Feras dentro e fora dos campos: como lidar com o peso de um talento do quilate de Neymar Jr?

A transfer�ncia do atacante Neymar do poderoso Barcelona para o bem mais modesto Paris Saint-Germain por R$ 820 milh�es, valor da multa rescis�ria, foi a maior da hist�ria do futebol. Fora das quatro linhas, o que significa a chegada de um craque, de um grande talento para uma empresa? Como ele interfere na equipe? Colegas aceitar�o o ostracismo? E os efeitos no clima organizacional? Como deve se comportar o gestor? � diferente liderar um grande destaque? E a empregadora, s� ganha? Quanto ao profissional, vale a pena sair de uma organiza��o (clube) em que era considerado um craque e j� com espa�o garantido para recome�ar em outro? O que ter� de provar? Quais os ricos vai correr?

 

Fl�via Alencastro, gerente de Divis�o da Robert Half, explica que contratar um profissional por um sal�rio muito acima da m�dia salarial deve ser uma atitude bem pensada, considerando todas as vari�veis ao longo do relacionamento com esse colaborador. “Incluindo poss�veis desafios econ�micos e pol�ticos do pa�s, que podem se refletir na sa�de financeira da empresa e do setor. � preciso avaliar, inclusive, quais ser�o os retornos financeiros que essa contrata��o trar� para os neg�cios. Em geral, as ofertas salariais para um determinado cargo sobem � medida que aumenta a dificuldade para encontrar profissionais qualificados para a vaga em quest�o.”

 

No Paris Saint-Germain, o uruguaio Cavani � um excelente jogador, um goleador. Titular absoluto da Sele��o Uruguaia. Na Fran�a, por anos ele ficou � sombra do craque sueco Zlatan Ibrahimovic, “dono” da equipe. Ibra, ent�o, decidiu ir para o futebol ingl�s e Cavani recebeu todo os holofotes na temporada passada. Eis que chega Neymar. Certamente, seu espa�o ser� ainda menor. Como lidar com isso? Fl�via Alencastro afirma que pode ocorrer de profissionais que ocupem um mesmo cargo apresentarem varia��es salariais. Isso se deve, em grande parte, pelas diferen�as entre as habilidades t�cnicas e comportamentais que cada um tem, al�m de tempo de carreira e responsabilidades que assumiu. Em geral, colaboradores que se sentem preteridos quanto � remunera��o se sentem desmotivados. Essa sensa��o se d� porque eles tendem a avaliar a situa��o apenas do ponto de vista financeiro, sem fazer uma avalia��o cr�tica e sincera sobre o que oferecem para a companhia, em compara��o com as qualidades do parceiro de cargo”

 

Pensando nessas diferen�as, � bom lembrar que a cobran�a em cima do talento � do tamanho ou maior que seu peso, seu valor. “Em geral, as empresas se disp�em a oferecer um sal�rio acima do mercado para o colaborador que ela acredita que tenha capacidade para realizar entregas com qualidade, dentro das metas estabelecidas e, se poss�vel, acima delas. Sem d�vida, o profissional que receber uma oferta salarial acima da praticada pelo mercado vai sentir, no dia a dia, a press�o de atender �s expectativas do gestor direto e da dire��o da companhia que o contratou”, enfatiza a especialista.

 

RESSENTIMENTO

 E quanto ao talento, vale trocar o certo pelo duvidoso? Para Fl�via Alencastro, � claro que os profissionais que est�o no mercado almejam receber bons sal�rios. “Mas, com base em minha experi�ncia na �rea de recrutamento e sele��o, afirmo que fazer movimenta��es na carreira apenas pela �tica financeira nem sempre � um bom neg�cio. Por exemplo, conhe�o executivos que mudaram de cidade, atra�dos por uma vantajosa oferta salarial, mas se decepcionaram porque a fam�lia n�o se adaptou � rotina na nova cidade, longe dos parentes e amigos. Outro ficou, inicialmente, feliz com a nova remunera��o, mas quando chegou na nova companhia viu que os valores pessoais dele n�o tinham ader�ncia com os da empresa. Dificilmente um profissional opta por mudar de emprego apenas pelo sal�rio. Se ele fizer uma avalia��o detalhada poder� descobrir outros pontos de inc�modo na rela��o entre ele e o empregador.”

 

Geralmente, um talento gosta de ser desafiado. Da� a postura de correr mais riscos. “Tudo depende dos objetivos de carreira do profissional. Alguns almejam trabalhar em uma multinacional, independentemente do cargo que ocupem, enquanto outros preferem um alto cargo em uma empresa de menor porte ou se destacar por auxiliar na implanta��o e no desenvolvimento de uma startup. E todas as op��es s�o v�lidas, desde que a decis�o seja planejada.” E a mudan�a pode ser vista como forma de buscar desafios ainda maiores: “Com certeza. E sair da zona de conforto, em geral, reflete em muitos aprendizados, seja para a vida pessoal ou profissional”.

 

Ao contratar um profissional de alto quilate, h� uma press�o em cima do empregador para dar oportunidades aos demais para um salto? “Com certeza haver�. A sugest�o, nesses casos, � investir em planos de incentivo para que os profissionais que atuam na companhia se sintam motivados a buscar qualifica��o”, afirma Fl�via Alencastro. Quanto a poss�veis ressentimentos, para ela isso ocorre porque “infelizmente, h� profissionais que n�o entendem que apenas ter anos de experi�ncia na companhia n�o � suficiente para ser promovido a determinadas vagas. Em fun��es determinantes para o sucesso dos neg�cios, por exemplo, � preciso que o profissional tenha caracter�sticas pessoais como lideran�a, capacidade de influenciar pessoas e habilidade para a autogest�o”.

 

Pontos a discutir

1) Do ponto de vista da empresa:
» Quando vale a pena trazer um talento por um valor muito acima da m�dia salarial?
» Quais os riscos e poss�veis efeitos para o restante da equipe?

2) Do ponto de vista do talento:
» Vale a pena sair para ganhar mais, quando j� se ganha muito?
» Por que sair de uma empresa em que est� com um desempenho muito bom e � valorizado para ir para uma de menor express�o?
» A mudan�a pode ser vista como forma de buscar desafios ainda maiores e sair da zona de conforto?