
Diamantina – H� pouco mais de 39 anos, em 15 de junho de 1975, um casal de portugueses chegou a Diamantina, a 300 quil�metros de Belo Horizonte, com a miss�o de ensinar moradoras carentes da cidade hist�rica do Vale do Jequitinhonha a arte de confeccionar tapetes conhecidos como arraiolos. Trata-se de bordados em l� sobre uma tela de juta, algod�o ou linho e cujo nome � uma alus�o � regi�o do pa�s europeu onde viveram fam�lias de mouros, por volta de 1500, respons�veis pela cria��o desse tipo de pe�a. Quase quatro d�cadas depois, os arraiolos produzidos no munic�pio mineiro ganharam fama fora das fronteiras do estado, mas as vendas ainda n�o decolaram tanto quanto as artes�s desejavam.
Para alavancar os neg�cios, elas v�o partir para uma nova estrat�gia: participar de feiras nos quatro cantos do pa�s, principalmente as voltadas para o atacado. A participa��o das artes�s nesse tipo de evento � uma das orienta��es do Sebrae, que come�ou a acompanhar o trabalho das mulheres com a miss�o de ajud�-las a conquistar novos mercados. “Queremos lev�-las a feiras com lojistas, ou seja, a eventos destinados ao atacado”, refor�ou Luciana Teixeira Silva, analista do Sebrae na regi�o de Diamantina. O metro quadrado do arraiolo � negociado, em m�dia, a R$ 292.
Os coloridos das pe�as e a diversidade dos desenhos, acredita a especialista, podem ser interpretados como importantes �m�s tanto junto aos lojistas quanto aos consumidores pessoas f�sicas. Anal�cia dos Santos Almeida, de 49 anos, est� animada com o projeto. Ela preside a Cooperativa Artesanal Regional de Dimantina (Ceag) e conta que o of�cio, depois de ensinado pelo casal de portugueses, vem passando de pais para filhos.
“Aprendi essa arte na d�cada de 1990, com mam�e. Duas filhas minhas, hoje, tamb�m fazem os tapetes”, conta Anal�cia, destacando que outra estrat�gia do grupo ser� criar uma p�gina na internet para mostrar ao mundo as pe�as. “Temos o email [email protected] para receber pedidos, mas nossa meta � ter uma p�gina virtual.”
BATE-PAPO
O grupo, que conta com cerca de 30 artes�s em atividade, tra�a as pe�as num galp�o erguido na Vila Arraiolo. Em outro barrac�o, onde funciona a sede da cooperativa, h� o show-room da entidade, com dezenas de tapetes expostos. Enquanto tra�am as pe�as, as mulheres conversam sobre diferentes assuntos. Afinal, como explica Helena Sofia de Melo, de 61, os tapetes demandam bastante tempo. “Esse daqui, encomendado por uma fam�lia de Diamantina, levar� cerca de 20 dias para ficar pronto. A medida ser� de 2,40 metros quadrados.”
Helena aprendeu o of�cio h� tr�s d�cadas. Antes, recorda a senhora, ela ganhava a vida lavando roupas para fam�lias com bom poder aquisitivo em Diamantina. Foi uma �poca dolorosa, diz a artes�, pois passava parte do dia em p� e o sab�o danificava as m�os. Hoje, sentada e protegida pela sombra do barrac�o, ela trabalha na companhia de outras mulheres, que lhe garantem bom bate-papo.
� o caso de dona Anita de Paula, que, no auge de seus 80 anos, tem muitas hist�rias para contar. Tanto boas quanto ruins, garante ela, que classifica a arte de tra�ar arraiolos como uma terapia boa para a cabe�a de qualquer pessoa: “O bom da tape�aria � que, al�m de render produtos bonitos, � uma terapia para n�s. Sem falar que a gente conversa com as amigas. � divertido”. Juracy Marlene Nunes F�lix, de 69, tamb�m aprendeu o of�cio h� bastante tempo: “L� se v�o 25 anos. Antes, eu era dona de casa na ro�a. Desde ent�o, come�ou a entrar um dinheirinho em casa”.
HIST�RIA TRA�ADA
A chegada do casal de europeus a Diamantina foi orquestrada pelo ent�o arcebispo local, Dom Geraldo de Proen�a Sigaud, que planejou melhorar a renda das mulheres carentes no Vale do Jequitinhonha. A atividade chegou a reunir, em quase 30 localidades da regi�o, cerca de 2 mil tapeceiras. Ao longo do tempo, por�m, muitas delas deixaram o of�cio, que agora procura ser resgatado pela cooperativa local em parceria com o Sebrae.