
Bras�lia – Se a sa�da de Gra�a Foster da presid�ncia da Petrobras provocou euforia nos mercados financeiros, levando as a��es da petroleira a recuperarem perdas hist�ricas e o d�lar a recuar frente ao real, o efeito inverso ocorreu com a indica��o de Aldemir Bendine para controlar a maior empresa do pa�s. A escolha do ent�o presidente do Banco do Brasil para comandar a reestrutura��o da estatal, arrolada em den�ncias de corrup��o no �mbito da opera��o Lava-Jato, teve efeito devastador nas a��es tanto do banco quanto da petroleira.
Para piorar, uma onda de incertezas que rondou as principais bolsas de valores ontem fez as tens�es se elevarem tamb�m no Brasil. Resultado: o d�lar subiu 1,34% e encerrou o dia cotado a R$ 2,778 – o maior valor em mais de 10 anos. “Essa alta do c�mbio reafirma a fortaleza da economia norte-americana e a fragilidade da recupera��o brasileira. Ent�o, o mercado juntou a fome com a vontade de comer e passou a apostar mais no d�lar”, disparou o economista-chefe da Sul Am�rica Investimentos, Newton Rosa.
Diante do p�nico instalado entre investidores, as empresas consideradas mais suscet�veis a interfer�ncias do governo, como Petrobras e Banco do Brasil, foram as que mais sofreram com o mau humor generalizado. As perdas da estatal do petr�leo foram t�o grandes que, durante o preg�o, a BMF&Bovespa teve de negociar os pap�is da empresa em um leil�o especial, numa tentativa de reduzir a volatilidade dos neg�cios.
N�o escaparam nem mesmo companhias do ramo de educa��o, como Kroton e Est�cio Educacional, que sofrem com incertezas sobre um poss�vel corte de verbas p�blicas para programas de cr�dito estudantil em fun��o da pol�tica de austeridade fiscal. As a��es dessas duas empresas recuaram, respectivamente, 10,5% e 6,1%.
Os maus resultados levaram o �ndice Bovespa a recuar mais de 2% ao longo do dia. No fechamento do preg�o, por�m, as perdas reduziram, mas n�o a ponto de reverter o resultado negativo de 0,9%, aos 48.792 pontos. Na semana, o indicador que acompanha os pap�is das 100 maiores companhias da bolsa de S�o Paulo ainda encerrou com alta 4,2%, a maior varia��o semanal dede novembro do ano passado.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, o �ndice Dow Jones teve alta de 1,2%, seguido pelo comportamento do S&P 500, com expans�o de 1,03%. Apenas a bolsa de tecnologia Nasdac registrou queda, de 0,58%.
Futuro amea�ado Apesar do n�mero positivo, os analistas s�o c�ticos quanto ao desempenho do mercado acion�rio brasileiro. “A Petrobras � a maior empresa do pa�s e se ela tiver que reduzir investimentos, como � o que se desenha no horizonte, isso certamente vai impactar o crescimento da economia neste ano”, comentou Rosa. As apostas do mercado financeiro para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) encolhem semana a semana.
A �ltima medi��o do boletim Focus, preparado pelo Banco Central junto a 100 consultorias e bancos, ainda mostrava uma expectativa de estagna��o de 0,03% em 2015. Mas � poss�vel que esse n�mero seja revisado para baixo na pr�xima edi��o do boletim, que ser� divulgada na segunda-feira. Isso porque os principais bancos do pa�s, que s�o considerados como uma refer�ncia para o mercado, come�aram a cortar as previs�es para o PIB deste ano.
A mais recente aposta nesse sentido partiu do Bradesco, que revisou a proje��o para o desempenho do PIB de uma alta de 0,5% para uma queda de 0,5%. “A principal mudan�a em rela��o ao que esper�vamos anteriormente se deu nos investimentos. Projetamos uma queda de 3,0% em 2015, ap�s contra��o de aproximadamente 8% em 2014”, justificou o diretor do Departamento Econ�mico do banco, Octavio de Barros, em an�lise a clientes.
Mais um vez, a Petrobras est� no centro das preocupa��es. “As raz�es (dessa redu��o do PIB) s�o a forte queda de investimentos noticiada no setor de petr�leo, bem como os ainda baixos �ndices de confian�a do setor”, afirmou.
Oposi��o v� improviso
A escolha do presidente do Banco do Brasil (BB), Aldemir Bendine, para suceder a Gra�a Foster na presid�ncia da Petrobras foi criticada pela oposi��o. “N�o tendo conseguido algu�m de fora do governo que se dispusesse a ser s�cio do maior esc�ndalo de corrup��o da hist�ria contempor�nea do pa�s, restou � presidente (Dilma Rousseff) buscar, dentro do pr�prio governo, o novo presidente da Petrobras. Isso retrata � perfei��o o slogan ‘governo novo, ideias novas’”, ironizou o presidente nacional do PSDB, senador A�cio Neves (MG), nas redes sociais.
O l�der do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), afirmou que a queda nas a��es da empresa mostra que o executivo n�o tem capacidade para fazer mudan�as na estatal. “Ele s� est� onde est� pois sempre foi subordinado a quest�es pol�ticas. Os nomes que poderiam ajudar n�o aceitam a miss�o porque Dilma n�o d� autonomia para uma gest�o eficiente e transparente”, concluiu.
“Ele n�o tem conhecimento de um setor extremamente complexo e nem estofo para levar a Petrobras a um patamar de credibilidade que necessita neste momento”, avaliou o l�der do PPS na C�mara, Rubens Bueno (PR), classificando a escolha como “decepcionante”. “Para substituir Gra�a, a exig�ncia maior era escolher algu�m da total confian�a de Dilma. Ponto. A escolha foi feita”, acrescentou o presidente do DEM, senador Jos� Agripino (RN)
Resist�ncia interna
Bras�lia – A decis�o do Conselho de Administra��o da Petrobras de aprovar o nome de Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil, para comandar a estatal desagradou aos acionistas minorit�rios, a alguns conselheiros e tamb�m aos funcion�rios da companhia. Mauro Rodrigues da Cunha, membro do conselho, destacou que, embora tenha sido por maioria, a aprova��o n�o foi por unanimidade. Tr�s votaram contra.
“Assistimos a mais um epis�dio de desrespeito. Os conselheiros tomaram conhecimento do nome do novo presidente da companhia pela imprensa, antes de o assunto ser discutido. Eu gostaria de dizer em p�blico as verdades que pus em ata, mas correria o risco de sofrer retalia��es, como j� sofri no passado. O acionista controlador mais uma vez imp�e sua vontade sobre os interesses da Petrobras, ignorando os apelos de investidores de longo prazo”, ressaltou Cunha.
O representante dos funcion�rios da Petrobras no Conselho de Administra��o da empresa, Silvio Sinedino, afirmou, em nota, que votou contra a elei��o de Bendine. “Nosso voto � contr�rio aos nomes propostos, n�o pelo m�rito pessoal dos indicados, mas, como j� argumentamos, pela forma da indica��o, sem consulta aos trabalhadores e trabalhadoras da Petrobras”, disse.
Sinedino sugeriu que a diretoria fosse escolhida no mercado como Jo�o Elek, que assumiu a diretoria de Governan�a, Risco e Conformidade. J� o quadro de gerentes deveria ser eleito pelos empregados. “Propomos que a sele��o da alta ger�ncia passe a ser feita internamente, pelos pr�prios trabalhadores da companhia, em elei��o direta que indique a este Conselho de Administra��o uma lista com tr�s nomes para cada cargo”, afirmou Sinedino aos demais conselheiros da Petrobras.
Petroleiros A Federa��o �nica dos Petroleiros (FUP), representante dos empregados da Petrobras, tamb�m recebeu com resist�ncia a indica��o de Bendine para a presid�ncia da estatal. Jos� Maria Rangel, diretor da FUP e ex-conselheiro da Petrobras, diz que a fama de “dur�o” nas negocia��es com os funcion�rios do Banco do Brasil, quando presidia a institui��o, � “preocupante”.
Como fator positivo, Rangel considerou o fato de Bendine ser um homem de confian�a do Planalto, o que significa que a tend�ncia � ele continuar a defender os interesses de governo, como o controle dos pre�os dos combust�veis. A posi��o � exatamente contr�ria � do mercado financeiro, que interpreta a interven��o do Estado nas decis�es empresariais como um entrave � efici�ncia da Petrobras.
Para o diretor da FUP, dentro da estatal, a percep��o � de que a diretoria aprovada ontem representa a continuidade do modelo de administra��o anterior e que, assim, dificilmente haver� uma “limpeza” na companhia. Bendine “� mais do mesmo”, disse um gerente da Petrobras que n�o quis se identificar.