
Os representantes do ONS v�o se reunir, hoje, para analisar as causas do problema e tomar provid�ncias para evitar a repeti��o do cen�rio. O corte na carga de eletricidade se deu aos poucos, assim como o restabelecimento dela na maioria das localidades. As concession�rias do setor informaram ter sido tamb�m pegas de surpresa e o operador do sistema tentou preservar o fornecimento em lugares essenciais, como hospitais e escolas, mas n�o impediu o transtorno.
METR� A Linha Amarela do metr� paulistano, utilizada por 700 mil pessoas, parou, provocando correria e protesto. Passageiros precisaram de atendimento m�dico e duas esta��es foram fechadas. O estado teve o maior corte individual da carga: foram 850 mil unidades consumidoras, o que representa 10% da demanda total. A Companhia Energ�tica de Minas Gerais (Cemig) foi a �nica empresa do pa�s afetada pelo apag�o orquestrado a se recusar a dar informa��es sobre o corte do fornecimento. A assessoria de imprensa da concession�ria mineira se negou a informar a situa��o atual das usinas da estatal com a baixa dos reservat�rios e quantas e quais cidades mineiras foram atingidas pelo interrup��o de energia.
O apag�o orquestrado ocorre em um momento de baixo n�vel dos reservat�rios das principais usinas hidrel�tricas. As chuvas escassas e o forte calor contribu�ram para a estrat�gia, que serviu como uma defesa do sistema, evitando um blecaute generalizado. O ONS explicou que o aumento na demanda por energia desequilibrou as condi��es de opera��o. “Visando restabelecer a frequ�ncia el�trica �s suas condi��es normais, o ONS adotou medidas operativas em conjunto com os agentes distribuidores”, disse a institui��o em nota, divulgada quatro horas depois do epis�dio.
A explica��o do ONS para o problema � que houve uma restri��o na transfer�ncia de energia do Sistema Interligado Nacional, que, associado ao pico de demanda do consumo, resultou na redu��o da frequ�ncia el�trica de 60 hertz para 59Hz. O problema se estendeu de 14h55 �s 15h45. Segundo o ONS, com isso, 11 usinas geradoras (Angra I, Volta Grande, Amador Aguiar II, S� Carvalho, Guilman Amorim, Canoas II, Viana, Linhares, Cana Brava, S�o Salvador e Governador Ney Braga) foram desarmadas. Com a opera��o o sistema perdeu 2,2 megawatts (MW) da capacidade instalada.
Al�m de Minas e de S�o Paulo, sofreram corte de energia moradores do Distrito Federal, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paran�, Santa Catarina, Esp�rito Santo, Goi�s, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O Sudeste — cujo n�vel dos reservat�rios caiu para 18,5% na semana passada — vive uma situa��o delicada, dependendo da importa��o de energia do Nordeste e do Sul para atender � demanda. Menos de 5% da carga total do sistema el�trico brasileiro, segundo o �rg�o federal, foram impactados. O corte no fornecimento da Cemig foi de 500 MW, enquanto a Eletropaulo sofreu mais, com redu��o de 1,5 mil MW. No Rio de Janeiro, a Ampla teve que reduzir a oferta em 100 MW.
Sem garantia Apesar da pane, a nota do ONS ressalta haver “folga de gera��o no sistema interligado”. O presidente da Associa��o Brasileira das Grandes Empresas Geradoras de Energia El�trica, Fl�vio Neiva, explica que a medida da ONS de orientar as distribuidoras a reduzir o fornecimento foi a maneira encontrada para evitar um apag�o generalizado causado por efeito cascata. Assim, a solu��o foi selecionar as cargas a serem desligadas de forma a causar o menor impacto. Ele afirma que o ONS precisar� recalcular o modelo distribui��o, transferindo menos energia entre regi�es durante os hor�rios de pico para evitar que o sistema volte a ficar vulner�vel. Mas adverte: “Ningu�m garante que n�o possa ocorrer novamente ainda esse m�s”.
O diretor-geral da empresa CMU Comercializadora de Energia, Walter Fr�es, afirma ter havido uma mudan�a no perfil do consumidor com o aumento recente da renda do trabalho no Brasil. Com isso, o vil�o do consumo energ�tico deixou de ser o chuveiro el�trico e passou a ser o ar-condicionado, o que explica o pico energ�tico no meio da tarde e n�o mais � noite como anos atr�s. (Colaborou B�rbara Nascimento)
Temperatura e consumo nas alturas
O apag�o est� diretamente ligado � baixa dos reservat�rios das maiores regi�es consumidoras. No conjunto do Sudeste e Centro-Oeste, regi�es consideradas caixas d’�gua do pa�s, o volume das represas est� em apenas 18,27% do total. No Nordeste, segunda maior em capacidade, o n�vel est� em 17,57%. Isso obriga o ONS a distribuir a energia gerada em outras regi�es para alimentar a rede ao longo do ano. Segundo o �ltimo relat�rio operacional do ONS, que abrange de 10 a 16 deste m�s, o consumo verificado em tr�s das quatro regi�es foi superior ao previsto inicialmente.
Na capital mineira, os term�metros marcaram 32,5°C.Em S�o Paulo, foi registrada a tarde mais quente do ano, com 36,5°C. Em pleno per�odo chuvoso, a �ltima chuva foi em 22 de dezembro. A m�dia pluviom�trica da s�rie hist�rica � de 296 mil�metros em janeiro. Segundo o meteorologista Claudemir de Azevedo, at� amanh� n�o h� qualquer previs�o de chuva.
No corte decretado ontem pelo ONS, S�o Paulo foi o estado mais afetado, com corte em 24 munic�pios, segundo a Eletropaulo. As esta��es Rep�blica e Luz da Linha 4-Amarela do metr� foram fechadas porque houve um problema de alimenta��o de energia el�trica na regi�o da Esta��o da Luz. No Rio, 13 cidades abastecidas pela Ampla ficaram �s escuras. O blecaute afetou 580 mil consumidores.
No Distrito Federal, o apag�o atingiu 16% das unidades consumidoras — 157 mil das 981 mil existentes. Milhares de pessoas ficaram sem energia no meio da tarde em oito localidades. O corte, justificou a Companhia Energ�tica de Bras�lia (CEB) por meio de nota, obedeceu �s ordens do Operador Nacional do Sistema El�trico (ONS). O partido Democratas anunciou que pedir� a convoca��o do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB-AM), para prestar esclarecimentos em comiss�es da C�mara e do Senado sobre a falta de luz.
DEMANDA Na regi�o Sudeste/Centro-Oeste, a demanda m�xima esperada de consumo era de 46 mil MW, mas o verificado foi de 47.8 mil Mw (3,9% acima). Houve, tamb�m, consumo acima do esperado no Sul e no Nordeste, de 10,3% e 0,7%, respectivamente. Para piorar, o pico de demanda energ�tica dessa semana nas regi�es Sul, Sudeste e Centro-Oeste � esperado para quinta-feira, quando a demanda deve atingir 61,8 MW entre 20h e 21h.
O corte de energia n�o surpreende o f�sico e professor da Universidade de S�o Paulo (USP), Jos� Goldemberg, uma vez que, segundo ele, o sistema est� funcionando no limite. "Estamos assistindo a uma cr�nica da morte anunciada. Desde 2012, alertamos sobre a crise”, disse.
Em lugar de serem acionadas apenas em situa��es de emerg�ncia, as usinas t�rmicas se tornaram essenciais para a gera��o de energia no Brasil. "As decis�es equivocadas do governo trar�o impactos sociais graves", acrescentou Goldemberg. A opini�o � partilhada pelo presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires. "O governo preferiu abrir m�o de diversificar oferta", afirmou. (PRF, CP e DA)