
S�o Paulo – Tr�s anos atr�s, o empres�rio Vitor Giansante, s�cio-propriet�rio da Boali (abrevia��o de Boa Alimenta��o), decidiu juntar a fome com a vontade de comer, como se diz no jarg�o popular. Ao perceber que havia pouca op��o de locais que oferecessem um card�pio saud�vel na capital paulista, decidiu montar uma rede de restaurantes com essa proposta.
Embora afirme que nunca foi um “natureba”, queria empreender em um segmento pouco explorado e, de quebra, ajudar a desmistificar que comida para ser saborosa precisa ser cal�rica. “Principalmente as metr�poles brasileiras s�o carentes de alternativas de alimenta��o saud�vel. Ent�o, quis dar a oportunidade �s pessoas de se alimentarem de forma saud�vel e prazerosa”, diz Giansante. Em raz�o da cren�a de que comida saud�vel n�o � gostosa, muitos deixam de sequer prov�-las.”
Atualmente, a Boali � maior rede brasileira de restaurantes do segmento no pa�s, com 34 lojas em opera��o em 10 estados, al�m do Distrito Federal. A empresa tem ganhado musculatura � medida em que os brasileiros buscam, cada vez mais, um card�pio com produtos naturais e menos industrializados, incluindo alimentos integrais, como quinoa, linha�a e massas sem gl�ten ou lactose.
De janeiro a abril deste ano, a Boali cresceu 10% e deve fechar o ano com faturamento de R$ 36 milh�es. Com esse desempenho, Giansante j� planeja a abertura de mais 12 unidades at� o fim de dezembro. Os planos incluem aumentar a presen�a na capital e abrir novas pra�as no interior e na Grande S�o Paulo. “O mercado de alimenta��o saud�vel no Brasil ainda est� se desenvolvendo, e temos um longo caminho pela frente”, afirma.
Um dos obst�culos – talvez o maior de todos – para um avan�o mais acelerado do segmento de alimenta��o saud�vel � o fator pre�o. Como a premissa � n�o trabalhar com nenhuma mat�ria-prima altamente industrializada, h� custos maiores na hora de comprar de fornecedores de alimentos in natura ou org�nicos.
Em m�dia, os produtores cobram 40% mais pelo mesmo ingrediente, algo que reduz a competitividade do segmento na concorr�ncia direta com os restaurantes tradicionais ou as redes de fast-food. “Na guerra de pre�os que enfrentamos hoje, acabamos nos prejudicando. Mas temos a certeza de que, cada vez mais, as pessoas v�o perceber que vale a pena gastar R$ 2 a mais em uma refei��o limpa e n�o colocar tantos produtos qu�micos e mat�rias-primas cheias de conservantes dentro do pr�prio corpo”, argumenta Giansante.
O discurso pr�-sa�de do empres�rio da Boali � endossado pelos n�meros que projetam o potencial de crescimento do setor. Segundo o instituto de pesquisas Euromonitor Internacional, at� 2021 o mercado de alimenta��o saud�vel no Brasil deve crescer, em m�dia, 4,4% por ano.
Em 2017, o setor de bebidas e alimentos saud�veis movimentou R$ 93,6 bilh�es em vendas, garantindo ao Brasil a 5ª posi��o do ranking dos pa�ses. Nos �ltimos cinco anos, o apetite por alimentos naturais fez as vendas crescerem a uma taxa m�dia de 12,3% ao ano. Na m�dia mundial, o percentual ficou em torno de 8%. “Estamos percebendo um crescimento das vendas em 2018, j� que desde o come�o deste ano h� um aumento significativo no n�mero de investidores em busca de neg�cios”, afirmou a diretora de opera��es da rede Mundo Verde, Daniela Heldt.
Avan�o firme A Mundo Verde, comprada pelo bilion�rio Carlos Wizard Martins em 2014, est� se consolidando como uma pot�ncia no varejo de alimenta��o saud�vel. A empresa prev� alcan�ar um faturamento de R$ 650 milh�es at� 2020, inclusive com o lan�amento de produtos de marca pr�pria. Atualmente, essa categoria de mercadorias representa 15% do total comercializado em suas prateleiras, percentual que deve chegar a 50% daqui a dois anos. “A expans�o dos neg�cios no segmento de org�nicos e saud�veis est� apenas acompanhando uma importante mudan�a nos h�bitos de consumo dos brasileiros”, diz F�bio Rech, economista especializado em varejo pela Funda��o Getulio Vargas (FGV).
Na carona dessa mudan�a de h�bitos, muitas empresas est�o conseguindo vitaminar seus resultados. Prova disso � a rede Dagosto Bistro, que vem ganhando popularidade no Rio de Janeiro. A empresa oferece no card�pio uma s�rie de op��es de pratos, desde caf� da manh� completo at� o jantar leve. De acordo com a fundadora, Val�ria Ramos, a ess�ncia do neg�cio � acompanhar os clientes durante todo o dia. “N�o h� quem resista a uma refei��o com ingredientes frescos e sem conservantes, com a diferen�a de ser ainda preparada rapidamente como em uma rede de fast-food”, afirma.
Para o Conselho Brasileiro da Produ��o Org�nica e Sustent�vel (Organis), o processo de desindustrializa��o dos alimentos � um caminho sem volta. Com a populariza��o do segmento, os pre�os tendem a cair porque haver� mais escala de produ��o. A cada ano, surgem novas empresas dedicadas, segundo Cobi Cruz, diretor do Organis. “Como o aumento de produtores rurais de produtos org�nicos, o custo dos restaurantes desse segmento ser� menor, e ficar� mais acess�vel ao bolso do consumidor brasileiro”, diz.
Pelos c�lculos da Organis, o setor deve crescer 20%, neste ano, e movimentar acima de R$ 4 bilh�es. Os n�meros incluem tamb�m os segmentos t�xtil e de cosm�ticos, mas 70% do faturamento vir� de alimentos como hortali�as, frutas e gr�os. “H� uma demanda grande por alimentos saud�veis entre os consumidores e, apesar da crise econ�mica que o Brasil enfrenta, esse aumento se manteve”, acrescenta Cruz. Apenas como compara��o, o mercado americano movimenta US$ 50 bilh�es por ano com alimenta��o saud�vel, cifra que comprova o imenso potencial de crescimento por aqui.
Suplementos em alta
O movimento de expans�o do segmento de alimenta��o saud�vel est� puxando para cima um outro mercado: o de suplementos vitam�nicos e produtos de nutri��o esportiva, mercado que faturou cerca de R$ 200 milh�es no Brasil em 2017 e US$ 20 bilh�es o mundo, segundo a Euromonitor.
Desse total, 70% se devem a produtos como prote�nas – conhecidas como whey protein. L�der dessa �rea no mercado brasileiro, a NCS NutriCare Suplementos, que responde por cerca de 65% de todas as vendas no pa�s e tem sob o seu guarda-chuva a marca Import Sports, deixar� de apenas importar para tamb�m produzir localmente.
A empresa comprou no in�cio do m�s a f�brica de vitaminas Evers, em Vinhedo (SP), e conseguir� dobrar de tamanho em quatro anos, segundo o CEO Sandro Sant’Anna. “O Brasil est� hoje, em termos de consumo e maturidade do mercado, no est�gio em que estavam os Estados Unidos h� dez anos”, afirma o executivo.
Em opera��o, a f�brica do interior paulista conseguir� suprir aproximadamente 20% dos neg�cios dos 2,5 mil pontos de venda que distribuem a NCS no Pa�s. “Estamos entrando em novos campos da nutri��o, inclusive fornecendo vitaminas para a produ��o de grandes laborat�rios, como o Crist�lia e o Iridium Labs”, diz Sant’Anna.
