
A retra��o da economia brasileira transformou em fardo para um n�mero maior de aposentados a luta di�ria pelo sustento da fam�lia. O aumento da expectativa de vida – hoje de 74,9 anos – n�o se traduziu na esperada tranquilidade depois da aposentadoria, mas diferentemente, imp�s desafios para a sociedade. Com a crise econ�mica e o aumento do desemprego entre a popula��o mais jovem, cresce o universo de idosos que se veem obrigados a dar abrigo a parentes que foram dispensados do mercado formal ou n�o t�m qualifica��o profissional para conseguir trabalho melhor remunerado.
Em boa parte das fam�lias, aqueles que deveriam receber os cuidados passam a sustentar at� os bisnetos, com os benef�cios que recebem da Previd�ncia Social. S�o comuns os casos em que aqueles com mais de 60 anos t�m de fazer bicos para complementar a renda e bancar as despesas de uma casa cheia. � a situa��o de Walter Giordani da Costa, que se aposentou com 47 anos, mas teve de continuar trabalhando para manter o padr�o de vida dele, da esposa e de tr�s filhos.Aos 52 anos, a renda de R$ 2 mil que recebe do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) n�o cobre nem a metade dos gastos da casa. Ele diz que as despsesas giram em torno de R$ 6 mil, contando as necessidades de todos os membros da fam�lia. “Eu penso em diminuir o ritmo de trabalho, mas isso ainda � imposs�vel. Estou tentando criar um patrim�nio que possa me dar uma renda a mais daqui a uns anos porque se n�o for assim, vou ter que trabalhar sempre”, afirma.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) mostram que mais de17 milh�es de fam�lias no Brasil t�m um idoso como provedor. Significa dizer que 24,89% do lares, ou quase um quarto, t�m como respons�vel pelo sustento uma pessoa com mais de 60 anos, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lio (Pnad). E o contingente de pessoas da terceira idade que permanece no mercado de trabalho n�o para de crescer.
No primeiro trimestre de 2014, eles representavam 6 milh�es de trabalhadores. No mesmo per�odo deste ano, 6,5 milh�es de idosos estavam no mercado, dos quais 137 mil desocupados, mas em busca de uma vaga. Levantamento da Previd�ncia Social aponta que pelo menos 480 mil aposentados se mant�m ativos e ainda fazem contribui��es ao INSS. Especialistas, entretanto, avaliam que o n�mero deve ser bem maior, j� que muitos est�o na informalidade. E com o aumento do desemprego, a tend�ncia � que as pessoas busquem abrigo na casa de pais e av�s.
Incoer�ncias
O presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR), Alexandre Kalache, avalia que o sistema de prote��o social brasileiro tem algumas contradi��es. Se por um lado, o governo criou uma Previd�ncia Social universal que garante renda m�nima para todos os trabalhadores que contribu�ram ou n�o para o INSS, o valor do benef�cio � insuficiente para bancar as despesas, que s� aumentam ap�s a velhice. Conforme ele, o custo de vida no pa�s � muito alto e a maioria da popula��o � penalizada porque tem uma renda baixa.
A aposentada Magda Santos Camargos, de 57, � exemplo dessa situa��o. Depois de se aposentar ela n�o pode parou de trabalhar. Hoje, como atendente de guich� no Departamento de Tr�nsito de Minas Gerais (Detran-MG), afirma que a segunda renda � fundamental para manter o padr�o de vida da fam�lia. Aposentada por tempo de contribui��o, ela observa que a renda do INSS apenas supre as despesas com o plano de sa�de. “Meu marido tamb�m � aposentado, mas para investirmos na educa��o dos nossos dois filhos preciso continuar trabalhando”, afirma.
Para Alexandre Kalache, o pa�s passa por um momento de transi��o demogr�fica acelerada e os problemas estruturais continuar�o sem solu��o. “O Brasil envelheceu antes de enriquecer. Temos um sistema de educa��o p�blico de p�ssima qualidade, que forma legi�es de jovens sem preparo. A sa�de tamb�m � prec�ria e temos cidades que n�o est�o preparadas para atender as necessidades dos idosos”, resumiu.
A pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada (Ipea) Ana Am�lia Camarano explica que em momentos de crise econ�mica a fam�lia � chamada a cuidar de filhos, netos e bisnetos. Como 80% da popula��o de idosos recebe um benef�cio da Previd�ncia Social e tem renda garantida, s�o os benefici�rios que passam a prover o sustento de muitas gera��es, apesar de o valor do benef�cio, muitas vezes, ser insuficiente para custear todas as despesas de uma casa. “De fato, a capacidade de poupan�a do brasileiro � baixa. Mas a renda � baixa. N�o podemos esquecer que mais de 30% das pessoas n�o contribuem para o INSS e isso ser� um problema nos pr�ximos anos”, ressaltou.
RESPONSABILIDADE
17 milh�es
� o n�mero de fam�lias que t�m um idoso como provedor das necessidades no Brasil
6,5 milh�es
S�o os idosos que estavam trabalhando ou buscando emprego de janeiro a mar�o
480 mil
� o universo de aposentados que ainda contribuem para o INSS