A volta da bandeira tarif�ria amarela, que, a partir deste m�s, vai encarecer a conta de energia el�trica em R$ 1,50 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos, agrava o peso da despesa das fam�lias num momento de muito aperto no or�amento dom�stico. A inadimpl�ncia em Minas Gerais, medida entre aqueles consumidores que acumulam atraso de tr�s meses no pagamento da fatura, quase dobrou em junho na compara��o com o mesmo m�s do ano passado, atingindo 8,06%, segundo os �ltimos dados divulgados pela Ag�ncia Nacional de Energia El�trica (Aneel).
Em junho do ano passado, a inadimpl�ncia entre os consumidores residenciais atendidos pela Cemig Distribuidora, bra�o da Companhia Energ�tica de Minas Gerais, era de 3,91%, percentual que evoluiu para 8,06%, alta superior a quatro pontos percentuais. J� a inadimpl�ncia entre os consumidores de baixa renda pulou de 5,40% para 13,21%, avan�o de 7,8 pontos percentuais.
A recess�o e o desemprego ainda crescente levam especialistas do setor el�trico a apostar que, neste ano, se o volume de chuvas coincidir com as previs�es meteorol�gicas que apontam para um percentual dentro da m�dia hist�rica, o pa�s pode escapar da bandeira tarif�ria vermelha. Ela significa um maior despacho das usinas t�rmicas, energia mais cara que reflete no encarecimento da conta para o consumidor.
Para Eduardo Nery, diretor da Energy Choice, consultoria em desenvolvimento sustent�vel, observa��es como as da dona de casa Deise Oliveira refletem o atual momento da economia brasileira e devem pesar na defini��o da pol�tica tarif�ria. “Como a economia est� em recess�o a decis�o � complicada”, aponta Nery. Segundo ele, do ponto de vista do planejamento energ�tico, o mais adequado seria o pa�s despachar mais t�rmicas e ter em 2017 um per�odo de bandeira vermelha para atravessar os meses de seca com maior seguran�a. “No entanto, observando a economia em recess�o e o crescimento do desemprego, o governo deve manter a tarifa amarela. Essa decis�o traz um al�vio para o custo de vida, mas � de maior risco para a gera��o de 2018”, observa.
PREOCUPA��O A bandeira amarela j� ser� aplicada nas contas de luz a partir deste m�s, j� que o volume de �gua dos reservat�rios das usinas hidrel�tricas, principalmente do Sudeste, do Centro-Oeste (34%) e Nordeste (10%), est� baixo e o governo vai recorrer � energia das t�rmicas. O reservat�rio de Sobradinho, por exemplo, que � o maior lago do mundo, est� a um n�vel de 2% de sua capacidade.
A not�cia de pre�os mais altos na conta de energia assustou tamb�m a balconista Ana Paula Souza Silva, de 28. Sua conta de luz � de R$ 75 para uma fam�lia de tr�s pessoas. “Tomo banhos r�pidos, apago todas as luzes � noite e uso pouco eletrodom�sticos, n�o sei o que mais posso fazer para economizar energia.”
Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energ�tica (EPE), em setembro as resid�ncias registraram um aumento no consumo de eletricidade de 4,6%, na s�tima alta mensal consecutiva. Em tempos de calor quando o uso de equipamentos como ar-condicionado e ventiladores pode pressionar a tarifa, os consumidores ter�o de pisar no freio. O auxiliar de servi�os administrativos Ildefonso da Silva, de 47, diz que sua conta de luz � “alt�ssima.” Ele paga cerca de R$ 200 por m�s para uma fam�lia de quatro pessoas.
Para arcar com o aumento provocado pela bandeira amarela, o jeito encontrado por ele ser� o corte de gastos. “Terei que cortar gastos para pagar a conta de luz em dia. Provavelmente, vou cortar no lazer da fam�lia”, lamentou. M�rcio Davanzo, gerente de comercializa��o do Grupo Safira Energia, diz que os pre�os da energia at� o primeiro quadrimestre de 2017 mostram proximidade com a bandeira amarela. J� sobre a volta da bandeira verde em abril, o especialista preferiu n�o comentar.
A especialista em planejamento energ�tico e professora da escola Ibmec Juliana Marreco tamb�m acredita que com o volume de chuvas dentro da m�dia o governo n�o deve acionar as t�rmicas de maior custo, mantendo a bandeira amarela. “A pol�tica de bandeiras mostra uma mudan�a na matriz energ�tica brasileira. O sistema hidrel�trico n�o � capaz de atender sozinho � demanda do pa�s, que cada vez mais tem utilizado as t�rmicas.”
Ano foi seco e de baixo investimento
Em 2016, uma combina��o de fatores fez os custos com energia encarecerem para o consumidor. “O pa�s enfrentou um ano ruim de ventos, que n�o ultrapassou 40% da m�dia hist�rica, o que interferiu na gera��o e�lica”, explica Eduardo Nery. Segundo o especialista, a longa estiagem que castigou o Nordeste e especialmente os reservat�rios do Sudeste e Centro-Oeste impediu a recupera��o dos volumes da importante Bacia do S�o Francisco. Para completar, o especialista cita ainda o atraso na constru��o do sistema de transmiss�o da hidrel�trica de Belo Monte, que n�o viabilizou levar a energia da usina para o Nordeste, regi�o que tem a situa��o mais cr�tica.
Desde abril deste ano, a bandeira tarif�ria estava verde, o que significa que n�o havia custo extra para os consumidores. No ano passado, em todos os meses houve bandeira vermelha, primeiramente com cobran�a adicional de R$ 4,50 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos e, depois, com a bandeira vermelha em seu primeiro patamar, que significa acr�scimo de R$ 3 a cada 100kWh. O sistema de bandeiras tarif�rias foi adotado em janeiro de 2015 como forma de recompor os gastos adicionais com a utiliza��o de energia de usinas termel�tricas, mais cara do que a energia de hidrel�tricas.