
S�o Paulo – Frases como “se eu n�o pagar por fora algu�m vai pagar” s�o mais comuns no ambiente corporativo nacional do que se pode imaginar. Pesquisa global feita pela empresa de consultoria e auditoria Ernst & Young (EY), que ouviu 2.550 executivos de 55 pa�ses, mostrou que para 96% dos profissionais brasileiros entrevistados as pr�ticas de suborno ou corrup��o ocorrem amplamente nos neg�cios. Para efeito de compara��o, em 2014, quando a Opera��o Lava-Jato, iniciada em 2009, prendeu Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras – naquele momento, as investiga��es sa�am do ambiente de lavagem de dinheiro e chegavam aos primeiros ind�cios de corrup��o –, esse n�mero era de 70%.

Para Guilherme Meister, s�cio da �rea de investiga��o e de fraudes da EY, a percep��o de que o ambiente de neg�cios no Brasil � impactado por atos de corrup��o ou suborno se acentuou desde 2014, quando entrou em vigor a Lei Anticorrup��o. “Antes, talvez a percep��o fosse distorcida. Mas as a��es do judici�rio tornaram esse assunto mais presente na vida das pessoas e das empresas”, avalia.

O especialista acredita que no Brasil ainda est� muito presente a cultura de criticar a corrup��o no plano das inten��es em vez de a��es mais objetivas. Para Jos� Francisco Compagno, s�cio da EY para a �rea de servi�os de auditoria, a pesquisa tamb�m chama a aten��o para o fato de um a cada cinco executivos com at� 35 anos estarem dispostos a pagar propina se for necess�rio para o �xito do neg�cio. Na faixa acima de 35 anos, essa propor��o alcan�a um a cada oito profissionais. “O que vai ocorrer quando essa faixa et�ria mais baixa assumir a lideran�a nas empresas?”, questiona.


Segundo Compagno, a propens�o maior dos mais jovens a pagar propina pode ter rela��o com a press�o por resultados e a dificuldade de compreens�o de que a corrup��o pode ser decisiva para interromper o desempenho e a perenidade de um neg�cio. “H� uma massa de jovens executivos mais tolerante a esse tipo de comportamento e isso preocupa”, completa Meister.
Ainda segundo o levantamento da EY, 18% dos executivos brasileiros dizem que determinadas pr�ticas s�o justific�veis se o objetivo for conquistar neg�cios, por exemplo, oferecer presentes e viagens, pagamentos em dinheiro ou at� mesmo manipular demonstra��es financeiras. Se serve de consolo, em 2014 20% afirmaram concordar com alguma dessas a��es.
Ao todo, 10% dos executivos brasileiros admitem que oferecer pagamentos em dinheiro pode ser justificado se eles ajudarem na sobreviv�ncia de um neg�cio durante uma crise econ�mica. Nos pa�ses desenvolvidos, esse n�mero � de 6%. J� entre os emergentes sobe para 19%.
Outro dado alarmante se refere � trivialidade com que a pr�tica de suborno � tratada. A cada cinco executivos brasileiros, um diz ser comum no setor em que atua o ato de subornar algu�m para ganhar contratos. A m�dia mundial � de 11% e nos pa�ses desenvolvidos esse n�mero � de 5%.
Integridade
Do total de executivos ouvidos no Brasil, 10% dizem que suas companhias sofreram algum tipo significativo de fraude nos �ltimos dois anos, mesmo n�mero constatado nos pa�ses desenvolvidos. No entanto, na Am�rica do Sul, esse n�mero sobe para 14%. Para 96% dos brasileiros, � muito importante ser capaz de demonstrar que a organiza��o onde trabalha opera com integridade. Na Am�rica do Sul a m�dia � de 99%.
Apesar do que dizem os especialistas em compliance, para metade dos executivos brasileiros a responsabilidade sobre a integridade da companhia deve ser individual, seguida pela �rea de administra��o (24%), compliance (12%), RH (6%) e conselho de administra (2%). Nas economias desenvolvidas, esse n�mero cai para 22%.
O ambiente regulat�rio � apontado por 60% dos executivos brasileiros como o fator que representa os maiores riscos para o neg�cio, enquanto a m�dia mundial � de 43%. J� os aspectos macroecon�micos s�o o segundo motivo de preocupa��o, com 50%, seguidos por fraude e corrup��o (44%), riscos geopol�ticos (30%), ciberataques (28%) e conformidade com a lei de concorr�ncia (12%). O terrorismo ficou de fora da lista dos profissionais ouvidos no Brasil.
Gra�as �s investiga��es no �mbito da Opera��o Lava-Jato, o Brasil inflou o n�mero de acordos entre empresas e a Justi�a americana baseados na Lei Anticorrup��o. Foram 11 acordos na regi�o em 2017. Isso ocorreu por causa dos neg�cios e contas em bancos que as companhias brasileiras denunciadas tinham nos Estados Unidos, o que levou a estender os efeitos das investiga��es da Pol�cia Federal e do Minist�rio P�blico Federal at� aquele pa�s.
Meister avalia que o caminho ainda seja longo at� que o discurso d� lugar a a��es de combate � corrup��o no ambiente empresarial. “Por enquanto, a intoler�ncia dos executivos quanto � necessidade de o neg�cio se manter �ntegro est� mais no campo das ideias, tanto que muitos ainda admitem pagar suborno”, explica. O que falta, segundo Compagno, � que seja disseminado no ambiente corporativo o fato de qualquer tipo de fraude colocar em risco uma companhia.