Este ano j� era: o Brasil est� entregue � estagfla��o (infla��o alta sem crescimento econ�mico). O m�ximo que o Banco Central (BC) espera salvar � 2016, como mostra o Relat�rio de Infla��o divulgado ontem. Para 2015, a expectativa � de queda de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), o que seria o pior resultado desde 1992. Os analistas ouvidos pelo pr�prio BC no Boletim Focus j� contam com um recuo ainda maior, de 0,83%, o desempenho mais p�fio em 25 anos. No ano passado, a redu��o do PIB esperada pelo BC ter� sido de 0,1%, de acordo com a nova previs�o. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) divulga hoje esse n�mero.
“Sabemos que a situa��o de 2015 � de transi��o. O ajuste que est� sendo feito � padr�o, importante, relevante e necess�rio. O objetivo � fortalecer os fundamentos da economia e nos prepararmos para um novo ciclo de crescimento sustent�vel”, disse ontem o diretor de Pol�tica Econ�mica do BC, Luiz Awazu, em conson�ncia com o discurso do presidente da institui��o, Alexandre Tombini, no dia anterior.
Na �rea de pre�os, a situa��o tamb�m � de deteriora��o. A infla��o ser� de 7,9% em 2015, estima o BC, bem acima do teto da meta, de 6,5%, estabelecida pelo Conselho Monet�rio Nacional (CMN). A previs�o anterior era de 6,1%. Para 2016, houve ligeira queda na proje��o: de 5% na vers�o anterior para 4,9% na atual. A autoridade monet�ria espera que o choque de pre�os se concentre neste ano.
Mais arrocho O mercado v� no relat�rio refor�os dos sinais sobre o aperto monet�rio. Ontem, Awazu, afirmou que “a pol�tica monet�ria est� e continuar� vigilante para assegurar a converg�ncia da infla��o � meta de 4,5% ao longo de 2016”. O diretor procurou deixar claro, no entanto, que embora exista um consenso sobre condi��es mais favor�veis para a infla��o medida em 2016, “isso n�o � suficiente”.
Para o diretor, a eleva��o de pre�os deste ano, principalmente no primeiro trimestre, � decorrente do alinhamento de itens como energia el�trica e combust�veis, aos demais. “O Banco Central tem dito que � preciso estar vigilante, porque a infla��o em 2015 est� alta e fortemente impactada pelos ajustes de pre�os administrados e externos”, afirmou Awazu.
A expectativa � de que seja poss�vel “trabalhar para circunscrever e impedir a transmiss�o para os pr�ximos anos”, segundo o diretor. “Temos dito isso para evitar a transmiss�o desses efeitos. Ou seja, queremos, por meio da vigil�ncia da pol�tica monet�ria, que esses choques n�o se transfiram para o horizonte”, insistiu.
A proje��o da autoridade monet�ria � de que o d�lar fique em R$ 3,15, o que nem todo mundo no mercado acredita. As cinco institui��es financeiras que mais acertam as proje��es no relat�rio Focus, compilado pelo BC com base em consultas a analistas toda semana, a moeda norte-americana encerrar� o ano cotada a R$ 3,25. Mas Awazu n�o acha que isso levar� a infla��o a um patamar ainda mais alto do que os 7,9%. “O d�lar tem um papel de transmiss�o do repasse, estamos analisando. O hist�rico passado n�o � um bom indicador para medir esse repasse nas condi��es atuais”.
Argumentos e alta dos juros
Ele discordou tamb�m da ideia de que a queda de 0,5% seja otimista e destacou que a redu��o de investimentos da Petrobras foi inclu�da no modelo do Banco Central. “(A opera��o Lava-jato) impacta obviamente no investimento, h� efeitos no investimento da cadeia produtiva”, reconheceu. Al�m disso, o diretor rebateu cr�ticas de que o BC n�o fez o suficiente para conter a infla��o nos �ltimos anos. “Nossa atua��o foi tempestiva, tecnicamente independente.”
Concentrada em transmitir a mensagem de que evitar� um prolongamento do atual processo inflacion�rio, a autoridade monet�ria se agarra a argumentos como o de que a queda do pre�o de commodities frear� o repasse da alta do d�lar ao custo de vida.
O mercado financeiro interpretou o relat�rio de infla��o como sinal de que o ciclo de alta da taxa b�sica de juros (Selic) deve continuar, ainda que esteja pr�ximo do fim. Os analistas est�o bastante divididos, mas prevalece o entendimento de que os aumentos terminem na reuni�o do Comit� de Pol�tica Monet�ria (Copom) marcada para o fim de abril, como apostam os dois maiores bancos privados do pa�s. Atualmente, a Selic est� em 12,75% ao ano.
Os argumentos do BC, na avalia��o do economista-chefe do banco Bradesco, Octavio de Barros, incluindo as baixas preocupa��es em rela��o ao repasse do c�mbio, sugerem que o ciclo de alta dos juros deve perder for�a. Ele aposta em aumento de 0,25 ponto percentual no pr�ximo encontro dos diretores da autoridade monet�ria. “N�o acreditamos que haver� espa�o para aumentar a taxa de juros na reuni�o de junho. At� l�, teremos evid�ncias adicionais da deteriora��o da atividade e do mercado de trabalho”, justificou.
Desemprego aumento
O mercado de trabalho continua a ruir. Em fevereiro, a taxa de desemprego apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) subiu para 5,9% – aumento de 0,6 ponto percentual em rela��o a janeiro. Esse � o segundo avan�o consecutivo e o maior resultado mensal desde junho de 2013, quando o indicador cravou 6%. Em dois meses, a desocupa��o subiu 1,6 ponto percentual, o n�vel mais elevado desde fevereiro de 2009, o auge da crise mundial.
Entre as regi�es metropolitanas estudadas pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), a taxa de desemprego em Belo Horizonte passou de 4,1%em janeiro para 4,9% em fevereiro. A taxa est� um ponto percentual da registrada no mesmo m�s de 2014. O IBGE, contudo, minimaliza os resultados negativos para o m�s. “� comum a ascens�o do desemprego entre janeiro e fevereiro depois de uma queda da desocupa��o em dezembro”, afirmou a Fl�via Vinhaes, economista da Coordena��o de Trabalho e Rendimento do �rg�o.
O aumento da procura por um posto de trabalho � apontado como um dos fatores para o crescimento do desemprego. A popula��o desocupada, composta pelas pessoas sem trabalhar, mas � procura de uma oportunidade cresceu 10,2% em fevereiro em rela��o a janeiro, e 14,11% frente a fevereiro de 2014, chegando a 1,4 milh�o de brasileiros.
Em contrapartida, a popula��o ocupada teve queda de 1% ante janeiro e de 0,9% em compara��o ao mesmo per�odo do ano anterior, atingindo 22,8. milh�es. “S�o n�meros que chamam a aten��o. N�o sabemos o que vai acontecer nos pr�ximos meses, mas � poss�vel que esse cen�rio ceda”, avaliou Fl�via.
Contudo, para especialistas, a tend�ncia � que o desemprego mantenha o ritmo de crescimento ao longo do ano devido ao desaquecimento econ�mico. Carlos Alberto Ramos, professor de economia da Universidade de Bras�lia (UnB), acredita que a taxa de desemprego m�dia em 2015 pode chegar a 7%, o que seria o maior resultado anual desde 2009.
A menor gera��o de postos de trabalho e o aumento do n�mero de pessoas em busca de emprego acabou com o ciclo de alta do rendimento m�dio real da popula��o empregada. Descontada a infla��o, o indicador apresentou recuo de 1,4% em rela��o a janeiro, e queda de 0,5% na compara��o com fevereiro do ano anterior, desabando para R$ 2.163,20.