O ministro das Rela��es Exteriores do Brasil, Jos� Serra, questionou nesta quinta-feira, a legitimidade da Organiza��o Mundial do Com�rcio (OMC) e sinalizou que o pa�s pode se afastar do organismo, "tomando novos caminhos". A manifesta��o foi feita em uma minirreuni�o ministerial da entidade realizada em Paris. Para o chanceler, a institui��o enfrenta imobilismo, falhou em derrubar os subs�dios e barreiras sanit�rias e fitossanit�rias e ao apostar na Rodada Doha - o que leva o Brasil a condicionar seu engajamento a avan�os objetivos.
Em seu discurso, realizado a portas fechadas para a imprensa, Serra reconheceu que o Brasil enfrenta uma crise econ�mica causada em especial por fatores pol�ticos internos, mas reiterou que o novo governo est� tomando medidas para "corrigir desequil�brios macroecon�micos" e "criar condi��es para o crescimento". "Nesse processo", sustentou, "o com�rcio internacional e investimentos v�o desempenhar um importante papel".
Serra criticou ent�o os subs�dios agr�colas em pa�ses desenvolvidos, afirmando que eles contribu�ram para abalar a credibilidade da OMC. "A proibi��o de subs�dios de exporta��o para produtos agr�colas evitou a perda total da credibilidade do pilar de negocia��o da OMC. No entanto, a capacidade da OMC para permanecer um f�rum significativo de negocia��o ainda est� em quest�o", disse.
O chanceler reiterou que o Brasil "valoriza" a entidade, mas alegou que "a experi�ncia dos �ltimos 10 anos n�o se mostrou recompensadora". "N�s n�o fomos capazes de corrigir a assimetria em setores e o acesso entre produtos agr�colas e industriais. N�o fomos capazes de corrigir as preocupa��es de pa�ses em desenvolvimento no sentido de facilitar sua participa��o crescente no com�rcio internacional", disparou.
Foi ent�o que Serra sinalizou o desengajamento em rela��o � organiza��o - embora nos bastidores assessores do ministro reiteraram que n�o h� hip�tese de desligamento da OMC. "Se as coisas n�o funcionaram do jeito que tentamos, n�s estamos prontos para novos caminhos, � medida que os problemas importantes para n�s continuam na mesa", justificou.
Serra exortou os colegas a estipularem um quadro de trabalho at� a pr�xima reuni�o ministerial da OMC, que acontecer� no final de 2017. O encontro dever�, diz o chanceler, servir como um ponto de partida para "um processo de elimina��o passo a passo das distor��es". "Se n�s prezamos a OMC, devemos multiplicar os esfor�os para faz�-la funcionar", reiterou, criticando a Rodada Doha - sem mencion�-la textualmente. "Em vez do modelo de uma grande rodada, talvez n�s devamos tentar ter um fluxo cont�nuo de resultados nas reuni�es ministeriais sucessivas a cada dois anos. O que o Brasil n�o pode ter na OMC � paralisia."
As cr�ticas de Serra vieram a p�blico no momento em que sua gest�o tenta acelerar as negocia��es bilaterais das quais o pa�s participa - em especial o acordo de livre com�rcio entre o Mercosul e a Uni�o Europeia. Na segunda-feira, 30, o chanceler disse que cobraria avan�os objetivos em uma reuni�o bilateral com a comiss�ria europeia de Com�rcio, Cecilia Malmstr�m, reclamando em especial da falta de ofertas relativas a produtos como carnes e etanol. "A Uni�o Europeia ainda est� pendente de entregar partes de suas conclus�es. Em geral no Brasil e na Am�rica Latina tem gente que diz que o acordo Uni�o Europeia-Mercosul n�o sai por causa do Mercosul. A bola agora est� nos p�s da Uni�o Europeia, e principalmente na quest�o agr�cola", alegou.
Na reuni�o bilateral, Cecilia Malmstr�m teria reconhecido o problema, mas justificou que a agricultura europeia enfrenta crise, em parte causada pelas san��es m�tuas com a R�ssia.
Ainda em Paris, Serra frisou que poderia acelerar as conversas com o Canad� e os Estados Unidos de forma a pressionar a UE. "Vamos insistir nas possibilidades de expans�o do com�rcio com os Estados Unidos e Canad�, at� como fator para estimular mais a Uni�o Europeia a se apressar. Do contr�rio, muita coisa poder� ser feita com Estados Unidos e Canad�", disse Serra.