�rcio MG) optou por tra�ar cen�rio de vendas estagnadas em rela��o ao Natal de 2012. Segundo o economista-chefe da institui��o, Gabriel de Andrade Ivo, partir para a luta na estrat�gia � o que resta aos comerciantes dos dois corredores afetados pelas obras do BRT, aproveitando a imagem de variedade e de pre�os baixos que o com�rcio do Centro construiu muito antes da chegada dos shopping centers. “Eles n�o t�m muitas escolhas. Agora � trabalhar nas vitrines, investir no bom atendimento daquelas classes de consumidores que ascenderam socialmente (C e D) e trabalhar nos descontos para n�o perder vendas”, diz.

�s v�speras do Natal, a loja encerra as atividades pouco antes das 18h, duas horas mais cedo do que nos bons tempos. “Eu trabalho em todas as frentes. Vendo, gerencio, atendo o cliente para poder manter a loja aberta, mas est� dif�cil”, lamenta Silva. A empresa, que vende por atacado, passou a atender clientes no varejo e oferece descontos sobre pre�os j� comprimidos. O abandono da regi�o incomoda Edmilson Gomes de Oliveira, vendedor da loja de presentes Primavera, que passou a esperar menos do Natal. “Era a melhor data, mas as obras tiraram os clientes da rua. Muitos se afastaram por medo da viol�ncia e pelo pouco policiamento que temos na avenida.”
Do quebra-quebra � recupera��o
Com a experi�ncia de ter vivido 14 meses dentro de um grande canteiro de obras de revitaliza��o urbana, os comerciantes da Savassi ainda trabalham pela recupera��o das vendas, num momento de consumo desaquecido que tamb�m exige mais dos lojistas. Entre os que venceram a crise de vendas h� mais de um ano, permaneceram armas como as promo��es e um estoque de mercadorias que atendem o consumidor que prefere o charme da regi�o � padroniza��o dos shopping centers, avalia Alexandre Runcini, dono da lojas de roupas masculinas l’Uomo e coordenador do Conselho CDL-Savassi.

A concorr�ncia de artigos importados de baixo custo, n�o s� de origem chinesa mas tamb�m fabricados nos Estados Unidos e na It�lia, � outro fator que aumenta o desafio dos comerciantes espremidos nos corredores mais afetados por crises de vendas. H� lojistas com o sentimento de estar acuado, e que por isso optaram por deixar de investir para atrair de volta os clientes. � o caso da Padaria Bom d’Mais, instalada na Avenida Paran�, que perdeu 50% do faturamento desde o in�cio das obras do BRT.
O gerente Ant�nio dos Reis Cota diz que o fluxo de consumidores baixou de at� 2,1 mil para 700 pessoas diariamente. O investimento na decora��o natalina foi cortado e o mix de produtos permaneceu sem o acr�scimo feito todo ano. “S� esperamos pelo fim das obras, e t�o logo isso aconte�a, recuperar o que foi perdido. Antes disso, s� nos resta segurar os custos e os funcion�rios”, afirma. (MV e CM)