
S�o Paulo – Depois da paralisa��o dos caminhoneiros, a crise gerada em torno dos pre�os dos combust�veis pode ter efeitos negativos em diversos setores da economia, uma vez que o petr�leo alimenta, em maior ou menor propor��o, praticamente toda a produ��o de bens e servi�os no pa�s.
A oferta dos derivados pode influenciar desde o custo da lavoura de tomates, por exemplo, que t�m de ser transportados da horta at� os centros de consumo, � toda a cadeia da fabrica��o do pl�stico, mat�ria-prima dependente do insumo para a sua produ��o.
Com a atual pol�tica da Petrobras, adotada na gest�o de Pedro Parente, de calibrar os pre�os dos combust�veis de acordo com a varia��o das cota��es do barril de petr�leo, sempre haver� a amea�a de uma nova onda de aumentos no valor cobrado nas refinarias e nos postos.
Por isso, fala-se agora na possibilidade de usar a varia��o dos tributos sobre os combust�veis, como PIS, Cofins e Cide, para compensar a disparada do pre�o. Se ele subir, caem os impostos.
Qualquer problema relacionado � alta dos combust�veis que surja a partir de agora ter� de conviver com um outro complicador externo, segundo o economista-chefe da consultoria MB Associados, S�rgio Vale. Trata-se da rea��o do Pal�cio do Planalto � greve dos �ltimos dias.
“O governo foi extremamente fraco, por isso vai ser dif�cil colocar racionalidade na discuss�o sobre uma pol�tica de pre�o dos combust�veis. Abriu-se a caixa de pandora e isso pode gerar consequ�ncias graves daqui para frente, com outros setores fazendo as mesmas reivindica��es”, avalia.
Por outro lado, afirma S�rgio Vale, a partir de agora tanto os pre�os do barril de petr�leo quanto a valoriza��o da moeda americana podem se acomodar, o que minimizaria o risco nova onda de avan�o dos combust�veis. O economista acredita que a cota��o do d�lar j� tenha chegado no teto.
Em rela��o �s cota��es do petr�leo, Vale lembra que, recentemente, a Ar�bia Saudita e a R�ssia anunciaram que podem elevar a oferta, o que teria for�a para baixar o pre�o da mat�ria-prima.
“Se o acordo entre os dois pa�ses for cumprido, deve haver descompress�o no pre�o. De toda forma, ser� preciso discutir como suavizar esses repasses da alta de pre�o para o consumidor”, diz o economista-chefe da MB.
Outra forma de acelerar a descompress�o sobre os pre�os dos combust�veis seria o aumento da concorr�ncia no setor de refino de petr�leo, dominado pela Petrobras, com 13 das 17 refinarias instaladas no pa�s. Esse predom�nio d� � gigante brasileira 95% da produ��o de gasolina do pa�s.
“A venda de quatro parques da Petrobras vai melhorar a disputa comercial no setor de petr�leo”, afirma Jo�o Luiz Zu�eda, s�cio da consultoria Maxiquim. “A solu��o est� em dar maior competitividade no setor de petr�leo por meio desse desinvestimento da Petrobras”.
Pouca margem Al�m disso, Zu�eda lembra que tamb�m h� poucos competidores atuando na produ��o de derivados de petr�leo. Com a falta de op��o para comprar as mat�rias-primas, a ind�stria tem pouca margem na hora de negociar pre�o.
O setor qu�mico � um dos mais impactados pelas varia��es do pre�o do barril de petr�leo e do d�lar, como lembra F�tima Giovanna Coviello Ferreira, diretor de economia e estat�sticas da Associa��o Brasileira da Ind�stria Qu�mica (Abiquim).
Com a alta dos �ltimos meses, o aumento de custos j� � fato; s� n�o � poss�vel afirmar quando ele come�ar� a ser repassado para os pre�os, de acordo com a executiva.
“O momento � delicado por causa da combina��o de alta do petr�leo e do c�mbio, mas infelizmente n�o h� muita op��o”, diz Giovanna Ferreira.
“As duas vari�veis que afetam o setor est�o ocorrendo de forma simult�nea. Por outro lado, temos hoje uma capacidade ociosa na ind�stria de 26%. Essas incertezas se aproximam cada vez mais da economia real e n�o sabemos qual ser� a rea��o depois da greve dos caminhoneiros”, diz.
Al�m da ind�stria qu�mica, os setores petroqu�mico e farmac�utico e o agroneg�cio tamb�m s�o afetados pela combina��o explosiva da valoriza��o do petr�leo e do d�lar. Por isso, observa Zu�eda, com a recomposi��o dos pre�os � de se esperar que haja um reflexo na infla��o. “A diferen�a � que agora a infla��o est� bem mais baixa, ent�o o impacto ser� menor do que o visto em outros per�odos”, acredita o s�cio da Maxiquim.
Infla��o
Apesar de a press�o sobre a infla��o ser menos amea�adora agora, n�o se deve desprezar o fato de o petr�leo estar presente em quase toda a cadeia produtiva – desde os fertilizantes at� as embalagens pl�sticas dos produtos de limpeza e dos cosm�ticos.
“Algum repasse de aumento de custos ter� de ocorrer”, avisa Jos� Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associa��o Brasileira da Ind�stria do Pl�stico (Abiplast).“Claro que o ambiente n�o permite que seja feito (o repasse ao consumidor) de uma vez s�, mas ele vir�.”
Para Roriz, o ideal para amenizar os impactos dessas varia��es de custo seria ter a m�dia m�vel de pre�o que permitisse administrar os mecanismos de aumento. “N�o defendo o congelamento do pre�o dos combust�veis”, diz o executivo.
“Sabemos pela experi�ncia do passado que esse tipo de interfer�ncia n�o funciona. Mas o fato � que hoje temos uma desorganiza��o em v�rias cadeias produtivas num ambiente de monop�lio no refino de petr�leo. Isso fica ainda mais grave quando as empresas est�o vulner�veis pela crise econ�mica”, afirma.
Segundo o presidente da Abiplast, o aumento da concorr�ncia certamente teria minimizado os impactos tanto da alta do petr�leo quanto da greve dos caminhoneiros. Para o agroneg�cio, explica Renato Conchon, coordenador do n�cleo econ�mico da Confedera��o da Agricultura e Pecu�ria do Brasil (CNA), a desvaloriza��o do real e o aumento do pre�o do petr�leo nos �ltimos meses est�o corroendo a rentabilidade no campo em diferentes atividades, como o plantio de arroz e a pecu�ria de leite.
“Como as safras est�o boas, n�o deve haver repasse para o pre�o dos alimentos. Mas n�o h� d�vida de que a conta para o produtor est� aumentando”, diz. Segundo Conchon, o que mais impacta o setor � a oscila��o do d�lar, que se acentuou no �ltimo m�s. Isso torna muito dif�cil tanto para o agente financeiro quanto para o agricultor fazer previs�es sobre o ambiente de neg�cios.
No caso do petr�leo, existe uma influ�ncia sobre o custo de produ��o que varia segundo a localiza��o e a atividade. No caso do cultivo de cereais e oleaginosas, por exemplo, o impacto � de cerca de 6%, mas pode chegar a 12% para a pecu�ria leiteira.
J� a m�o de obra, insumos, fertilizantes e sementes sofrem com a alta do d�lar e do petr�leo. “N�o bastasse isso, ainda temos o problema da economia, que n�o est� crescendo, e as elei��es de outubro. Ser� um ano dif�cil”, analisa o representante da CNA.