A infla��o mais pesada e a falta de planejamento financeiro est�o empurrando o brasileiro para o dinheiro mais caro oferecido pelos bancos: o rotativo do cart�o de cr�dito, que tem juro m�dio anual de 334%. Quase R$ 30 bilh�es por m�s foram emprestados nessa linha de cr�dito em janeiro, um crescimento de 8% ante o mesmo m�s de 2014. A alta � expressiva, j� que a concess�o de empr�stimos de longo prazo com recursos livres (ou seja, sem juros subsidiados pelo governo) caiu 4% no mesmo per�odo.
O consumidor entra no rotativo quando opta por pagar apenas o valor m�nimo da fatura do cart�o ou outra cifra insuficiente para abater a d�vida. Com juros estratosf�ricos ao ano, o rotativo acaba aprisionando boa parte dos consumidores: quatro em cada dez que recorrem a ele ficam inadimplentes - de longe o maior porcentual de calote do sistema financeiro.
Os dados sobre cart�o de cr�dito come�aram a ser divulgados em fevereiro pelo Banco Central (relativos a janeiro). Antes, s� pesquisas de institutos de defesa do consumidor e associa��es abordavam esse mercado.
"O cart�o de cr�dito pode ser muito bem utilizado, se a pessoa entender o que ele significa. Se eu gasto R$ 200 no cart�o no dia 10 do m�s, eu s� estou postergando o pagamento daquela despesa. No vencimento da fatura eu vou precisar ter esse dinheiro", diz Gabriela Vale, consultora financeira pessoal do Instituto Libratta.
Situa��o econ�mica
O Banco Central separa os dados sobre cart�o de cr�dito em tr�s modalidades: rotativo, � vista e parcelado. Apesar do crescimento, o volume do rotativo ainda representa metade do cr�dito � vista. "Mas mesmo que boa parte do dinheiro emprestado seja do cart�o � vista, ele � um cr�dito rotativo em potencial, porque h� a possibilidade de a fam�lia escolher pagar o m�nimo da fatura � vista e cair no rotativo", afirma Marianne Hanson, economista da Confedera��o Nacional do Com�rcio de Bens, Servi�os e Turismo (CNC).
Uma pesquisa da entidade mostra que o cart�o de cr�dito � a principal fonte de d�vidas para 70% das fam�lias brasileiras. Desde o in�cio da pesquisa, em 2010, o cart�o lidera o ranking. A situa��o da economia est� deixando o consumidor com o or�amento familiar mais restrito. Combust�veis e energia el�trica tiveram reajustes significativos em 2015. Consequ�ncia do aumento de impostos, a gasolina respondeu, sozinha, por 25% da infla��o de fevereiro. Com as contas mais apertadas, a inadimpl�ncia do cart�o de cr�dito e o uso do rotativo tendem a crescer - se n�o sobra dinheiro, as pessoas optam mais pelo pagamento m�nimo.
O recomendado � que o consumidor n�o fique muitos meses no rotativo do cart�o, pois a d�vida s� vai crescer e ficar mais dif�cil de pagar: a cada m�s os juros s�o cobrados tamb�m sobre os juros do m�s anterior. Se a falta de dinheiro persistir, o ideal � renegociar a d�vida no banco. Uma op��o � fazer um empr�stimo em outra linha com juros menores (como o consignado ou o cr�dito pessoal) e usar o valor para quitar o d�bito no rotativo. Depois, � hora de pagar o novo empr�stimo com mais prazo e juro menor.
O problema, no entanto, come�a antes. "A pessoa tem que admitir seus erros e n�o gastar mais do que ganha. O or�amento mensal da fam�lia tem que ser realista. � preciso um esfor�o financeiro", afirma Nicola Tingas, economista-chefe da Associa��o Nacional das Institui��es de Cr�dito, Financiamento e Investimento (Acrefi).
Calote
"Enquanto na maior parte das linhas de cr�dito a inadimpl�ncia est� est�vel, no rotativo ela subiu. E as taxas de juros crescem junto", diz o economista da Boa Vista SCPC, Flavio Calife. Em janeiro do ano passado, os calotes estavam em 31% - agora subiram para 39%. No mesmo per�odo o juro do rotativo ao ano passou de 309% para os atuais 334%. A situa��o de aperto no or�amento ainda � agravada pela alta da Selic (taxa de juros de refer�ncia). "Para um financiamento de curto prazo, como o rotativo, a alta da Selic tem impacto imediato no bolso do consumidor", diz Marianne, da CNC.