
No final da d�cada de 1990, quando a internet ainda engatinhava, alguns bancos se aventuraram a lan�ar as primeiras iniciativas de uma institui��o financeira totalmente virtual, como foi o caso do pioneiro Banco1.net, que funcionou de 1995 a 2004.
Naquele tempo, apesar do apelo de modernidade, poucos consumidores se arriscavam a trocar a ag�ncia f�sica pela virtual, acessada por computador. Vinte anos depois dessa iniciativa, uma gera��o que nasceu na era digital come�a a transformar a forma como nos relacionamos com os bancos e o dinheiro.
A explos�o do uso dos smartphones para quase tudo, inclusive o acesso � conta banc�ria, e a digitaliza��o dos meios de pagamento desencadearam agora uma nova revolu��o: o uso de moedas eletr�nicas, ou, para usar um termo atual, as criptomoedas.
“Estamos em uma transi��o do tradicional modelo financeiro para a dissemina��o de dinheiro eletr�nico, que j� est� transformando institui��es n�o financeiras em emissoras de moedas digitais”, diz Omarson Costa, consultor especializado em tecnologia e inova��o.
A mais famosa delas, o bitcoin, criado no final de 2008, � a primeira moeda digital descentralizada do mundo. Uma de suas principais caracter�sticas � fugir dos padr�es convencionais.
Ningu�m a controla e a sua emiss�o e manuten��o dependem de uma rede mundialmente distribu�da de computadores, os chamados mineradores. Tamb�m � o primeiro sistema de pagamentos direto, o chamado peer-to-peer (ponto a ponto, de uma pessoa a outra), ou seja, n�o existem intermedi�rios como no sistema tradicional (bancos, operadoras de cart�o) para a realiza��o de transa��es. As sim, as transfer�ncias s�o mais r�pidas e mais baratas do que em outros meios convencionais de pagamento.
O sistema � de c�digo aberto (utiliza uma tecnologia chamada Blockchain) e o registro de todas as opera��es financeira � p�blico e acess�vel, assim como o c�digo-fonte desse sistema. A seguran�a contra hackers e falsifica��es � garantida pela sua descentraliza��o, seu c�digo aberto e pelo uso de criptografia. Tamb�m foi programado para ser escasso, com uma quantidade m�xima de 21 milh�es de unidades. � como qualquer outro ativo, com seu pre�o variando de acordo com a demanda do mercado. Se a tend�ncia de compra � maior, o pre&cce dil;o vai subir.
Nas �ltimas semanas, a valoriza��o do bitcoin explodiu depois que a CME Group, empresa americana dona da Bolsa de Chicago e que agrega as maiores bolsas de derivativos do mundo, confirmou que contratos futuros de bitcoin passar�o a ser negociados a partir de dezembro, junto com contratos de c�mbio, juros e commodities. A Nasdaq, outra gigante, mas voltada �s empresas de tecnologia, informou que est� estudando a utiliza��o de bitcoin a partir de 2018.
PIZZAS Na hist�ria, poucas moedas, virtuais ou n�o, se valorizaram tanto num per�odo t�o curto. Nos �ltimos 12 meses, a cota��o do bitcoin avan�ou impressionantes 1.000%, batendo na casa do US$ 10 mil. No Brasil, o bitcon chegou a ser comercializado a R$ 35 mil.
Como o valor unit�rio � muito alto, a moeda pode ser comprada fracionada em at� oito casas decimais, ou seja, qualquer pessoa pode comprar 0,00000001 bitcoin. “E pensar que a primeira transa��o realizada em bitcoin foi feita em nova York no pagamento de duas pizzas ao pre�o de US$ 40, ou 10 mil bitcoins”, diz Marco Vieira, cofundador da Finchain, que controla a corretora FlowBTC, uma das cinco maiores corretoras de criptomoedas do pa�s. A empresa opera desde o final de 2014 e conta com mais 30 mil clientes.
� f�cil comprar e vender bitcoins: basta a pessoa entrar no site de uma das 10 corretoras operam no Brasil com criptomoedas, se cadastrar e come�ar a negociar a moeda como em uma corretora tradicional. “A experi�ncia n�o tem segredo”, garante ele, que v� um mercado cada vez maior num futuro muito pr�ximo.
Para Carlos Andr� Montenegro, um dos fundadores da BitcoinTrade, as mudan�as que est�o sendo introduzidas pelas criptomoedas v�o revolucionar a maneira como as pessoas lidam com dinheiro. “Falar em moeda digital hoje � o mesmo que falar em internet em 1997”, compara ele, lembrando que estamos apenas no come�o dessa revolu��o. Segundo o empres�rio, a grande vantagem do sistema digital de moedas � que as remessas de dinheiro s�o realizadas de forma descentralizadas e sem intermedia��o de institui��es financeiras ou governamentais.
No momento em que o varejo entrar nesse neg�cio para valer, dizem os especialistas, a verdadeira mudan�a vir�. “Estamos s� no come�o. Ainda est� faltando no Brasil uma esp�cie de port�o de pagamentos autom�tico que fa�a a intermedia��o entre o varejo e as corretoras”, afirma Montenegro. Atualmente, quando uma empresa recebe a moeda digital, ela precisa ter uma conta na corretora de criptomoedas, que recebe, faz a venda dos bitcoins e transfere o valor convertido ao varejista. Quando esses ajustes forem feitos, o bitcoin mudar� a vida de milh�es de pessoas no Brasil e no mundo.
Valoriza��o causa n� no sistema
Depois de atingir a marca hist�rica de valoriza��o, quando passou a barreira dos US$ 10 mil na ter�a-feira passada, os neg�cios com bitcoin causaram um n� no sistema de acesso de corretoras e casas de c�mbio que negociam a moeda digital. Na quarta-feira, um dia ap�s a espetacular valoriza��o, milhares de usu�rios ativos come�aram a comprar a moeda. Outros milhares se entusiasmaram com a valoriza��o e partiram para entrar de cabe�a no novo investimento. Toda essa movimenta��o acabou elevando o valor da moeda digital para US$ 11 mil.
A movimenta��o inesperada, por�m, acabou tirando do ar, ou causando instabilidade nos sistemas de acesso das principais corretoras do mundo. A Blockchain, uma das maiores empresas do mundo, dona do sistema de criptomoedas, informou que suas transa��es tiveram um aumento de 600% na quarta-feira, com a entrada de 120 mil novos investidores.
No meio da tarde quarta-feira, as dificuldades acabaram superando a empolga��o dos investidores e as transa��es acabaram caindo e puxando a cota��o para baixo. No final do dia, a queda m�dia chegou a 18%, levando a moeda a um valor m�nimo de US$ 9, 3 mil. � noite, por�m, os sistemas voltaram ao normal, e o valor da cota��o chegou novamente aos US$ 10 mil.
Como em toda opera��o financeira, comprar e vender bitcoins envolve riscos. Um dos elos fracos desse mercado s�o as empresas que fazem convers�es. Isso porque alguns usu�rios deixam suas chaves de acesso ao sistema com essas companhias.
� a� que um hacker pode entrar e fazer estragos. Recentemente, clientes da sul-coreana Bithumb perderam milh�es de d�lares depois que invasores acessaram seus dados. O caso mais dram�tico aconteceu em 2014, quando a moeda n�o tinha tanta fama. Na ocasi�o, a corretora japonesa MT Gox foi � fal�ncia depois de perder cerca de 850 mil bitcoins. Os preju�zos totalizaram quase R$ 100 milh�es e o dono da empresa aguarda julgamento no Jap�o.