
Pode-se dizer que se a economia brasileira fosse uma pessoa, seria no m�nimo conhecida pelo seu humor inst�vel. Como se de tempos em tempos, alternasse da euforia � tristeza, do riso ao choro. Mas como ajustar os ponteiros e domar a turbul�ncia que aparece n�o s� no momento de fechar as contas, mas no cen�rio pol�tico, restaurar a confian�a do empres�rio, preservar a renda da popula��o? Sem bola de cristal, os empres�rios mostram as armas que v�o usar para enfrentar a tormenta. A guerra envolve enxugamento de gastos, fim do desperd�cio, qualidade como princ�pio b�sico e criatividade para enxergar novos fil�es de consumo.
De um outro �ngulo, Jo�o Camilo Penna, economista, ex-ministro da Ind�stria e Com�rcio e ex-presidente de empresas como Cemig, Eletrobr�s e Furnas, diz o que o atual momento da economia � complexo, mas se fosse resumir, ele diria que o n�cleo da crise est� nas contas p�blicas. Se pudesse um golpe fatal, a mira de sua artilharia seria “o d�ficit do or�amento.”
Camilo Penna lembra que, bem diferente dos 7,6% de crescimento alcan�ado em 2010 o pa�s amarga agora a menor expans�o do mundo entre os 42 pa�ses avaliados pelo Fundo Monet�rio Internacional (FMI). Ostenta, tamb�m, um lugar desconfort�vel, ao liderar o ranking da infla��o no mundo, depois da Venezuela, Argentina e Egito. Para o especialista, a trag�dia da mudan�a de humor da economia pode ser atribu�da � surrada pol�tica de aumentar a taxa de juros, para conter a infla��o, impedindo a economia de crescer.
“O n�cleo dessa crise est� no d�ficit fiscal, que � enorme em rela��o ao PIB (o Produto Interno Bruto, que retrata o conjunto da produ��o de bens e servi�os do pa�s). No momento, temos a mais alta taxa de juros do mundo e uma infla��o que n�o cede. Essa � a trag�dia brasileira”, observa Camilo Penna.
O risco do ajuste, segundo ele, � substituir as medidas pela eleva��o da carga tribut�ria, que j� atinge 37% do PIB. Indagado se essa crise � pior ou mais branda do que as do passado, o especialista avalia que comparar presente e passado � algo imposs�vel: “Cada �poca tem sua dor. O que � preciso agora � restaurar a confian�a”, afirma.
MATER DEI
>> Olho grande sobre os custos
A Rede Mater Dei de Sa�de, h� 35 anos no mercado, passou por altos e baixos da economia, enfrentou tempos de hiperinfla��o e muitos planos econ�micos. A empresa sentiu o rev�s da economia, quando na d�cada de 90 houve confisco da poupan�a e de aplica��es financeiras no governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello. “Aquele foi um momento muito cr�tico para todo o pa�s”, lembra Henrique Salvador, presidente da Rede Mater Dei de Sa�de. Recentemente, na onda favor�vel da economia, o hospital acompanhou o crescimento dos conv�nios m�dicos, que ganharam envergadura e hoje somam 52 milh�es de usu�rios, em capitais como Belo Horizonte, onde j� atendem a mais de 50% da popula��o. Demanda que exigiu investimentos da rede hospitalar. Em meio � nova reviravolta, no momento o hospital, que tem duas unidades em Belo Horizonte, aproveita o per�odo de menor crescimento do PIB para realizar ajustes internos, renegociar com fornecedores, reorganizar equipes e planeja, ainda, a expans�o do grupo para a Grande BH. Segundo Henrique Salvador, para crescer e enfrentar momentos de baixa da atividade ou mesmo recess�o e continuar firme no neg�cio as empresas devem ter sempre um olho bem grande e atento aos custos e ao desperd�cio, assim como fazer investimento massivo em qualidade. “Investimentos altos em infraestrutura e em capacita��o de pessoas, a aten��o ao mercado e a aproxima��o delas em um trabalho humanizado nos d�o a tranquilidade de ser objeto de escolha da popula��o”, diz o m�dico. Em fase de projetos, o Mater Dei deve definir nos pr�ximos meses quando dar� in�cio � constru��o de um hospital em Betim, na regi�o metropolitana da capital mineira. Segundo o presidente da empresa, a fidelidade e a filosofia de princ�pios que norteiam a rede tamb�m s�o de grande valia naqueles momentos em que o mercado est� longe de viver a euforia. “A economia no Brasil lembra um eletrocardiograma, mas a nossa miss�o � prestar servi�o. O neg�cio � maior que a crise”, comenta.
CEDRO T�XTIL l
>> Do porteiro ao presidente
Mantendo 3,6 mil empregos diretos em suas quatro unidades fabris, a mineira Cedro T�xtil, com seus 142 anos, est� entre as mais experientes do estado. “Costumamos brincar que s� n�o acompanhamos o descobrimento e a independ�ncia do Brasil”, diz o presidente da companhia, Marco Ant�nio Branquinho. A empresa enfrentou nos �ltimos 100 anos desafios incont�veis, come�ando pela quebra da bolsa de Nova York em 1929, passando pela primeira e segunda guerras mundiais, o milagre econ�mico brasileiro, a crise do petr�leo na d�cada de 70, at� os planos econ�micos e por fim, a desvaloriza��o do c�mbio. Marco Ant�nio Branquinho concorda que cada crise � �nica e tem suas particularidades e dimens�o. “O que percebo de diferente nesse momento � que essa � uma crise com fatores econ�micos, pol�ticos e sociais juntos.” Apesar de considerar grave o momento de baixa atividade econ�mica, Branquinho diz que a empresa est� otimista e espera ter em 2015 resultados melhores que os alcan�ados ano passado. “A ind�stria continua sendo necess�ria, a economia n�o pode parar e o pa�s continua a existir.” A chave da longevidade para o executivo est� na gest�o eficiente e nos investimentos s�lidos. “A preocupa��o com custos e desperd�cios vai do porteiro ao presidente”, afirma. Outra arma importante � a aten��o focada para quase adivinhar os desejos do mercado. Nos �ltimos tr�s anos, a Cedro T�xtil deu uma guinada e passou a produzir 70% do seu denim (tecido de algod�o) na linha premium e 30% no segmento tradicional invertendo a ordem da produ��o em 36 meses. “Esse � um setor menos atacado pela importa��o”, observa o executivo. A empresa tamb�m passou a investir em tecidos especiais para uniformes, criando nicho de mercado. Ainda aguardando os efeitos da alta do c�mbio, Branquinho acredita que a valoriza��o do real ser� um ponto positivo em 2015.