Rio, 20 - A trag�dia ambiental em Mariana revela o paradoxo vivido por Minas Gerais. Ao mesmo tempo em que precisa combater os riscos da minera��o, o Estado tem uma economia fortemente atrelada a essa atividade: 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) v�m da ind�stria extrativa mineral, segundo o �ltimo dado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), referente a 2013. A presen�a da minera��o � ostensiva, marcada na paisagem, no nome e na hist�ria. O desbravamento na regi�o que hoje compreende o Estado de Minas Gerais se iniciou no s�culo 16, com a busca dos bandeirantes por ouro e pedras preciosas.
"Mariana � altamente dependente da minera��o. Sou a favor da suspens�o das atividades (da Samarco) por prazo determinado, mas n�o da paralisa��o definitiva da mina", admitiu o prefeito da cidade, Duarte J�nior, apenas cinco dias ap�s o rompimento da barragem da Samarco, sociedade entre Vale e BHP Billiton, que soterrou o munic�pio de lama e deixou onze mortos e oito desaparecidos. A explica��o � simples: 80% da arrecada��o do munic�pio v�m da atividade mineradora.
Mesmo em um cen�rio de queda brusca do pre�o do min�rio de ferro, o �ltimo levantamento do Instituto Brasileiro de Minera��o (Ibram), divulgado em outubro, prev� que as mineradoras investir�o US$ 53,6 bilh�es no pa�s no per�odo 2014-2018. � um recuo de 15,7% em rela��o ao estudo anterior, mas ainda um montante expressivo. O Estado de Minas concentrar� a maior fatia (41,8%), com R$ 22,4 bilh�es.
O insumo tamb�m tem peso relevante na pauta de exporta��es brasileiras. Neste ano at� outubro, foram US$ 11,9 bilh�es em embarques de min�rio de ferro, 7,4% do total de vendas brasileiras para o exterior.
Hoje, 72 empresas t�m concess�es de lavra s� de min�rio de ferro em Minas, segundo o Departamento Nacional de Produ��o Mineral (DNPM). O grupo inclui Vale, sua controlada Samarco, Anglo American, CSN e Usiminas. O Estado � campe�o em requerimentos de pesquisa mineral e registros de licen�a.
Ao mesmo tempo em que � um fator de dinamismo, a forte presen�a da minera��o no Estado significa lidar com os efeitos dos altos e baixos da commodity na economia. O ciclo de baixa dos pre�os do min�rio de ferro - a cota��o saiu de US$ 134 a tonelada no in�cio de 2014 para US$ 45,1 a tonelada na �ltima quinta-feira - se refletiu na paralisa��o ou no cancelamento de projetos. Sider�rgicas que apostaram na verticaliza��o na �poca do "boom" do min�rio congelaram as expans�es da produ��o.
A Usiminas chegou a reconhecer uma redu��o de R$ 985 milh�es no valor dos seus direitos miner�rios. A empresa, assim como a ArcelorMittal, comprou ativos na Serra Azul, regi�o de minas menores no Quadril�tero Ferr�fero, durante o ciclo de alta. Agora, com pre�os abaixo de US$ 50 e um min�rio que exige mais tecnologia para ser explorado, n�o tem como avan�ar. A MMX, de Eike Batista, entrou em recupera��o judicial. Com minas em Morro do Pilar, a Manabi optou por focar em atividades de log�stica.
Esse ciclo de baixa amea�a postos de trabalho e a arrecada��o de royalties da minera��o. De acordo com o DNPM, o setor de extra��o de min�rio de ferro perdeu 2.097 postos de trabalho em Minas no primeiro semestre.
A receita com a Compensa��o Financeira pela Explora��o de Recursos Minerais (CFEM) tamb�m recua. Em Minas Gerais, Estado que det�m a maior parte da arrecada��o do royalty da minera��o (44,8%), o valor chegou a R$ 800,7 milh�es no ano passado, queda de 33,5% ante 2013. Neste ano at� novembro, foram apenas R$ 534 milh�es. Dos recursos da CFEM, 12% v�o para a Uni�o, 23% para o Estado e 65% para o munic�pio produtor.
O presidente da Associa��o dos Munic�pios Mineradores de Minas Gerais (Amig) e prefeito de Congonhas, Jos� Cordeiro de Freitas, estima que 20 cidades mineiras dependam exclusivamente da minera��o.
Muitas j� vinham enfrentando uma situa��o delicada por conta da queda dos pre�os do min�rio de ferro. "Na minha cidade, o Or�amento total previsto (para 2015) era de R$ 430 milh�es e deve chegar 300 milh�es. � uma queda de 30%", diz. Ele observa que torn�-las menos dependentes da atividade mineradora depende tamb�m da iniciativa privada.
Diversifica��o
O secret�rio de Desenvolvimento Econ�mico de Minas, Altamir R�so, diz que o mau momento da minera��o aumentou a preocupa��o do governo em diversificar a pauta, induzindo investimentos em setores como o de alta tecnologia, log�stico, aeroespacial e sucroalcooleiro. "Estamos mapeando 17 territ�rios para ter um plano mais consistente para incentivar esse movimento", afirma. "N�o podemos ter o Estado economicamente t�o dependente de minera��o e metalurgia." Ele lembra que Minas tem localiza��o privilegiada, f�bricas como a da Fiat, no setor automotivo, e � o maior produtor de caf� do Pa�s.
R�so afirma que a minera��o continuar� tendo um papel importante na economia mineira, mas que j� est� consolidada. Assim, o governo pode voltar suas for�as para a atra��o de outros setores industriais. Apesar de reconhecer a necessidade de induzir novas frentes, ele admite que o governo de Fernando Pimentel (PT) n�o tem uma meta nesse sentido. "Passamos por um momento de grande instabilidade econ�mica. Esse ambiente nos dificulta tra�ar metas", diz.
"N�o podemos deixar que o ciclo econ�mico fique dependente de um �nico produto. Quando o min�rio de ferro, que � commodity com cota��o internacional, tem pre�os em ascens�o, a economia acompanha. No momento atual, quando o pre�o min�rio encontra o seu vale, a economia tamb�m cai. S� que a economia n�o pode ficar prisioneira de pre�o de um �nico produto", pondera o economista Pedro Paulo Pettersen, vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG).
Na tentativa de reduzir essa depend�ncia econ�mica, diz Pettersen, Minas deu seguimento a um processo de industrializa��o ao longo do s�culo 20, mas segundo ele o projeto perdeu for�a. "De fato (a minera��o) � uma voca��o, mas isso n�o quer dizer que n�o se possa diversificar a economia, repensar o papel da minera��o. Ela n�o deveria ser determinante", diz.
