
A poupan�a dom�stica re�ne o que as fam�lias, empresas, institui��es e o governo de um pa�s conseguem guardar em diversas aplica��es. Esses recursos formam os fundos que financiam as pessoas e as empresas, os investimentos, essenciais para que o pa�s possa crescer. De janeiro a abril, a caderneta de poupan�a, aplica��o preferida do brasileiro, e um bom term�metro para entender o comportamento em momentos de crise, perdeu cerca de R$ 29 bilh�es, e, segundo a Associa��o Brasileira das Entidades de Cr�dito Imobili�rio e Poupan�a (Abecip), o fechamento da conta em 2015 pode terminar negativo em R$ 50 bilh�es.
“Neste momento, a poupan�a est� sendo consumida para fazer frente a compromissos familiares e empresariais”, diz Eduardo Nery, especialista em desenvolvimento sustent�vel e diretor da Energy Choice. Segundo ele, em menor escala, a poupan�a tamb�m sofre a concorr�ncia de t�tulos p�blicos, valorizados com as taxas de juros em alta. “Essa � a parte boa, porque s�o investimentos de m�dio e longo prazo, que contribuem para a forma��o de poupan�a interna.”
Consenso entre especialistas, a taxa de poupan�a dom�stica do Brasil precisa voltar a crescer. Com uma m�dia pr�xima a 14% do Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil est� abaixo da m�dia mundial de poupan�a dom�stica, apurada pela Organiza��o das Na��es Unidas (ONU), de 25%, e tamb�m dos pa�ses desenvolvidos, onde a poupan�a se situa entre 27% e 28% do PIB. Em emergentes asi�ticos, como na China, esse percentual pode superar 40%. “Apesar de na China os sal�rios serem baixos, a popula��o gasta muito pouco.”
Inclu�da na menor fatia da popula��o, formada por poupadores convictos, a cirurgi�-dentista Helene Louise Costa, de 28 anos, prefere se precaver. Antes mesmo de se formar na universidade, ela abriu uma caderneta de poupan�a que completa 10 anos. Disciplinada, Helene faz aportes mensais e pretende poupar por pelo menos mais cinco anos. Sua meta � comprar a casa pr�pria. “A rentabilidade da caderneta � baixa. Existem aplica��es mais atrativas, mas a poupan�a � mais simples e pr�tica”, afirma. Helene tem d�vidas se o seu recurso ajuda o pa�s a crescer ou, se para o Brasil, o melhor seria que todo o dinheiro fosse investido na compra de bens.
Diferentemente do que ocorre na China, no Brasil, tanto o governo quanto as fam�lias gastaram muito nos �ltimos anos, sustentando o crescimento pela via do consumo, mas pouparam pouco, o que, respondendo � d�vida de Helene, compromete o avan�o do pa�s. Al�m da educa��o financeira, no Brasil existe tamb�m uma quest�o pr�tica nos fluxos das fam�lias. S�nia Silva tem uma conta de poupan�a aberta, sem dinheiro algum. “Em 2010, cheguei a juntar R$ 2 mil para comprar m�veis.” Agora, ela diz que, mais do que fazer compras, pretende voltar a poupar para construir uma pequena casa na regi�o de onde veio.
MOTIVOS
“No Brasil, os sal�rios s�o baixos e os custos, muito altos. Por que a energia el�trica aqui � a terceira mais cara do mundo, se a fonte � hidr�ulica? Os impostos respondem por 42% da tarifa”, aponta o consultor, Eduardo Nery. Para ele, o caminho para aumentar a poupan�a dom�stica � expandir a capacidade produtiva do pa�s, reduzindo custos e burocracia. “O desemprego tamb�m � um outro fator que pressiona a poupan�a, j� que, ao ser demitido, o trabalhador saca o seu Fundo de Garantia do Tempo de Servi�o (FGTS), recurso que financia o Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC)”, diz Nery.
Tamb�m pesa no baixo percentual de poupan�a no Brasil, a demanda reprimida. “O aumento da renda dispon�vel das fam�lias teve concentra��o na baixa renda, o que contribuiu para o crescimento do pa�s pelo consumo”, aponta o economista representante de Minas do Conselho Federal de Economia (Cofecon), R�ridan Duarte. Segundo ele, essa � uma tend�ncia natural quando h� aumento da renda. Al�m disso, ele ressalta que o brasileiro, diferentemente de asi�ticos, n�o tem desenvolvido o h�bito da poupan�a.
PESQUISA
Estudo realizado pela Confedera��o Nacional da Ind�stria (CNI) em parceria com o Ibope revela que apenas tr�s a cada 10 brasileiros poupam. A parcela cai para 17% quando considerada a renda familiar at� um sal�rio m�nimo e sobe para 66% entre aqueles com renda superior a 10 m�nimos.
BASE PARA INVESTIMENTOS
A caderneta de poupan�a brasileira � a base para projetos de curto, m�dio e longo prazo da popula��o, e principal fonte de recursos para financiamento da habita��o. A poupan�a dom�stica financia os projetos de infraestrutura e as empresas, que geram emprego e renda. Sem os recursos, � como se o pa�s ficasse preso a uma armadilha, sem sair do lugar.
Com baixo percentual de poupan�a, em momentos de crise, resta ao pa�s recorrer a recursos externos. “� o que est� acontecendo. O Brasil fechou acordo com a China, para que o pa�s asi�tico, que tem alta taxa de poupan�a, invista no Brasil”, diz R�ridan Duarte, economista representante de Minas do Cofecon, referindo-se a 35 acordos firmados entre o governo brasileiro e a China, que totalizam mais de US$ 53 bilh�es (cerca de R$ 161 bilh�es) em investimentos.
Segundo o economista, a poupan�a deve ter a medida certa. Para ele, o percentual brasileiro deveria engordar, aproximando-se a 20% do Produto Interno Bruto (PIB). “O percentual brasileiro precisa crescer, j� o Jap�o, tradicionalmente conhecido por ter alta taxa de poupan�a, enfrenta problemas em sua economia, como a defla��o.” Duarte tamb�m ressalta que, apesar de no pa�s a taxa de poupan�a ser baixa, o brasileiro poupa tamb�m com outros meios que n�o entram diretamente no c�lculo da reserva, por exemplo, comprando a casa pr�pria.
Voc� tem poupan�a ou qualquer tipo de aplica��o financeira?
Francisca Barbosa, 57 anos, comerciante
“N�o tenho nenhum tipo de aplica��o financeira. Nem caderneta de poupan�a. O que ganho hoje � para pagar a conta de amanh�. Est� tudo muito caro no Brasil. Os pre�os est�o subindo muito. Minha conta de luz, por exemplo, veio R$ 90 num m�s e R$ 120 em outro. N�o me sobra recurso.”
Leda Soares Val, 70 anos, artista
“Deposito todo m�s nem que seja um pouco na
conta-poupan�a. Se a gente n�o poupar dinheiro, ele voa, porque est� tudo muito caro. O recomend�vel � a pessoa gastar menos do que ganha, para n�o ficar inadimplente.”
Lu�s Gustavo Amado, 26 anos, repositor
“Fiz uma aplica��o financeira com objetivo de retirar o dinheiro, num prazo de cinco anos, para construir minha casa pr�pria. Temos que pensar no futuro. Pago um pouco por m�s e, no fim do contrato, vou retirar um valor que considero importante. Vale a pena.”