Montes Claros/Ja�ba/Janu�ria/Cora��o de Jesus/Claro dos Po��es/S�o Jo�o da Ponte – Cuidar da casa, dos filhos, da comida, da roupa... e tamb�m dos neg�cios. � cada vez maior o n�mero de mulheres empreendedoras. E isso n�o se verifica somente com aquelas que se tornaram executivas ou donas de grandes neg�cios. Existem muitas mulheres que, mesmo enfrentando a pobreza e outras dificuldades, se uniram e criaram o pr�prio jeito de ganhar a vida, transformando em fonte de renda os recursos dispon�veis de onde labutam, como o pequi, o buriti e outros “frutos do mato”. Os alimentos e artesanatos produzidos por elas chegam at� outros estados, vendidos em eventos, como a Feira de Agricultura Familiar, Agriminas, realizada recentemente em Belo Horizonte.
Um bom exemplo de esfor�o e dedica��o � o grupo Mulheres do Cerrado, cujas integrantes melhoraram de vida com o aproveitamento de recursos naturais, superando a seca no Norte de Minas. Na mesma regi�o existem as “mulheres de fibra”, que retiram o sustento do artesanato das fibras (folhas) de bananeira que eram descartadas pelos irrigantes do Projeto Ja�ba. Outro grupo, o “Ess�ncias do cerrado”, sobrevive do aproveitamento de ervas medicinais, elevando a renda em Claro dos Po��es, munic�pio cuja renda per capita � de R$ 337,01, uma das mais baixas do estado.
Durante tr�s meses, o Estado de Minas pesquisou e documentou a vida dessas lutadoras de m�os calejadas, que encontraram no associativismo e no empreendedorismo uma forma de organiza��o e de melhoria de vida, provando que realmente a uni�o faz a for�a. Foram diversas visitas in loco e dezenas de entrevistas, a fim de conhecer de forma detalhada como � a vida de supera��o dessas mulheres. As hist�rias dessas hero�nas ser�o narradas na s�rie de reportagens Mulheres de Fibra, que come�a ser publicada a partir de hoje. A coopera��o � t�o antiga quanto a humanidade. Mas, neste caso, ao associativismo se somam a garra e a determina��o. Mulheres antes vistas apenas pelo olhar do sofrimento se transformam em verdadeiras vencedoras.
O cen�rio do munic�pio de Ja�ba, de 33,8 mil habitantes, no Norte de Minas, � de um paradoxo absoluto: ao mesmo tempo que conta com a riqueza da produ��o agr�cola do Projeto Ja�ba, maior per�metro irrigado da Am�rica Latina, a grande maioria de sua popula��o permanece em condi��es de pobreza. A banana � um dos carros-chefe do Ja�ba, com �rea plantada de 2,3 mil hectares e produ��o anual de 16,54 mil toneladas, segundo a Companhia de Desenvolvimento do S�o Francisco e do Parna�ba (Codevasf), respons�vel pela administra��o do projeto.
A partir disso, a cada safra uma quantidade enorme de fibra dos p�s de banana era totalmente descartada. Com a cria��o do grupo Mulheres de Fibra, a palha de bananeira, antes sem serventia para os irrigantes, passou a ter grande valor nas m�os dessas empreendedoras, sendo transformada em pe�as de artesanato como cestos, fruteiras, cadeiras, lixeiras, ba�s (pequenos, m�dios e grandes), vasos e outros objetos de decora��o. O grupo, criado h� uma d�cada, carrega no pr�prio nome a marca da luta de suas 25 componentes: Mulheres de Fibra.
“Muitas mulheres daqui estavam desempregadas e a gente precisava criar alguma coisa para gerar renda”, afirma Etelvina Rosa de Melo, de 66 anos, ao contar como surgiu o grupo Mulheres de Fibra, do qual ela foi uma das pioneiras. Ap�s 10 anos, Etelvina continua como uma das l�deres do projeto, que funciona em um pr�dio cedido pela Prefeitura de Ja�ba. Al�m do espa�o dedicado aos trabalhos manuais das mulheres, o local conta com uma esp�cie de “show-room”, onde as pe�as de artesanato s�o expostas para a venda. Boa parte dos produtos � comercializada em feiras em outras cidades, entre elas BH.
Junto com Etelvina, outra idealizadora do grupo foi Dilma Alves Santos Barbosa, de 56, atual presidente da associa��o comunit�ria que administra o projeto. “Morava na �rea de produ��o do Projeto Ja�ba e percebi que a palha de bananeira n�o era aproveitada. A� tive a ideia de fazer o artesanato aproveitando essa mat�ria-prima”, explica Dilma. Etelvina ressalta que, al�m de gerar renda, o projeto de aproveitamento da fibra de banana contribuiu para ocupar o tempo e resgatar a autoestima de mulheres de Ja�ba que viviam desiludidas, sem perspectiva de melhoria de vida. Segundo ela, v�rias mulheres que estavam em depress�o, encontraram no artesanato uma maneira de resgate de suas vidas.
RESGATE DA AUTOESTIMA
Helena Alves Silva, de 56, � uma das “mulheres de fibra” que t�m hist�ria para contar. E de supera��o. Helena relata que o marido dela, C�cero Antonio da Silva, era caminhoneiro. H� oito anos, ele perdeu o bra�o esquerdo em um acidente e ficou impedido de trabalhar. Ela disse que ficou desamparada sem saber como poderia manter a casa e os tr�s filhos, pois n�o tinha emprego. “Pedi muito a Deus para me ajudar e passei a sobreviver da renda do artesanato”, confessa a mulher, que se aprimorou na habilidade de transformar a fibra dos “troncos” de bananeira em vasos, ba�s, fruteiras e outras pe�as. Tamb�m aprendeu a fazer licor de banana.
Outra que conseguiu melhorar a renda (e a vida) por meio do grupo � Joaquina Souza da Cruz, de 47, m�e de tr�s filhos. “Depois que comecei a participar desse trabalho, o relacionamento com os meus filhos melhorou l� em casa. Antes, era muito dif�cil. Faltava muita coisa”, conta. Ana Paula Silva Bispo Souza, de 32, come�ou a participar das atividades de projeto das Mulheres de Fibra h� tr�s anos, com um quadro depressivo. “Vivia em casa sozinha, sem ter o que fazer. Me isolava e chorava muito. Tinha a autoestima muito baixa. Aqui, me sinto �til”, confessa Ana Paula, que tamb�m aprendeu a fazer trabalho manual com croch�. Outra “resgatada” pelo grupo de mulheres � Maria Jos� Barbosa, de 57, que entrou em depress�o depois da morte de um dos seus filhos – o rapaz tinha 21 anos. “Vim para c� e aprendi muita coisa. As colegas tiveram muita paci�ncia comigo. Hoje, estou recuperada”, revela Maria Jos�, que, al�m do trabalho com as fibras de bananeira, aprendeu a fazer tapete de retalhos.