
A depend�ncia de um grande neg�cio que move a economia de pequenas cidades n�o � uma simples coincid�ncia nesses lugares. H� mais de duas dezenas de munic�pios mineiros que se desenvolveram � sombra de uma minera��o, uma ind�stria de porte ou uma usina hidrel�trica. � o caso de Nova Lima, Ouro Preto, Catas Altas, Tapira, Brumadinho e a conhecida Confins, sede do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, na Grande Belo Horizonte. S� agora, num momento generalizado de crise, parte delas se d� conta dos problemas decorrentes desse arriscado progresso e das eventuais vantagens de abrigar o investimento. � o que vai mostrar a s�rie de reportagens que o Estado de Minas publica de hoje a quarta-feira.
A pedido do EM, a economista Maria Aparecida Sales Souza Santos, da Funda��o Jo�o Pinheiro, identificou 26 munic�pios pequenos com alta depend�ncia de uma �nica e grande empresa ou atividade, que, em comum, bancam mais da metade dos PIBs municipais (veja o quadro). Outro estudo, destacado pelo professor de economia da Una Paulo Roberto Bretas, indica que esse n�mero de munic�pios chega perto de uma centena.
A hist�rica Mariana � um exemplo dos riscos que um �nico empreendimento pode representar ao fechar as portas, ainda que temporariamente, como ocorreu na Samarco Minera��o. O rompimento da barragem de rejeitos de min�rio de ferro de Fund�o deixou 17 mortos no maior desastre ambiental do pa�s e uma s�rie de incertezas sobre o futuro da economia do munic�pio.
“Nosso presente nos obrigou a pensar no futuro. O desastre ambiental foi um tapa de luvas. Est� na hora de encontrar sa�das. N�o d� para ter a economia dependente de uma �nica receita”, admite o prefeito de Mariana, Duarte J�nior. Ele ressalta que 89% da arrecada��o municipal v�m da minera��o. “A situa��o de Mariana � de desespero e a diversifica��o se tornou a nossa busca. Antes do desastre, receb�amos no Sine (posto do Sistema Nacional de Emprego) de 200 a 300 pedidos de emprego por m�s, agora o n�mero chega a 1,6 mil.”
S�o Gon�alo do Rio Abaixo, onde a mineradora Vale, que divide com a multinacional BHP Billiton o controle da Samarco, sustenta as receitas do munic�pio, sente efeitos semelhantes. Desde que a baixa na demanda mundial derrubou o pre�o do ferro e reduziu o ritmo de investimentos da companhia, a popula��o do pequeno munic�pio se ressente do baque e muitos de seus moradores, agora, acompanham dia ap�s dia a cota��o das chamadas commodities (produtos agr�colas e minerais cotados no mercado internacional).
Em 2006, a mineradora se instalou no munic�pio, iniciando a explora��o da mina de Brucutu, entre as maiores operadas pelo grupo. A mina provocou uma explos�o de desenvolvimento no munic�pio e em seu entorno. A arrecada��o da ent�o pacata cidade de 10 mil habitantes cresceu de R$ 20 milh�es em 2005 para ao redor de R$ 160 milh�es em 2015. � dif�cil encontrar moradores que n�o sejam ligados ou tenham familiares trabalhando para a Vale ou as empresas prestadoras de servi�os � companhia.
PROSPERIDADE E TURBUL�NCIA Em S�o Gon�alo do Rio Abaixo, entre oito empresas instaladas na cidade para prestar servi�os � mineradora Vale, cinco encerraram suas atividades e partiram, abandonando pelo caminho investimentos em infraestrutura e deixando desempregados, como o auxiliar em atividades de fauna e flora Ronildo Santos, 37 anos. H� quatro anos e meio, Ronildo trabalhava para a Bioma, empresa ambiental prestadora de servi�os para a mineradora. Desde o fim de 2015, ele est� � procura de um novo emprego, sobrevivendo de pequenos bicos.
A mulher de Ronildo, Juliana Navarro, 28 anos, tinha a carteira assinada na cozinha de um dos maiores restaurantes da cidade e tamb�m foi dispensada depois que o movimento das terceirizadas caiu. “As aulas j� come�aram, mas ainda n�o comprei o material escolar. Est� dif�cil garantir at� a cesta b�sica”, confessa Juliana. “A firma foi embora de uma hora para outra. Agora fa�o o que aparece, capino, ro�o pastos”, conta Ronildo.
Jos� de Macedo, 68 anos, foi pego pela crise econ�mica quando planejava inaugurar uma marmoraria e dep�sito para constru��o civil, com investimento inicial de R$ 100 mil, em S�o Gon�alo do Rio Abaixo. Ele participou de processo de concorr�ncia da prefeitura que lhe deu o direito a explorar o galp�o p�blico por 35 anos. As obras atrasaram e a agora a demanda da cidade ligada a constru��o civil foi reduzida pela crise. Com isso, Jos� Macedo precisou adiar seus planos. “Todo neg�cio deve ser planejado. Queria estar funcionando h� dois anos. Agora, s� inauguro a partir do segundo semestre de 2017.”
Jeceaba � o outro t�pico caso de um munic�pio agr�cola que se agarrou � promessa de desenvolvimento, ao ser escolhido pelo grupo franc�s Vallourec para sediar uma grande usina de tubos de a�o or�ada em US$ 1,6 bilh�o. O tempo de bonan�a durante a constru��o da f�brica e os dois primeiros anos de opera��o multiplicaram as receitas municipais e animaram moradores a bancar uma infraestrutura que a cidade jamais havia imaginado existir.
A alegria durou at� que a crise nas ind�strias sider�rgicas e empresas de �leo e g�s bateu forte. A companhia paralisou suas atividades por dois meses no ano passado, e ainda funciona com um ter�o da sua capacidade de produzir. Myrene e o marido, Elvis, que haviam trabalhado na usina, se animaram a adquirir a atual Agropecu�ria Jeceaba, mas, em 2015, viram cair as vendas em pelo menos 30%. “Quando a f�brica parou, houve apreens�o e agora o com�rcio come�a a se recuperar, mas precisamos abrir o leque para vender outros produtos”, afirma Myrene. A loja investiu em artigos de pet shop e acess�rios para piscinas, al�m de passar a vender roupas e acess�rios da moda country.