
Ipatinga – Na porta da sala de visitas est� a gravura de um samurai sobre o mapa do Jap�o. Com precis�o cir�rgica, Masateru Kobayashi, de 76 anos “completos”, enrola o guerreiro, aponta a cidade onde nasceu no Jap�o, Kusatsu-machi, no estado de Gunma, e revela com simpatia: “Deixo o mapa aberto, pois sempre tem algu�m me perguntando de onde vim”. A exemplo de outros conterr�neos pioneiros em Ipatinga, no Vale do A�o, Kobayashi trabalhou, ainda adolescente e junto com a fam�lia, em lavouras de S�o Paulo antes de chegar a Minas para trabalhar.
A nova experi�ncia foi uma surpresa para o jovem de 20 anos, at� ent�o acostumado a plantar verduras e lavrar o solo. De repente, estava na linha de produ��o da usina sider�rgica. “Tive que me acostumar � nova linguagem, os termos t�cnicos, algo que nunca tinha visto.” A necessidade de trabalhar e ganhar a vida derrubou as barreiras, mas a falta de infraestrutura de Ipatinga, ent�o um distrito ligado por uma estrada barrenta � sede do munic�pio, Coronel Fabriciano, n�o passava em branco. “Era horr�vel. Para chegar a Belo Horizonte, por exemplo, gast�vamos 11 horas de trem e 9 de �nibus”, recorda. E enfrentar toda a dureza daqueles tempos, s� mesmo com paci�ncia. E isso Kobayashi teve de sobra, pois “muita gente n�o aguentou ficar e foi embora”.S�bio, o japon�s, que veio para Minas com tr�s irm�os, se lembrou de um ditado da sua terra – “nem que for em cima de uma pedra, voc� deve aguentar durante tr�s anos” e decidiu ficar. O alojamento, apelidado de Candangol�ndia, depois Bairro Amaro Lanari, em Coronel Fabriciano, tinha acomoda��es min�sculas, com ch�o de terra batida, beliches com colch�o de capim que espetava o corpo e um banheiro sui generis: o chuveiro era um tubo de meia polegada conectado a uma caixa-d�gua.
A exemplo de outros trabalhadores, para Kobayashi, o sal�rio “bem interessante” salvava a p�tria e ajudava a fixar a m�o de obra na usina. “O problema � que n�o t�nhamos onde gastar o dinheiro.” O tempo passou, Kobayashi teve quatro filhos e se tornou av� cinco vezes, sendo dois netos nascidos em Ipatinga. Ao lan�ar um olhar sobre os velhos tempos, conta que o amor pela pesca o livrou do t�dio.
“Hoje est� tudo polu�do, mas tinha as lagoas Silvana e do Bispo. Pesquei muito ali. Posso dizer que acompanhamos o crescimento da regi�o, que melhorou em tudo. N�o h� do que reclamar.” Na despedida, o rep�rter olha para a estante da sala e pede para ver uma placa que traz as bandeiras do Brasil e do Jap�o lado a lado e foi entregue ao trabalhador, em dezembro de 2011, pela dire��o da Unigal, empresa do grupo Usiminas. “Acho que tivemos influ�ncia nesta terra, principalmente quanto a hor�rio. O povo era meio relaxado quanto ao rel�gio”, explica Kobayashi, que s� fez dois inimigos no Vale do A�o: o feij�o e o alho.

ESCOLA DE IKEBANA O amor imenso pelas flores, consideradas instrumentos de paz, e outro tanto pela arte virou unanimidade na fam�lia do metal�rgico Kenji Inoue, de 81, e da mulher Kikuko Inoue, de 78, mestre em Ikebana. Em 1973, o casal chegou ao Brasil com tr�s filhas pequenas (Toshiko, Yoshiko e Taeko), mais especificamente a Bel�m (PA), para plantar pimenta-do-reino e difundir os ensinamentos de Tikufu Ota, pai de Kikuko, fundador do Centro Internacional Tikufukai. “O objetivo era ampliar os horizontes”, informa Yoshiko Honda, casada com Satoru e m�e de Makoto, de 13, e contabilizando a passagem de mais de 40 mil alunos no curso de ikebana (arranjos florais) na escola mantida pela fam�lia h� 45 anos.
A chegada da fam�lia Inoue a Minas – e em especial a Ipatinga, onde ocorreu “uma fus�o profunda de culturas”, segundo Yoshiko – tem lances cinematogr�ficos. Do estado pouco sabiam, a ideia inicial era mudar para Seattle, nos Estados Unidos, mas, ao chegar � cidade do Vale do A�o, Kenji pegou um t�xi na rodovi�ria e teve a sorte de o motorista falar japon�s. Ent�o se estabeleceu e trabalhou 18 anos na sider�rgica.
Na ter�a-feira, a equipe do Estado de Minas foi recebida pela fam�lia na casa do Bairro Ideal, podendo provar e aprovar a hospitalidade japonesa, bem como conhecer a arte de fazer arranjos com flores naturais (ikebana).
� mesa, al�m do casal Inoue, estava B�rbara, de 16, filha de Taeko. “Temos gratid�o por Ipatinga, houve muito respeito conosco. Se os japoneses trouxeram uma grande responsabilidade pelo trabalho, receberam de volta uma amizade calorosa e a alegria de viver dos brasileiros”, afirma Yoshiko. (GW e MV)
Esporte como heran�a

Em Carmo do Parana�ba, distante 350 quil�metros de Belo Horizonte, o esporte tamb�m marca a vida dos imigrantes japoneses e ajudou a aproxim�-los dos mineiros. As primeiras fam�lias desembarcaram na cidade de apenas 30 mil habitantes em 1973, para desbravar o solo. Oito anos mais tarde, integrantes das fam�lias Tanaka, Shimosaka, Sakaguti, Kawakami, Moriyama e Assanome criaram a Associa��o Esportiva Nipo Carmense.
A determina��o era resgatar a tradi��o japonesa do beisebol. Eles tamb�m criaram uma escola para ensinar a l�ngua japonesa. O time participou de grandes torneios, mas se ressentiu da falta de recursos para continuar naquele formato. Desde os anos 90, a associa��o investe no softbol, uma vers�o mais leve do beisebol, para manter a tradi��o. Do grupo de atletas, hoje, fazem parte 26 pessoas, sendo 10 associados e 16 n�o descendentes. A associa��o tem trabalhado e se esfor�ado para conseguir recursos.
A dissemina��o do esporte em Ipatinga � um dos orgulhos da comunidade japonesa, hoje estimada em cerca de 100 fam�lias: houve ganhos expressivos em nata��o e no jud�. D� para ver esse interesse, tanto que na sede da ANBI h� aulas de bujikan budo taijutsu (ninjutsu), arte marcial japonesa praticada pelos ninjas. “� uma arte milenar”, conta o professor Claudiney Miranda. (GW e MV)
OUTROS TEMPOS , OUTRO MAR
1974
O ent�o presidente Ernesto Geisel
e o primeiro-ministro japon�s Kakuei Tanaka assinam acordo para o
desenvolvimento da agricultura no cerrado, criando o Programa de
Coopera��o Nipo-brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados
(Prodecer). A implanta��o e o
assentamento de colonos come�aram por Minas Gerais, nos munic�pios de Ira� de Minas, Coromandel e Paracatu
1984
Em agosto, a CVRD, os grupos japoneses Kawasaki Steel Corporation e Mitsubishi Corporation, e a Metalur Mec�nica S.A fundam a Eletrovale
Ind�stria e Com�rcio, fabricante de ferro-sil�cio, que originou a Nova Era Silicon, nome adotado em 1992.
A empresa hoje pertence � JFE
Corporation, resultado da fus�o das sider�rgicas japonesas Nippon Kokan e Kawasaki Steel e � Mitsubishi
1986
O governo de Minas faz o pedido de empr�stimo ao banco japon�s JBIC ao Projeto Ja�ba (foto), que � formalizado em 1991, com per�odo de amortiza��o de 25 anos. O projeto foi implantado em 1977 com o objetivo de desenvolver a agricultura irrigada na regi�o,
ent�o denominada Mata do Ja�ba, entre os rios S�o Francisco e
Verde Grande
2012
A japonesa Panasonic inaugura sua primeira
f�brica de eletrodom�sticos no Brasil, em Extrema, no Sul de Minas, com
investimentos de R$ 200 milh�es. A empresa iniciou atividades no pa�s em 1967, mantendo f�bricas em
Manaus e S�o Jos�
dos Campos