S�o Paulo – A decis�o do governo de aprovar o leil�o de seis distribuidoras de energia da Eletrobras, anunciada na �ltima sexta-feira, pode ter sido tomada em um momento nada favor�vel e influenciar negativamente no pre�o que se pretende obter com a venda das companhias. A avalia��o dos economistas � de que, apesar de a venda ser necess�ria, perdeu-se o melhor momento. Agora, al�m do agravamento da crise pol�tica, o pa�s passa por dificuldades em sua agenda econ�mica, especialmente na quest�o cambial.
Favor�vel �s privatiza��es, S�rgio Vale, economista da MB Associados, avalia que o governo ter� problemas ao optar por fazer a venda no meio do que ele chama de ‘turbul�ncia’ cambial e pol�tica. “Com poucos interessados, o leil�o pode ‘micar’”, avalia. A decis�o, segundo ele, deveria ter sido tomada antes. “Agora o pa�s est� quase parado e o grau de incertezas � muito grande. O resultado pode ser muito aqu�m do que se poderia obter sob outras condi��es”, explica.
Estatizantes
Segundo o economista da MB Associados, al�m da crise pol�tica e das dificuldades na economia, os investidores podem ter receio de participar do leil�o das distribuidoras por causa do atual cen�rio pr�-eleitoral. Ele lembra que dois dos candidatos com mais inten��es de voto nas pesquisas, Jair Bolsonaro e Ciro Gomes, s�o estatizantes. Com isso, h� o temor de que o processo de privatiza��o da Eletrobras n�o avance no novo governo e que seja adotada uma pol�tica intervencionista na companhia. “Esse j� � um setor escaldado com medidas de governos anteriores e pode ficar receoso de entrar mais pesadamente sem saber o que vai acontecer. Esses leil�es deveriam ter acontecido antes”, acrescenta Vale.

Assim como Vale, Andr� Perfeito, economista-chefe da Spinellii Corretora, tamb�m avalia que o cen�rio eleitoral poder� pesar negativamente na decis�o dos investidores por arrematar as distribuidoras. “Ciro Gomes j� disse que � contra a venda da Eletrobras. J� Bolsonaro e Marina Silva s�o duas pessoas sem muita capacidade de articula��o pol�tica. Fica dif�cil imaginar que eles consigam aprovar o leil�o da Eletrobras”, afirma.
Perfeito avalia que este n�o seja um bom momento para o leil�o das distribuidoras. “O Brasil est� muito malvisto e com tudo que est� acontecendo � de se esperar que as empresas sejam vendidas por um valor baixo. O governo vai vender um patrim�nio p�blico de gra�a e s� tomou essa decis�o agora para criar factoides e tentar comprar credibilidade diante de tantos problemas, como o c�mbio, para ganhar tempo”, critica o economista.
Coelho
Apesar de acreditar que o momento n�o � o melhor para o leil�o, o economista da �rama, Alexandre Esp�rito Santo, diz que esse pode ser um sinal que o governo d� ao mercado de que n�o est� inerte. “O governo est� acuado por uma s�rie de fatores, como a press�o cambial. Diante disso, � preciso buscar o que � menos ruim para o momento. � hora de tentar tirar um coelho da cartola, por isso o governo resolveu agir”, explica.
O economista da �rama acha dif�cil que o leil�o consiga atingir bons resultados financeiros para os cofres p�blicos. “N�o s�o ativos extremamente atraentes porque se trata de empresas que demandam investimentos pesad�ssimos. Racionalmente, quem decidir botar dinheiro no neg�cio vai ter de encontrar um desconto bem alto”, diz Esp�rito Santo.
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim, tamb�m acredita que a decis�o de leiloar as distribuidoras agora foi a melhor para o momento. “Um momento ideal talvez n�o chegue nunca. O governo precisa fazer a agenda caminhar, independentemente do desafio fiscal enorme que tem nas m�os”, afirma. Para ele, esse tipo de neg�cio tem como caracter�stica atrair investimentos de longo prazo, por isso pode ser que os problemas pol�ticos e econ�micos tenham um peso menor na equa��o.
Expert
O ativo mais atraente, segundo Paulo Cunha, consultor da FGV Energia, � a da Ceal, de Alagoas, que tem um neg�cio mais estruturado em rela��o �s outras distribuidoras. Para o especialista, o interesse dos investidores vai depender muito da modelagem para o setor que for aprovada no Congresso Nacional. “Mas esses ativos, de uma forma geral, t�m como atrativo o potencial de melhoria, que � muito grande. Com habilidade e expertise � poss�vel melhorar bastante o desempenho dessas empresas”, diz.
No neg�cio de distribui��o de energia, que no Brasil passa por um processo de consolida��o (a mais recente foi a compra da Eletropaulo pela Enel), depende da proximidade entre as opera��es para aumentar os ganhos com escala. Com a falta de ativos dispon�veis, uma alternativa para as operadoras desse setor � justamente crescer e melhorar seus resultados por meio de aquisi��es, explica o consultor da FGV Energia.
Por outro lado, no caso das distribuidoras da Eletrobras, os investidores precisar�o ter f�lego financeiro para reequipar as opera��es, montar equipes e renegociar d�vidas com o objetivo de melhorar o desempenho. “Por isso esse deve ser o tipo de ativo que far� mais sentido para quem j� atua no segmento, n�o para investidores”, afirma Cunha.
Empresa que ganhar no longo prazo
Para a ag�ncia de classifica��o de risco Moody’s, a aprova��o pelo governo do leil�o das distribuidoras da Eletrobras � positiva para o seu perfil de cr�dito. De acordo com o relat�rio de Cristiane Spercel, analista s�nior, apesar de as seis subsidi�rias serem deficit�rias, juntas elas representam 27% das receitas brutas consolidadas da Eletrobras. J� o preju�zo das empresas no ano passado chegou a R$ 4,5 bilh�es.
A analista lembrou em seu relat�rio que a Eletrobras ter� de fazer ajustes na estrutura de capital das seis empresas antes da venda. Isso acontecer� por meio da convers�o de m�tuos em capital e a transfer�ncia de d�vidas e de cr�ditos para a controladora
“No curto prazo, a sa�da bem-sucedida do neg�cio de distribui��o colocar� alguma press�o sobre as m�tricas de alavancagem da Eletrobras, mas, ao longo do tempo, ela ir� contribuir para melhorar as margens Ebitda (lucro antes de juros, impostos, deprecia��o e amortiza��o), na diminui��o das necessidades de investimentos e em resultados mais consistentes para a empresa”, avaliou Cristiane Spercel.