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Estado de Minas

Mistura das culturas brasileira e japonesa completa 110 anos no Brasil e 60 em Minas

Fam�lias empreendedoras adotaram o estado e n�o param de produzir


postado em 14/01/2018 06:00 / atualizado em 14/01/2018 09:17

Tsuya Tahara chegou a Minas em 1960 para trabalhar, criou família e inspira nove netos, como Júlia Keika. No detalhe, o batismo na Igreja, quando Tsuya passou a ser conhecida como Helena e virou referência em Ipatinga, não só para os familiares, como para vizinhos e amigos(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press e Reprodução do livro Japoneses no Vale do Aço)
Tsuya Tahara chegou a Minas em 1960 para trabalhar, criou fam�lia e inspira nove netos, como J�lia Keika. No detalhe, o batismo na Igreja, quando Tsuya passou a ser conhecida como Helena e virou refer�ncia em Ipatinga, n�o s� para os familiares, como para vizinhos e amigos (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press e Reprodu��o do livro Japoneses no Vale do A�o)

Ipatinga – Katiam � o som suave, doce e carinhoso de uma palavra em japon�s que significa m�ezinha. Ao ouvi-la em casa, Tsuya Tahara, de 93 anos, atende os filhos e netos, e se sente bem � vontade, na rua, quando os vizinhos a tratam de forma t�o �ntima. Mas muitos a conhecem tamb�m por Helena, nome recebido no batismo, h� meio s�culo, no dia em que deixou o budismo para se converter ao catolicismo.

 “Os brasileiros s�o simp�ticos, tenho muitos amigos aqui”, afirma a senhora, nascida perto de T�quio, capital nip�nica, e residente desde 1960 em Ipatinga, no Vale do Rio Doce, aonde chegou com o marido e quatro dos seis filhos para trabalhar na Usiminas, usina sider�rgica constru�da gra�as � parceria comercial entre o Brasil e o Jap�o. Naquela �poca, a empresa iniciava a escalada no futuro Vale do A�o. O encontro da m�o de obra japonesa com os mineiros transformaria a regi�o tanto na economia quanto nas rela��es profissionais, na cultura, nos costumes, servi�os, esportes e outros setores da vida cotidiana.

 Em 2018, se completam 110 anos da vinda dos primeiros imigrantes japoneses para o Brasil. E s�o seis d�cadas de presen�a e do trabalho influenciado pelos pioneiros no Vale do A�o. Tsuya Tahara, av� de nove brasileiros e bisav� de Yan, de 6 anos, nascido em Ilh�us (BA), garante que tudo valeu a pena. “Banzai Nippon! E banzai Brasil (Viva o Jap�o! E viva o Brasil!)”, afirma com sorriso aberto e sinalizador da fus�o do “pa�s do sol nascente” com a terra onde ela e o marido, Munemi Tahara, ex-funcion�rio da sider�rgica e falecido em 2000, encontraram emprego e sustento para criar a fam�lia.

Entremeando frases com palavras nos dois idiomas, a ex-tradutora e funcion�ria da Usiminas se tornou, com a sua trajet�ria e participa��o comunit�ria, um retrato sem retoques da presen�a nip�nica no estado, cap�tulo ainda desconhecido de muitos mineiros. “Sou macaca velha”, afirma com bom humor em mineir�s para mostrar que se adaptou bem nas Gerais, ganhou respeito e at� foi brindada em muitas formas de tratamento.

 Sentada na sala de casa, no Bairro Cariru, em Ipatinga, a 209 quil�metros de Belo Horizonte, Tsuya Tahara revela que, nos prim�rdios, os japoneses tinham na l�ngua a grande barreira para o maior entrosamento com os brasileiros. Ela ri das confus�es com as palavras, para logo depois fechar o semblante e dizer que o come�o n�o foi nada f�cil, mesmo tendo deixado o pa�s natal mergulhado na mis�ria, enfrentado 43 dias num navio at� o porto de Santos (SP) e trabalhado numa fazenda de caf� no munic�pio paulista de Lins. “Aqui era muito diferente, n�o tinha quase nada. Bom mesmo era o sal�rio. Ganhava muito bem.”

 

 

ARCO DA AMIZADE No fim dos anos 1950, Ipatinga era um distrito de Coronel Fabriciano e a emancipa��o s� ocorreria em 1964. Sem servi�os b�sicos, principalmente maternidade, as crian�as vinham ao mundo pelas m�os de parteiras ou no hospital da sede do munic�pio. J� m�e de Mauro Noriyuki, Keika, Jorge e Roberto, paulistas, ela teve os dois �ltimos, J�lio e Julieta Yumi, em Coronel Fabriciano.

 Hoje cirurgi�o pl�stico, J�lio se tornou o primeiro filho de um funcion�rio da Usiminas a nascer na regi�o, “um dia depois do Natal, em 26 dezembro de 1960”. O fato enche de orgulho Tsuya Tahara, que nunca teve vontade de voltar a viver no Jap�o, mas l� jornais na sua l�ngua e gosta de dedilhar o shamisen e de cantar m�sicas japonesas, o que j� rendeu muitos trof�us e medalhas em concursos em S�o Paulo.

 Na manh� de quarta-feira, pontualmente �s 8h, quatro integrantes da fam�lia Tahara mostraram que a fus�o entre Jap�o e Minas veio para ficar, ao posar com entusiasmo diante do monumento criado em a�o pela escultora japonesa naturalizada brasileira Tomie Ohtake (1913-1925). O Arco da amizade foi inaugurado em abril de 2004.

 Abra�ado � filha J�lia Keika, de 21, nascida em Belo Horizonte e estudante de psicologia, � irma Keika e � m�e, J�lio diz que a semelhan�a entre mineiros e japoneses, no jeito reservado e capacidade de trabalho, pode ter impulsionado o desenvolvimento do Vale do A�o. Sempre bem-humorada, a senhora Tahara olha para a neta e define: “Ela � mesti�a”.



Bra�os e  la�os fortes

Juscelino Kubitschek preside a solenidade de cravação da estaca inicial da Usiminas, com o engenheiro Amaro Lanari Júnior, o embaixador Yoshiro Ando e o então governador Bias Fortes(foto: Reprodução do livro Japoneses no Vale do Aço)
Juscelino Kubitschek preside a solenidade de crava��o da estaca inicial da Usiminas, com o engenheiro Amaro Lanari J�nior, o embaixador Yoshiro Ando e o ent�o governador Bias Fortes (foto: Reprodu��o do livro Japoneses no Vale do A�o)
A hist�ria da fam�lia Tahara ajuda a construir um retrato fiel da miscigena��o entre as culturas brasileira e nip�nica em Minas. A Usiminas tornou-se a maior produtora de a�os planos do pa�s, tendo como principais acionistas o grupo japon�s Nippon Steel & Sumitomo Metal Corporation, presente desde a funda��o da empresa mineira, e o conglomerado �talo-argentino Ternium/Techint, desde 2012. Mineiros e japoneses se encontraram e desenvolveram fortes la�os movidos por uma caracter�stica que em Minas Gerais foi al�m do sonho de prosperar na vida, a uni�o de um Brasil em busca do capital estrangeiro para se desenvolver – pol�tica do ent�o presidente Juscelino Kubitschek –, e um Jap�o empenhado em mostrar ao mundo sua capacidade de produzir, embora desprovido de recursos naturais, e sua sofisticada tecnologia.

 Foi tamb�m desse casamento que surgiram outros grandes projetos retirados do papel com capital japon�s em Minas. Uma das parcerias mais famosas brotou das terras do cerrado, por meio do Programa Nipo-brasileiro para o Desenvolvimento do Cerrado (Prodecer). Financiado pela Ag�ncia Japonesa de Coopera��o e Desenvolvimento Internacional (Jica), a iniciativa levou recursos, tecnologia e m�o de obra ao campo. O bem-sucedido Ja�ba, hoje um polo exportador de frutas, recebeu recursos essenciais dos parceiros do Oriente.

 A sociedade com investidores japoneses ergueu em Belo Oriente, – vizinha de Ipatinga e que bem poderia ter herdado o nome da conviv�ncia entre as duas culturas, mas foi s� coincid�ncia –, uma das maiores produtoras de celulose branqueada de eucalipto no mundo, a Cenibra – Celulose Nipo-Brasileira. Brotaram ainda outros neg�cios, como a Nova Era Silicon, fabricante de ferro-sil�cio, sediada em Nova Era, na Regi�o Central do estado, e uma unidade mineira da Panasonic em Extrema, no Sul de Minas.

 Com a parceria entre dois povos que se mostraram t�o pr�ximos, embora provenientes de extremos geogr�ficos, o Jap�o se tornou o terceiro maior destino das exporta��es do estado e a produ��o mineira a principal fornecedora �quele pa�s de min�rio de ferro, caf�, celulose e soja. Economias que se complementaram, Minas e o Jap�o descobriram afinidades, como observa o c�nsul honor�rio do Jap�o em Minas, Wilson Brumer. “S�o povos que t�m semelhan�as na maneira introvertida de ser. Mineiros e japoneses s�o mais at� planejadores do que executores de tarefas. Demoram nas decis�es, mas quando decidem constroem rela��es duradouras.”

 A aproxima��o entre o Jap�o e o Brasil deve-se, em especial, ao ex-presidente Juscelino Kubitschek. Com a pol�tica expansionista, expressa no slogan “50 anos em 5”, ele trabalhou fortemente pela industrializa��o brasileira, abrindo o pa�s ao capital internacional, o que resultou na primeira onda dos investimentos japoneses. De acordo com a C�mara de Com�rcio e Ind�stria Japonesa do Brasil, dezenas de empresas do Jap�o pisaram em solo brasileiro no fim dos anos 50, de setores variados, como bancos, exporta��es, produ��o de tecidos, navios e autom�veis.

 O jornalista mineiro Carlos Alberto C�ndido, autor do livro Japoneses no Vale do A�o, publicado em 2008, faz refer�ncia � hist�ria contada pelo presidente da Usiminas de 1958 a 1976, o engenheiro Amaro Lanari J�nior, sobre a inten��o daquele pa�s aparentemente t�o distante: “Mostrar para o mundo inteiro que eram capazes de construir uma usina sider�rgica com equipamento japon�s”. Uma vez em produ��o, a usina brasileira serviria como porta de entrada do Jap�o no mercado de equipamentos da Argentina, Europa e Estados Unidos. (GW e MV)

 

 


OUTROS TEMPOS , OUTRO  MAR

1908
Em 18 de junho, chega ao porto
de Santos (SP) o navio
Kasato-Maru, trazendo o primeiro grupo com mais de 700
imigrantes, a partir de um acordo firmado entre os governos
brasileiro e japon�s.
O objetivo era suprir a m�o de obra que faltava nas fazendas de caf�. A maioria das fam�lias se
fixou em S�o Paulo e no Paran�


1956
Em 20 de abril, dentro do
interesse japon�s de
participar da implanta��o da Usiminas, chegam a Minas os engenheiros Masao Yukawa e Sadayoshi Morita, da Usina de Yawata, para examinar as condi��es geogr�ficas da
regi�o de Ipatinga – na
�poca, a cidade era um
distrito de Coronel Fabriciano


1958
Em abril, chega a Ipatinga a Miss�o de Coopera��o
para construir a usina
sider�rgica, chefiada por Yoshio Shiraishi, e um grupo da Construtora Kashima, que admitiu um grande n�mero de pessoas de origem
japonesa residentes no
Brasil, principalmente
em S�o Paulo

1962/63
Com o andamento das obras da Usiminas e o in�cio da opera��o (na foto,  inaugura��o do alto-forno), o n�mero de japoneses e
 familiares chega a mais de 350. Em 1967, a companhia recebe a visita do ent�o
pr�ncipe Akihito e da princesa Michiko, atuais imperador
e imperatriz do Jap�o

1973
Em 13 de setembro, a ent�o Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e a holding de investidores japoneses do ramo de papel Japan Brasil Paper and Pulp Resources Development Co. Ltd. (JBP) fundam a  Cenibra – Celulose Nipa Brasileira, em Belo Oriente,
 na Regi�o Central de Minas Gerais.
A JBP adquiriu o controle da
fabricante de celulose branqueada
de eucalipto em 2001

 

 


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