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Estado de Minas

Nova onda do chocolate gourmet resgata setor cacaueiro

Demanda crescente pelo produto com mais cacau estimula investimentos de fabricantes como Nestl� e Barry Calebaut, que atua em Extrema. A corrida reflete em fazendas da Bahia


postado em 29/07/2018 07:00 / atualizado em 29/07/2018 16:17

Barras de chocolate gourmet produzidos por empreendedores da Região de Ilhéus, no Sul da Bahia(foto: Marcilio de Moraes/EM/D.A Press )
Barras de chocolate gourmet produzidos por empreendedores da Regi�o de Ilh�us, no Sul da Bahia (foto: Marcilio de Moraes/EM/D.A Press )

Os cacauicultores do Sul da Bahia est�o investindo na mudan�a da embalagem do seu principal produto: o cacau. A estrat�gia, a cargo de um grupo de novos empreendedores – muitos deles descendentes de antigos coron�is da regi�o –, promete dar novo impulso � cultura do fruto presente no litoral Sul baiano desde 1746, com salto hist�rico do saco de 60 quilos de am�ndoas de cacau para barras a partir de 60 gramas de chocolate premium. A explica��o para a mudan�a, iniciada h� cerca de uma d�cada, e que agora ganha mais espa�o no mercado, � simples: com a arroba do cacau cotada em cerca de R$ 140, o quilo do fruto fica pr�ximo de R$ 9, enquanto na vers�o de barras com no m�nimo 40% de cacau (o tradicional no mercado tem 25%), o valor do quilo passa de R$ 250.

Al�m de agregar valor, a mudan�a est� encontrando campo f�rtil entre os consumidores brasileiros. “O chocolate premium ou gourmet � feito de forma mais artesanal e esse segmento tem crescido muito”, afirma Ubiracy Fonseca, presidente da Associa��o Brasileira da Ind�stria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab). Nos �ltimos anos, a produ��o de chocolates amargos (com maior teor de cacau) aumentou sua participa��o no mercado total de chocolates brasileiros de 2% em 2014 para 5% atualmente, segundo Fonseca. Em volume, se trata de aumento de pouco mais de 10 mil toneladas para 25 mil toneladas em 2017.

Hoje, a Abicab n�o faz levantamento de pre�os, mas estudo apresentado pela entidade em 2014 previa que o segmento de chocolate premium chegaria este ano ao faturamento de R$ 2,9 bilh�es. Sem fazer proje��es financeirais, Ubiracy Fonseca diz que o mercado de chocolates deve crescer 3% em 2018, aqu�m da expans�o dos produtos gourmet. � no embalo de um crescimento de mais de 10% ao ano nos �ltimos anos, na maior aceita��o dos consumidores por chocolates com mais cacau e no apelo de alimento saud�vel que os produtores de chocolate premium do Sul da Bahia est�o devolvendo vida �s centen�rias fazendas de cacau em Ilh�us e munic�pios vizinhos.

Renascimento
� nas propriedades que foram “abandonadas” ou fechadas a partir de 1989, depois que a praga da vassoura- de- bruxa (fungo que ataca a brota��o da planta) devastou a cultura na regi�o, derrubando a produ��o de 400 mil toneladas/ano em 1988 para 90 mil toneladas/ano em 2000, que o cacau est� ganhando novo destino. Quase 20 anos depois, a volta dos descendentes das fam�lias tradicionais da cacauicultura da regi�o �s suas propriedades deu in�cio � produ��o de chocolates gourmet na regi�o.

Em 2007, a Amma Chocolates e a Fazenda Riachuelo – que daria origem, em 2013 � Mendo� Chocolates – iniciaram pesquisas e o desenvolvimento de plantas mais resistentes ao fungo e com am�ndoas de melhor qualidade para produ��o de chocolate. Dois anos depois era realizado o primeiro Chocolat Bahia – Festival Internacional do Chocolate e Cacau, em Ilh�us.

“Em 2009, t�nhamos apenas uma marca (a Amma) e hoje s�o 70 marcas, com 90% delas de pequenos e m�dios produtores. Isso surgiu a partir da verticaliza��o, que foi uma possibilidade por causa da vassoura -de- bruxa e da op��o por produzir chocolates com mais cacau”, afirma Marco Lessa, organizador do evento e propriet�rio da Chor Chocolate de Origem. Lessa comemora a expans�o do evento, que atraiu 10 mil pessoas na primeira edi��o e neste ano recebeu cerca de 65 mil pessoas no Centro de Conven��es de Ilh�us, onde 120 expositores apresentaram produtos e servi�os de 18 a 22 deste m�s. Segundo Marco Lessa, foram investidos R$ 1,5 milh�o na d�cima edi��o do festival, que gerou neg�cios estimados em R$ 15 milh�es.

Aposta na sofistica��o

Certos de que o chocolate contendo mais quantidade de cacau e de boa qualidade pode repetir a hist�ria de produtos que alcan�aram um patamar de sofistica��o no mercado brasileiro, como as cervejas artesanais, o caf� e o azeite, os produtores de cacau que est�o produzindo tamb�m chocolate (tree to bar – d� �rvore ao chocolate) se multiplicam em Ilh�us e nos munic�pios vizinhos, com alguns transportando as am�ndoas das fazendas na Bahia para f�bricas em S�o Paulo, Bras�lia e outras cidades do pa�s. “S�o produtos voltados para a qualidade, com foco na sa�de, no alimento funcional, no alimento sensorial”, diz Gerson Marques, dono da marca Yrer� e presidente da rec�m-criada Associa��o dos Produtores de Chocolate do Sul da Bahia.

Com investimentos de R$ 3 milh�es em uma f�brica de chocolate com capacidade para produzir 12 toneladas por m�s, a Chor e a Fazenda Sagarana, parceiras no empreendimento, integram a associa��o, que re�ne 17 produtores, quase todos ligados a fam�lias tradicionais que retornaram aos neg�cios do cacau. “Nossa fazenda ficou abandonada 15 anos”, conta Juliana Aquino, que voltou � Fazenda Santa Rita, em Arataca, no Sul da Bahia, com o marido, Tuta Aquino, com a inten��o de agregar valor ao cacau e aperfei�oar a am�ndoa para atender ao mercado bean to bar (da am�ndoa ao chocolate) dos Estados Unidos.

Nesse processo, Tuta e Juliana come�aram, na fazenda de 400 hectares (60 hectares com cacau), a produ��o de chocolate da marca Baian�. Hist�ria semelhante para contar tem Pedro Magalh�es, que h� 16 anos come�ou a plantar variedades diferentes em �reas separadas na Fazenda Lajedo do Ouro, em Ibiritaia, Sul da Bahia. “Separado num bloco de 12 hectares com cinco concentra��es e tr�s variedades em lotes de 2,5 hectares, o processo d� ao cacau um gosto particular”, afirma o propriet�rio da Var Chocolates, que criou o conceito de terroir, nos 200 hectares de cacau da fazenda.

Rog�rio Kamei, que produz a marca Mesti�o, trabalha com o conceito de varietais na sua fazenda de 237 hectares, em Itacar�, Sul da Bahia, onde o cacau ocupa 140 hectares. Amado Cacau, Cacau do C�u, Maltez, Maia, Coroa Azul e Modaka s�o outras marcas que integram a associa��o e est�o ganhando espa�o no mercado nacional. “As pessoas come�am a se identificar com nossas marcas de chocolate e ainda h� muito o que avan�ar, porque somos cerca de 50 produtores de chocolate num universo de 30 mil produtores de cacau”, observa Gerson Marques.

 

Empresários que fazem parte da Associação de Produtores de Chocolate do Sul da Bahia exibem seus produtos, elaborados com cacau fino da região (foto: Marcilio de Moraes/EM/D.A Press )
Empres�rios que fazem parte da Associa��o de Produtores de Chocolate do Sul da Bahia exibem seus produtos, elaborados com cacau fino da regi�o (foto: Marcilio de Moraes/EM/D.A Press )

Am�ndoa reconhecida nas lavouras baianas
Os munic�pios do Sul da Bahia se consolidam como novo polo de produ��o de chocolates gourmet no pa�s, mas o processo que est� reativando a lavoura cacaueira na regi�o teve in�cio h� aproximadamente 15 anos com a busca de uma am�ndoa com mais qualidade e de maior valor de mercado. Com cerca de 35 mil produtores em uma �rea superior a 450 mil hectares distribu�da por 83 munic�pios, a am�ndoa de cacau do Sul da Bahia recebeu este ano o selo de Indica��o Geogr�fica, na esp�cie de Indica��o de Proced�ncia, do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).

Esp�cies mais produtivas e resistentes a pragas, melhores t�cnicas de colheita, fermenta��o e secagem das am�ndoas garantem um chocolate melhor e rendem pre�os at� 100% superiores ao valor da commodity. “N�o temos dados de mercado, mas os produtores est�o conseguindo pr�mios de 70% e at� mais de 100%, no caso de uma empresa que comprou mais de 100 toneladas”, afirma Cristiano Santana, da Associa��o Cacau Sul Bahia, que re�ne oito cooperativas e sete associa��es e que representa mais de 3 mil produtores.

Essa busca de qualidade e de valoriza��o das am�ndoas deu origem � Mendo� Chocolates, uma das maiores f�bricas da regi�o. Ela nasceu da busca de uma am�ndoa de mais qualidade. “No in�cio, se buscava vender cacau com mais qualidade”, conta Raimundo Camelo Moror�, s�cio-gerente da empresa e respons�vel pelo in�cio das pesquisas na Fazenda Riachuelo. “O cacau est� cotado a US$ 2 mil a tonelada e n�s exportamos 24 toneladas este ano, com valor de aproximadamente US$ 8.700 por tonelada”, observa Moror�, um dos maiores especialistas em cacau no pa�s. (MM)

Operário preenche forma de chocolate na fabrica da Mendoa Chocolates, na região de Ilhéus, no Sul da Bahia(foto: Marcilio de Moraes/EM/D.A Press )
Oper�rio preenche forma de chocolate na fabrica da Mendoa Chocolates, na regi�o de Ilh�us, no Sul da Bahia (foto: Marcilio de Moraes/EM/D.A Press )
Gigantes se movimentam

Os investimentos do cacaueiro � produ��o de chocolates ainda t�m muito espa�o para avan�ar. Apenas 5% das 120 mil toneladas de am�ndoas produzidas no Sul da Bahia no ano passado foram destinadas � produ��o de chocolate na regi�o, ou 6 mil toneladas. Os outros 95% s�o destinados �s ind�strias moageiras. Esse movimento chamou a aten��o das grandes marcas.

A Nestl� lan�a no m�s que vem no Brasil a linha Les Recettes de L’Atelier, j� lan�ada na Su��a e na Fran�a, em 2014, e que marca sua entrada no mercado de chocolates premium no Brasil, o primeiro pa�s da Am�rica Latina a receber as barras de chocolate nas vers�es amargo (70% a 80% de cacau) e ao leite com peda�os de frutas e castanhas.

J� o s�cio-fundador da Natura, o empres�rio Guilherme Leal, lan�ou no ano passado a marca Dengo, com barras de chocolate nas vers�es de 36% a 75% de teor de cacau, e sem a��car, al�m de bombons recheados com frutas brasileiras, como caju e cupua�u. E a gigante su��a Barry Calebaut, maior produtora de chocolate do mundo, investiu US$ 11,5 milh�es na sua f�brica, em Extrema, no Sul de Minas para expandir a produ��o a partir de 2015 e atender ao mercado de chocolates gourmet. Esses movimentos confirmam a aposta dos empreendedores do Sul da Bahia de produzir chocolate de qualidade a partir do cacau plantado na regi�o h� 272 anos. (MM)

Receita de R$ 1,4 bilh�o

A estimativa do governo da Bahia � de que a cultura do cacau movimente R$ 1,4 bilh�o por ano na regi�o, com a gera��o de 100 mil empregos na produ��o, feita no sistema agroflorestal conhecido como cabruca. Os p�s de cacau s�o plantados � sombra das grandes �rvores da mata atl�ntica. Neste ano, devem ser produzidas 143 mil toneladas de cacau no Sul da Bahia, segundo levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica IBGE). Em todo o pa�s, devem ser colhidas 272,7 mil toneladas.


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