S�o Paulo, 03 - A desvaloriza��o do real nos �ltimos anos foi insuficiente para tornar o Brasil mais barato e competitivo. O ganho esperado por setores como ind�stria e com�rcio exterior com a deprecia��o da moeda brasileira foi corro�do pela infla��o elevada, que desde 2011 se mant�m no patamar de 6% ao ano no Pa�s.
Com o aumento dos pre�os, o Brasil permaneceu caro na compara��o com outras economias que tamb�m sofreram desvaloriza��o cambial, mas tiveram uma infla��o mais baixa. Em quatro anos, desde julho de 2010, a perda de valor nominal do real em rela��o ao d�lar foi de 26%. Por�m, se descontada a infla��o do per�odo, a desvaloriza��o da moeda brasileira ante o d�lar foi de apenas 8%.
"O Brasil ficou com uma infla��o anual ao redor de 6% nos �ltimos anos, enquanto os nossos parceiros est�o com uma infla��o bem menor", afirma Andr� Loes, economista-chefe do banco HSBC para a Am�rica Latina. A China, por exemplo, o maior parceiro comercial do Brasil, teve infla��o de 2,6% em 2013 e, neste ano, deve ficar em 2,4%, segundo o banco. "H� diferencial de infla��o sendo favor�vel para outros pa�ses", afirma L�es.
Em parte, a leve desvaloriza��o da moeda brasileira ao longo dos �ltimos anos ajuda a explicar por que a economia brasileira tem se mantido cara. Recentemente, v�rias indicadores apontaram essa tend�ncia. No m�s passado, a revista The Economist fez a atualiza��o semestral do �ndice Big Mac - usado para comparar o valor das moedas. O resultado mostrou o pre�o do lanche no Brasil como o quinto mais caro do mundo (US$ 5,25), superando pa�ses com renda per capita maiores do que a brasileira.
Em abril, o �ndice Zara, calculado pelo banco BTG Pactual, colocou o Brasil na lideran�a do indicador e mostrou que os pre�os da loja no Pa�s s�o 21,5% superiores aos das lojas americanas da marca, usadas como base da pesquisa. O levantamento foi realizado em 22 dos 87 pa�ses em que a Zara est� presente.
O reflexo do Brasil caro � percebido mensalmente nas contas do Banco Central. No primeiro semestre, os brasileiros gastaram no exterior US$ 12,486 bilh�es, acima dos US$ 12,209 bilh�es gastos entre janeiro e junho do ano passado. "Se o c�mbio tivesse se mantido est�vel desde o come�o do ano, provavelmente a infla��o estaria num patamar bem mais alto do que est� hoje", afirma Bruno Lavieri, analista da consultoria Tend�ncias. "E a valoriza��o que ocorreu de janeiro at� agora beneficia as viagens internacionais, pois aumenta o poder de compra em d�lar."
O c�mbio n�o � o �nico respons�vel pelo fato de a economia brasileira ser cara e pouco competitiva. O Brasil enfrenta uma s�rie de problemas cr�nicos, como baixo crescimento da produtividade, elevada carga tribut�ria para um pa�s emergente e a infraestrutura prec�ria, que colaboram para encarecer ainda mais os produtos brasileiros.
"Como todo problema, n�o existe uma �nica causa", afirma Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Get�lio Vargas (Ibre/FGV). "Sobre a quest�o de pre�os elevados, acho que o problema nem � de competitividade, mas de impostos altos", afirma Castelar.