S�o Paulo – O ano de 2017 foi at�pico para o mercado de a��es. Apesar de todos os solavancos da economia brasileira, nove empresas buscaram na bolsa uma forma de captar recursos para seus projetos de investimento. Esse n�mero est� longe do recorde hist�rico de 2007, quando 60 IPOs (sigla em ingl�s para oferta inicial de a��es) foram registrados pela Bolsa de Valores de S�o Paulo (Bovespa), mas n�o deixa de ser relevante que os investidores tenham confiado no mercado de capitais, apesar das incertezas do pa�s. Para efeito de compara��o, em 2016, apenas uma empresa abriu o capital. At� ter�a-feira, 26, as nove companhias atingiam, juntas, valor de mercado de R$ 82,3 bilh�es, segundo c�lculos da consultoria Econom�tica. O montante equivale a cerca de 2,5% do valor de todas as empresas listadas na Bovespa.
Apesar de rec�m-chegado (abriu o capital em julho), o Carrefour ficou entre as 21 principais companhias em valor de mercado (R$ 29,3 bilh�es at� 26/12) e se tornou a n�mero 1 entre todos os IPOs deste ano. J� a Lhpardini (Hermes Pardini) foi a empresa da lista de IPOs que obteve o melhor desempenho no per�odo, com valoriza��o de 80,23% (fechamento em 26/12).
Outra estreia relevante em 2017 foi a da BR Distribuidora, que at� o dia 26 j� estava entre as 35 maiores empresas da bolsa brasileira, com valor de mercado de R$ 19,5 bilh�es. Em terceiro lugar no grupo dos IPOs est� a IrbBrasil, com R$ 10,6 bilh�es de valor de mercado at� o fechamento da �ltima ter�a-feira. E antes de o ano acabar, o PagSeguro, sistema de pagamentos digitais, iniciou a parte burocr�tica junto � Bolsa de Nova York para abrir capital. (Leia mais abaixo)
At� quando o interesse pela busca de recursos na Bolsa deve continuar? Alexandre Esp�rito Santo, economista da �rama (plataforma digital de investimentos) e professor de macroeconomia e finan�as do Ibmec-Rio, lembra que o mercado brasileiro de a��es leva vantagem em rela��o a muitos pa�ses por conta da legisla��o e da fiscaliza��o por parte da Comiss�o de Valores Mobili�rios (CVM). Essas regras r�gidas atraem especialmente fundos e investidores estrangeiros e, em volume bem menor, alguns investidores pessoa f�sica.
“Apesar do movimento visto neste ano, o mercado de capitais brasileiro ainda � pouco explorado”, diz o economista. “Ele poderia ganhar alguns incentivos para se tornar mais atraente, j� que � uma ferramenta extraordin�ria para movimentar a economia em virtude da quantidade de recursos que as empresas conseguem captar e investir para expandir seus neg�cios e gerar emprego”, acrescenta Alexandre.
Segundo o economista da �rama, entre as explica��es para o aumento da procura por abertura de capital est� a mudan�a nas regras dos juros cobrados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES) em seus empr�stimos, a partir de 2018, passando de TJLP (a taxa de juros de longo prazo, de 6,75% em dezembro, ante a taxa b�sica de juros, a Selic, de 7%) para TLP (taxa de longo prazo), o que diminuir� o subs�dio desse dinheiro e tornar� a taxa mais pr�xima da cobrada pelas institui��es financeiras em outras modalidades de financiamento. “Com mais empresas buscando recursos no mercado de capitais, o BNDES vai ficar cada vez mais voltado a companhias que n�o teriam condi��es de fazer um IPO”, opina Alexandre Esp�rito Santo.
Elei��es O especialista acredita que 2018 deve ser mais t�mido em quantidade de IPOs. Isso porque ser� um ano de elei��es presidenciais, o que dever� tornar o mercado mais inquieto do que o normal. “� um cen�rio que ter� turbul�ncia, em maior ou menor medida, por isso algumas empresas poder�o adiar seus planos de buscar recursos na Bolsa”, acredita o economista. O que pode diminuir esse clima de trepida��es econ�micas, segundo ele, seria um tom “n�o t�o exageradamente radical” por parte dos candidatos ao Pal�cio do Planalto.
Marcos Sarmento Melo, s�cio da Valorum Consultoria Empresarial e professor de finan�as do Ibmec-Bras�lia, tamb�m acredita que os IPOs sejam mais t�midos em 2018. “Como deve ser um ano de ritmo menor na Bolsa, formas mais baratas de capta��o de recursos pelas empresas, como lan�amentos de deb�ntures, devem ser mais procuradas”, avalia. Melo acredita ainda que, por conta das mudan�as na TJPL para TLP, devam surgir outras linhas de cr�dito com juros mais baixos. “Isso pode se tornar um concorrente para os IPOs”, opina o professor.
Seja por meio de IPOs ou de linhas de cr�dito, Melo acredita que as empresas dever�o manter uma expectativa otimista em rela��o � economia brasileira. “Essa demanda por novos recursos pode at� aumentar, j� que muitos trabalham com a cren�a de que a recupera��o j� come�ou”, diz o especialista. “Se a capacidade de produ��o das empresas n�o for ampliada a partir de agora, oportunidades poder�o ser perdidas.”
PagSeguro vai aos EUA
Antes da virada do ano, o PagSeguro, sistema de pagamentos digitais de compras pertencente ao UOL, decidiu ir na mesma dire��o de outras empresas e buscar recursos no mercado de capitais. Na ter�a-feira 26, a empresa entrou com um pedido para negociar suas a��es na Bolsa de Nova York (Nyse). Como os documentos apresentados � SEC (�rg�o regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos, uma esp�cie de Comiss�o de Valores Mobili�rios, a CVM, daquele pa�s) s�o preliminares, ainda n�o � poss�vel saber o tamanho da oferta de a��es ou quanto a empresa pretende pedir pelo papel. A previs�o � que o IPO ocorra em 2018.
A op��o em fazer o IPO nos Estados Unidos e n�o no Brasil tem a ver com o tipo de investidor buscado pela empresa – entre os americanos, h� receptividade maior a neg�cios ligados a tecnologia, diferentemente do que se v� por aqui. Os bancos americanos Goldman Sachs e Morgan Stanley ser�o os coordenadores globais da oferta inicial dos pap�is e o acionista vendedor � o pr�prio UOL. No Brasil, seus principais concorrentes s�o o MercadoPago e o SumUp.
Segundo informa��es divulgadas pelo PagSeguro, os recursos obtidos com o IPO ser�o utilizados para bancar aquisi��es de concorrentes e aumentar os investimentos “em tecnologias ou produtos que s�o complementares ao nosso neg�cio”. A empresa pretende vender como principal vantagem o fato de o mercado de pagamentos digitais no Brasil ainda estar em fase de expans�o.
No Brasil, a taxa de utiliza��o (3,6% do total do com�rcio eletr�nico). No Reino Unido, o �ndice � de 18% e nos Estados Unidos, 7,8%, segundo dados do Banco Mundial. Se o IPO do PagSeguro se confirmar, a empresa seguir� trajet�ria semelhante � de outras companhias brasileiras que optaram pela oferta de suas a��es nos Estados Unidos, como Netshoes e Azul.
No acumulado de janeiro a setembro de 2017, o PagSeguro obteve um lucro l�quido de R$ 290 milh�es, alta de 225% ante aos primeiros nove meses de 2016. J� a receita chegou a R$ 1,7 bilh�o no acumulado at� setembro. (PP)