
Nos �ltimos seis meses, o empres�rio Alejandro Perez tem enfrentado aquilo que costuma ser um drama para qualquer patr�o: a licen�a m�dica dos funcion�rios. Especializado no ramo de servi�os gerais, cabe a ele disponibilizar porteiros, jardineiros, vigilantes e faxineiras, entre outros profissionais, para diversas empresas. Mas desde o segundo semestre de 2015, com a prolifera��o do Aedes aegypti – que se agrava a cada dia –, ele j� contabiliza 7,27% do quadro de pessoal com atestado. Resultado: gastos extras com a contrata��o de m�o de obra �s pressas para substituir seus empregados. “Sempre temos reservas para cobrir qualquer tipo de falta, mas o n�mero de licen�as est� superando o que temos. As faltas normais triplicaram nos �ltimos tempos por causa da dengue”, diz Perez.
E as duas empresas n�o est�o sozinhas: estudo realizado pela Gesto Sa�de e Tecnologia – especializada em gerenciamento de sa�de corporativa – revela que, em 2015, 2,5% dos funcion�rios de grandes empresas foram afastados durante cinco a sete dias em m�dia por causa da dengue. A expectativa para 2016 � de que at� 4% dos trabalhadores ficar�o em casa durante alguns dias em raz�o da doen�a provocada pelo Aedes aegypti. De acordo com o mesmo levantamento, a dengue foi a quinta maior causa de licen�as m�dicas nas empresas – atr�s apenas de causas n�o informadas pelo m�dico, dor lombar, diarreia e gastroenterite e dor articular. No comparativo com 2014, a dengue foi a 42ª raz�o para afastamentos.
Para este ano, a entidade aposta que a dengue dever� ficar, no m�nimo, na mesma quinta coloca��o de 2015, quando foram confirmados mais de 1,59 milh�o de casos da doen�a em todo o Brasil. “Ano passado, o n�mero de infectados pela dengue foi bem alto e neste ano estamos no mesmo ritmo. A epidemia est� t�o grave quanto em 2015”, alerta a gerente em intelig�ncia em sa�de da Gesto, Francine Leite. Dados do Minist�rio da Sa�de at� janeiro deste ano mostram que j� foram confirmados mais de 73 mil casos de dengue em todo o Brasil – mais da metade na Regi�o Sudeste e 21% em S�o Paulo. No comparativo do mesmo per�odo do ano passado, j� houve crescimento de 16,5%.
O levantamento realizado pela Gesto Sa�de e Tecnologia mostra que no plano financeiro, o gasto arcado pelas empresas com o plano de sa�de chega a ser 200% maior com as consultas em pronto-socorro, exames e at� interna��es para os casos mais graves de dengue. “O impacto para as empresas n�o se d� s� no absente�smo, mas no plano de sa�de”, afirma a presidente da Associa��o Mineira de Medicina do Trabalho (Amimt), Let�cia Lobato Garios. Vale lembrar que o perfil de uso e sinistralidade faz parte da base de c�lculo das operadoras para determinar o valor do plano de sa�de custeado pelas empresas no ano seguinte.

F�rias e lay-off
O presidente do Conselho de Rela��es do Trabalho da Federa��o das Ind�strias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Osmani Teixeira, confirma que o Aedes aegypti � hoje motivo de preocupa��o para as grandes empresas. E o preju�zo para a produtividade talvez n�o seja maior porque v�rias delas est�o com funcion�rios em f�rias coletivas ou adotaram a chamada lay-off – redu��o tempor�ria da jornada de trabalho e sal�rio ou suspens�o dos contratos de trabalho para requalifica��o profissional. Ele lembra que durante a epidemia da gripe su�na as empresas tinham como ajudar mais no combate � doen�a por meio do fornecimento de vacinas. No caso da dengue, ainda n�o h� esse tipo de medicamento.
Para o empres�rio que tem funcion�rios contaminados, outro problema � pagar alguns dias de sal�rio a mais para substitutos. Jaqueline Bacha, dona de uma rede de sete lojas de confec��es no Centro de BH e em Venda Nova, que o diga. Entre seus 120 funcion�rios, 10% deles j� se licenciaram do trabalho. “Em �poca de crise, n�o tenho como contratar pessoas para substituir as vendedoras. A gente tenta se virar para cobrir os hor�rios sem sobrecarregar ningu�m nem fazer horas extras”, alega. Para tentar evitar novas baixas, ela diz que tem vigiado pessoalmente baldes e passeios em frente �s suas lojas, para verificar a exist�ncia de �gua parada.
Aposta na preven��o

Juiz de Fora, na Zona da Mata, vive atualmente a pior epidemia de dengue da sua hist�ria, com 2.553 diagn�sticos de dengue e sete mortes j� confirmadas at� quarta-feira – mas ainda n�o inclu�das no balan�o da Secretaria de Estado de Sa�de, que trabalha at� o momento com o n�mero de oito �bitos no estado. Diante da maior probabilidade de contamina��o nos canteiros de obras, at� pela natureza do trabalho, o Sindicato das Ind�strias da Constru��o Civil (Sinduscon) da cidade iniciou campanha de visita aos locais. Tamb�m foi criado um selo de seguran�a para atestar a fiscaliza��o realizada pelo grupo.
“Nas reuni�es ordin�rias, debatemos v�rios casos de empregados com dengue. Estamos tendo o trabalho de sensibilizar sobre os cuidados nos canteiros de obras, mas � preciso cautela tamb�m em casa para que o trabalhador evite ser infectado”, afirma o presidente do Sinduscon, Aur�lio Marangon. Propriet�rio de uma construtora, ele j� teve uma funcion�ria do escrit�rio licenciada durante tr�s dias por causa da dengue. E ele pr�prio foi contaminado pelo mosquito, tendo que se afastar por alguns dias da empresa.
A Fiemg lan�ar� nos pr�ximos dias uma campanha para combate ao Aedes aegypti. Na ArcelorMittal, foram criados cartazes usando materiais desenvolvidos pelo Minist�rio da Sa�de e distribu�dos nas portarias, refeit�rios, boletins internos e na TV corporativa trazendo informa��es sobre as formas de preven��o e os sintomas das doen�as causadas pelo mosquito. Tamb�m est�o sendo feitas vistorias no piso de f�brica � procura de poss�veis criadouros do mosquito. “Quando s�o encontradas situa��es favor�veis � prolifera��o, al�m de solucionar o problema � criado um relato escrito com registro fotogr�fico e ambos divulgados via e-mail, alertando e refor�ando sobre os cuidados”, diz nota da empresa.
A Cemig indicou o engenheiro Dem�trio Aguiar para participar do Comit� Gestor Estadual de Pol�ticas de Enfrentamento da Dengue, Chikungunya e Zika, idealizado pelo governo estadual. Desde janeiro, o grupo vem se reunindo para discutir medidas de conscientiza��o e combate aos prov�veis focos de prolifera��o do Aedes aegypti. De acordo com Dem�trio Aguiar, a Cemig tem feito campanhas internas por meio de cartazes e intranet, al�m de disponibilizar informa��es nas redes sociais e no seu site.
Estat�stica da dengue
At� 16 de fevereiro – data da �ltima estat�stica divulgada pela Secretaria de Estado de Sa�de –, foram registrados 62.271 casos prov�veis (confirmados e ainda sob investiga��o) de dengue em Minas Gerais. Foram confirmados oito casos de morte provocada pelo Aedes aegypti, em quatro cidades. Em rela��o ao zika v�rus, todas as 303 notifica��es de 2016 seguem sob investiga��o. Do total de casos notificados em 2015, confirmou-se laboratorialmente dois casos de zika, em Belo Horizonte e Coronel Fabriciano.