
A fus�o entre a Boeing e a Embraer confrontaria os interesses estrat�gicos do Estado brasileiro, decidido a conservar seu poder de veto em uma empresa que fabrica tanto aeronaves civis quanto militares.
A advert�ncia foi feita pelo presidente Michel Temer que, apesar de ser considerado amigo dos mercados, afirmou nesta sexta-feira (22), durante encontro com jornalistas em Bras�lia:
"� bem-vinda a inje��o de capital estrangeiro, (mas) n�o se examina a quest�o de transfer�ncia" do controle acion�rio.
"Toda parceria � bem-vinda. O que n�o est� em cogita��o � a transfer�ncia do controle", insistiu Temer, ap�s o an�ncio feito na v�spera de que Boeing e Embraer negociavam uma alian�a.
Segundo o Wall Street Journal, se trataria de uma fus�o, mediante a absor��o acion�ria da Embraer, terceira fabricante mundial de aeronaves, por parte da gigante americana.
Em um comunicado conjunto, os dois grupos explicaram, no entanto, que "n�o h� garantia de que estas discuss�es concluam em alguma transa��o", visto que esta depender�, antes de tudo, da aprova��o do governo brasileiro e de entidades reguladoras.
- Quest�o de 'soberania nacional' -
Surgida como estatal em 1969, a Embraer foi privatizada em 1994, mas o Estado brasileiro preservou uma 'golden share', que lhe permite intervir em quest�es estrat�gicas.
O grupo chegou a ser l�der no segmento de aeronaves at� 150 lugares. Entrega anualmente 200 avi�es, entre jatos comerciais e executivos.
Possui, ainda, um setor de Defesa, com modelos como o A-29 Super Tucano para miss�es de ataque r�pido e treinamento avan�ado e o KC-390 de transporte de tropas, que deve chegar ao mercado em 2018.
"A transfer�ncia do seu controle acion�rio desserve os interesses da soberania nacional", refor�ou o ministro da Defesa, Raul Jungmann, que estava no encontro de Temer com a imprensa.
O Sindicato dos Metal�rgicos "repudiou" a eventual fus�o.
"A Embraer � estrat�gica para o pa�s e n�o pode ser vendida para capital estrangeiro. Exigimos que o governo federal vete a venda e, enfim, reestatize a Embraer como forma de preservar e retomar este patrim�nio nacional", indicou um comunicado do sindicato.
- Um mercado em plena muta��o -
As negocia��es seriam uma resposta � recente aproxima��o entre a europeia Airbus, concorrente direta da Boeing, e a canadense Bombardier, que disputa segmentos de mercado similares aos da Embraer.
A Embraer, que prev� um 2018 dif�cil, "precisa de um guarda-chuva financeiro, para se proteger de novos concorrentes", entre eles da China e do Jap�o, no segmento de aeronaves de 120 a 150 passageiros, afirmou o analista de assuntos militares Nelson D�ring, diretor do portal DefesaNet.
O especialista desconsiderou o impacto de uma fus�o em quest�es de soberania.
"O eixo de gravidade da Embraer j� est� nos Estados Unidos", afirma, ressaltando que tanto a fabrica��o de avi�es executivos como militares (Supertucanos) tem linhas de produ��o tanto no Brasil quanto em Miami.
A Embraer sustenta, ao contr�rio, que seu eixo de a��o continua no Brasil, visto que a totalidade de suas aeronaves comerciais - que representam 60% de seu faturamento - est� em S�o Jos� dos Campos, interior de S�o Paulo.
- Um tema espinhoso �s portas de um ano eleitoral -
A Embraer � uma empresa privada e tem entre seus principais acionistas fundos de pens�o estrangeiros, mas no Brasil continua sendo vista como uma empresa nacional emblem�tica e o tema pode se tornar um assunto explosivo para o governo em 2018, ano eleitoral.
Em 2006, o presidente Luiz In�cio Lula da Silva (2003-2010) foi reeleito em um cen�rio que se apresentava negativo para ele, ap�s as den�ncias de corrup��o do 'Mensal�o', mas conseguiu colocar seu advers�rio, Gerando Alckmin (PSDB-SP) na defensiva, ao acus�-lo de querer privatizar a Petrobras, outra empresa-s�mbolo do pa�s.
Mas as advert�ncias de Temer e Jungmann n�o desanimaram os investidores, visto que as a��es da Embraer, que avan�aram na quinta-feira 25,5%, recuaram apenas 1,44% no preg�o desta sexta na Bolsa de S�o Paulo.
