
S�o Paulo – Nesta quinta-feira, representantes do setor de aves e su�nos bater�o na porta do BNDES em busca de alternativas para minimizar os problemas enfrentados nos �ltimos meses pela cadeia de prote�na animal. Dirigentes da Associa��o Brasileira da Prote�na Animal (ABPA) v�o se encontrar no in�cio da tarde com Dyogo Oliveira, presidente da institui��o financeira. A entidade representa a cadeia dos su�nos, aves, ovos e mat�ria gen�tica.
Na pauta do encontro, conta Ricardo Santin, vice-presidente da ABPA, est� a proposta para que o BNDES abra uma linha de cr�dito espec�fica para o setor com prazos e taxas especiais. “Essa reuni�o � para pedir ajuda ao banco e conseguir enfrentar as dificuldades de forma sustent�vel”, diz.
Apesar do momento de fragilidade do setor, Pedro Parente, novo presidente da BRF, n�o vai participar do encontro com Dyogo Oliveira, j� que acabou de assumir o cargo e n�o faz parte da diretoria da ABPA. Ao lado da JBS, a empresa tem sido uma das mais penalizadas desde que o setor come�ou a enfrentar dificuldades que come�aram a se agravar em mar�o do ano passado com a Opera��o Carne Fraca, que investigou a adultera��o na certifica��o de produtos. Foi o suficiente para acender o sinal de alerta tanto no mercado interno quanto entre os compradores estrangeiros, que passaram a desconfiar da qualidade das mercadorias nacionais.
Depois disso, a PF realizou mais duas fases de investiga��o, batizadas de Ant�doto e Trapa�a. Um dos efeitos foi a queda de Abilio Diniz da presid�ncia do Conselho de Administra��o da BRF. Al�m dos problemas para vender seus produtos no exterior, a companhia tem sofrido com a desconfian�a dos investidores. BRF, que perdeu R$ 14,681 bilh�es de valor de mercado na bolsa desde o in�cio do ano, e JBS, que encolheu R$ 1,276 bilh�o (dados da Econom�tica), foram procuradas, mas n�o quiseram comentar o momento do setor.
De l� para c�, o setor de prote�na animal tem sido pressionado de todos os lados. T�o forte quanto o golpe sofrido pelas investiga��es policiais e sanit�rias vem sendo as dificuldades criadas pelos principais pa�ses compradores dos produtos brasileiros.
Em novembro passado, o governo russo embargou a carne su�na brasileira – o pa�s � o principal comprador internacional desse tipo de prote�na, com 40% do volume. A justificativa foi a presen�a de res�duos de ractopamina, um estimulador do crescimento dos animais.
O efeito da a��o da R�ssia foi imediato. No acumulado deste ano (de janeiro a maio), segundo dados do Minist�rio do Desenvolvimento, Ind�stria e Com�rcio Exterior (MDIC), o Brasil exportou 240 mil toneladas de carne su�na, gerando vendas de US$ 486 milh�es. O volume foi 10,6% inferior em rela��o ao mesmo per�odo do ano anterior, com queda de 23,8% na receita.
“A expectativa � de que aquele mercado seja reaberto para o produto brasileiro, mas sem d�vida o caso dos su�nos � o pior entre as prote�nas animais exportadas por conta da depend�ncia dos russos”, avalia C�sar de Castro Alves, analista da MB Agro.
Geladeira Outra decis�o internacional de grande impacto veio da Uni�o Europeia, que em abril decidiu descredenciar 20 frigor�ficos brasileiros. Como justificativa do bloco, foram apontadas “defici�ncias detectadas no sistema oficial de controle brasileiro”. “Trata-se de um mercado muito relevante. S� em 2017 foram exportados US$ 774 milh�es em aves para a UE. Aquele � o terceiro maior comprador brasileiro, com o detalhe que o pa�s exporta cortes nobres, mais caros’, explica Victor Ayres, assessor t�cnico de aves e supinos da Confedera��o Nacional da Agricultura (CNA).
Os n�meros refletiram o fechamento parcial do mercado europeu. Segundo o MDIC, de janeiro a maio houve uma queda de 8,7% na receita obtida com a exporta��o de aves (compara��o com os primeiros cinco meses de 2017) e de 6,5% no volume.
Diplomacia Para Ayres, decis�es como a da Uni�o Europeia s�o “barreiras diplom�ticas travestidas de sanit�rias”. ‘A UE sabe que haver� press�o por parte dos produtores brasileiros para que o Brasil ceda nas negocia��es para que seja firmado o acordo com o Mercosul, por isso decidiu descredenciar os frigor�ficos locais”, avalia o t�cnico, que qualifica o atual momento como “ca�tico”. Alves, da MB Agro, concorda: “Para o setor de aves, o ano est� sendo um inferno astral.”
No in�cio do m�s, foi a vez de a China criar dificuldades ao anunciar que vai impor um pre�o m�nimo para aves brasileiras. Terceiro principal destino dessa prote�na animal, o pa�s reclama da concorr�ncia desleal da produ��o do Brasil. O governo tenta negociar para suspender a medida, mas j� deu carta branca para que os t�cnicos da ABPA levantem informa��es para levar o caso � Organiza��o Mundial do Com�rcio (OMC). “Sempre tivemos apoio do governo, mas agora ele precisa ser mais forte. Esperamos que depois da tentativa de negocia��o dos minist�rios das Rela��es Exteriores, Desenvolvimento e Agricultura, a iniciativa parta do presidente Michel Temer”, afirma Santin.
Uma das exportadoras afetadas � a cooperativa C.Vale, do Paran�. Segundo Alfredo Lang, presidente, o momento � de conversa. “Estamos negociando com autoridades chinesas, encaminhando documenta��o que eles pediram e queremos mostrar que n�o estamos vendendo carne de frango abaixo do pre�o praticado no Brasil”, diz.
Para Lang, o Brasil vem sofrendo com retalia��es internacionais por ser um grande fornecedor de prote�na animal. “Nos pa�ses que compram nossa carne, os governos sofrem press�o dos produtores locais que enfrentam a concorr�ncia da carne brasileira. O outro motivo � que n�s mesmos demos as armas para usarem contra n�s quando o pa�s conduziu e divulgou mal a Opera��o Carne Fraca”, avalia.
Para o presidente da C.Vale, “houve uma escandaliza��o desnecess�ria motivada, em grande parte, por desconhecimento e exagero. Pegaram casos pontuais, tiraram conclus�es erradas e colocaram cadeias produtivas em risco com generaliza��es. A gente entende quando enfrenta obst�culos criados l� fora, mas n�o quando s�o criados pelo nosso pr�prio pa�s”, reclama.
Cai fatia do agroneg�cio no PIB brasileiro
Ano Participa��o (em %)
2007 22,72
2008 22,84
2009 21,52
2010 21,64
2011 21,03
2012 19,41
2013 19,17
2014 19,06
2015 20,54
2016 22,83
2017 21,59
Fonte: Cepea/CNA e IBGE – Contas Nacionais
PIB do agroneg�cio encolhe
Ano Valor (em R$ milh�es)
2007 1.280.129
2008 1.352.226
2009 1.272.767
2010 1.376.310
2011 1.390.327
2012 1.308.052
2013 1.330.592
2014 1.329.568
2015 1.381.992
2016 1.482.914
2017 1.416.199
Fonte: Fonte: Cepea/CNA e IBGE – Contas Nacionais