Rio de Janeiro, S�o Paulo e Nova York - O impeachment da presidente Dilma Rousseff � bem visto pelo mercado financeiro e por representantes do setor produtivo em v�rias �reas, mas n�o garante a retomada da confian�a dos investidores. Para o economista-chefe da ag�ncia de classifica��o de risco Austin Rating, Alex Agostini, uma vez aprovado o impedimento de Dilma no Senado, o novo governo teria que se sentar numa roda de negocia��o com l�deres de todos os partidos apoiadores do processo, mostrando coes�o em torno de um novo projeto para o pa�s. “Foi isso que o PT n�o fez e que talvez tenha sido o grande erro deles. O PMDB viu que tem que ser dessa forma”, opinou.
Um eventual governo Temer tamb�m n�o ter� aval sem o an�ncio de reformas, ainda na avalia��o de Alex Agostini, da Austin Rating. “A sinaliza��o (do impeachment da presidente) tende a ser positiva. O mercado vai dar mais um voto de cr�dito, mas o governo precisa fazer reformas”, disse o analista. Ele espera medidas focadas na redu��o da m�quina administrativa, do n�mero de secretarias de Estado, de cargos comissionados; solu��es para aumentar a arrecada��o, a exemplo da Contribui��o Provis�ria sobre Movimenta��o Financeira (CPMF); reforma de programas sociais, com a cria��o de formas de monitoramento; e o in�cio da discuss�o sobre a reforma da Previd�ncia.
A aprova��o de reformas estruturais que limitem os gastos p�blicos, reduzam a rigidez do Or�amento e contenham os desequil�brios na Previd�ncia s�o urgentes, da mesma forma, para o representante do Brasil no Fundo Monet�rio Internacional (FMI), Otaviano Canuto, e o economista Jos� M�rcio Camargo, professor da Pontif�cia Universidade Cat�lica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Eles avalariam, ontem, durante semin�rio sobre o Brasil organizado pela C�mara de Com�rcio Brasil-EUA em Nova York, que corrigir o desequil�brio das contas p�blicas ser� o principal desafio do pa�s no per�odo posterior � vota��o do impeachment, seja qual for o resultado da decis�o do Senado sobre o futuro de Dilma.
“Precisamos de um choque fiscal”, afirmou o economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall. Sua receita foi uma das mais radicais entre as apresentadas durante o semin�rio: aprova��o de reformas constitucionais que estabele�am teto para os gastos p�blicos, acabem com a rigidez do Or�amento, eliminem a indexa��o de aposentadorias e permitam a redu��o de sal�rios de funcion�rios p�blicos estaduais, com a correspondente diminui��o da jornada de trabalho.
No varejo, a confian�a dos empres�rios do ramo de supermercados mostra alguns sinais de melhora depois de ter atingido recorde negativo em janeiro deste ano, de acordo com a Associa��o Paulista de Supermercados (Apas). O gerente de Economia e Pesquisa da entidade, Rodrigo Mariano, considera que o efeito est� associado ao cen�rio pol�tico e ao andamento do processo impeachment da presidente Dilma, mas pondera que a sustenta��o de patamares maiores de otimismo s� vai ocorrer se forem anunciadas mudan�as na condu��o da pol�tica econ�mica.
Depois de atingir 72% de pessimismo em janeiro, mais alto n�vel da s�rie hist�rica desde 2011, a Pesquisa de Confian�a dos Supermercados registrou queda para 65% em fevereiro. O presidente da Associa��o Brasileira do Agroneg�cio (Abag), Luiz Carlos Corr�a Carvalho, afirmou, por sua vez, que o setor tem “boa impress�o” em rela��o � figura do vice-presidente Michel Temer. “Ele � o oposto da Dilma. Acho que, com ele, a rela��o entre Congresso e Executivo vai melhorar muito”.
Programas sociais O eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff pode ter impacto direto no programa habitacional Minha casa, minha vida, de subs�dio a moradias populares. Executivos que atuam no segmento de baixa renda acreditam que a poss�vel chegada de um novo governo pode resultar no congelamento de parte da iniciativa, que j� entregou 2,6 milh�es de resid�ncias desde 2009. Alguns agentes, que preferem n�o se identificar, est�o considerando reter investimentos at� que haja sinal claro sobre a continuidade do benef�cio.
Infla��o independente
Com ou sem aprova��o do Senado � abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a infla��o deve continuar desacelerando no Brasil, avalia o superintendente-adjunto de Infla��o da Funda��o Getulio Vargas (FGV), Salom�o Quadros. Segundo ele, uma mudan�a de governo pouco deve influenciar a din�mica de pre�os, que j� tem sido mais ben�fica nas �ltimas semanas. O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, projeta infla��o de 7,5% neste ano. “A infla��o pode at� ser ajudada por algum efeito de expectativas, mas ela tamb�m tem a sua in�rcia, n�o � t�o flex�vel”, afirmou Quadros. “Al�m disso, os juros dependem do comportamento da infla��o. Ningu�m vai mexer muito em muita coisa.”
