S�o Paulo – A ind�stria brasileira da beleza comprovou, na pr�tica, durante os �ltimos anos, a tese de que em per�odos de turbul�ncia econ�mica cresce a demanda por produtos que elevam a auto estima, como cremes, perfumes e maquiagens. Esse fen�meno, conhecido como “efeito batom”, tem atra�do investimentos milion�rios das maiores empresas globais do setor, como a francesa L’Or�al, e ajudado a rejuvenescer o terceiro maior mercado mundial de cosm�ticos, atr�s apenas de Estados Unidos e Jap�o.
"Os n�veis de confian�a melhoraram, mas ainda est�o num patamar baixo porque os impostos impedem um desempenho melhor"
Jo�o Carlos Bas�lio, presidente da Abihpec

O pano de fundo � criar itens espec�ficos para a pele brasileira, al�m de pesquisar as tend�ncias de um dos mercados considerados mais inventivos e sofisticados no mundo, segundo a companhia. O projeto do BIC, constru�do em �rea de 320 metros quadrados, ter� mais de 300 funcion�rios – sendo 20 deles pesquisadores dedicados ao desenvolvimento de f�rmulas – seguir� os padr�es de qualidade do Asian Innovation Center (AIC), aberto pela Pierre Fabre em 2015, no Jap�o.
A unidade brasileira integra or�amento anual de 175 milh�es de euros em pesquisas e desenvolvimento. “Seremos capazes de oferecer boas f�rmulas e bons produtos. Num primeiro momento, no Brasil. Depois, � para ultrapassar fronteiras”, disse a diretora-geral Nuria Perez-Cullel. No ano passado, a Pierre Fabre do Brasil, que mant�m opera��es desde 1985, obteve faturamento R$ 300 milh�es, aumento de 10% na compara��o com 2016. Em todo o mundo, a empresa faturou 2,3 milh�es de euros, com neg�cios em mais de 130 pa�ses.
Os grandes investimentos de L’Or�al e Pierre Fabre se justificam pela for�a do mercado brasileiro, que tem mostrado resili�ncia mesmo nos per�odos mais agudos da crise. A Associa��o Brasileira da Ind�stria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosm�ticos (Abihpec) projeta expans�o de 8% no faturamento de 2018 no g�nero beleza, sobre os US$ 72 bilh�es contabilizados no ano passado. O crescimento nas vendas on-line tamb�m � atribu�do ao envolvimento masculino em tratamentos est�ticos e na compra de produtos de beleza.
O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial do universo de homens que buscam itens para fins est�ticos, segundo indicador da empresa de pesquisa Euromonitor Internacional, atr�s somente dos Estados Unidos. O p�blico masculino j� responde por 30% das vendas totais. Al�m disso, o com�rcio eletr�nico tem ajudado a aquecer as vendas do setor. Pesquisa da plataforma digital Sophia Mind revela que 88% das mulheres brasileiras usaram a internet para obter informa��es de produtos, processos de compras e tutoriais de beleza em 2017, frente a 58% em 2013.
Levantamento de dados feito pela Nuvem Shop, um dos maiores market place do pa�s, endossa esse movimento. De acordo com o estudo, o setor evoluiu 107% no primeiro trimestre do ano comparativamente ao mesmo per�odo medido no exerc�cio anterior. O segmento ficou na vice-lideran�a da pesquisa direcionada �s lojas virtuais avaliadas nos tr�s primeiros meses de 2018. S� permaneceu atr�s de moda e acess�rios, que aumentaram 148%. “Os consumidores on-line se encarregam de intensificar a demanda estimulada pelos conte�dos informativos na internet”, disse a diretora digital da Al Tayer Group, Mari Corella.
Impostos
O cen�rio para o setor no pa�s s� n�o � melhor porque a ind�stria convive com pesada tributa��o no Brasil. O presidente da Abihpec, Jo�o Carlos Bas�lio, afirma que as empresas t�m sido prejudicadas por tributa��o injusta e incoerente com os grandes investimentos que t�m realizado no pa�s.
“O cen�rio indica que os n�veis de confian�a melhoraram, mas ainda est�o num patamar baixo porque os impostos impedem um desempenho melhor”, disse Bas�lio. Essa alta tributa��o, que pode superar 70%, – quase igual aos 80% do setor de cigarros –, fez com que a marca brit�nica de cosm�ticos Lush anunciasse o encerramento de suas atividades no Brasil em junho. A empresa, que conta com 129 funcion�rios, cinco lojas, um spa e um site de vendas, afirmou que “o Brasil � um mercado muito dif�cil para a opera��o de uma marca brit�nica.”
Disputa de gigantes

Como efeito da expans�o do mercado brasileiro da beleza, um intenso movimento de consolida��o tem tomado conta do setor. H� tr�s anos, a francesa Coty, que distribui marcas como Marc Jacobs, Calvin Klein e Davidoff, comprou a divis�o de cosm�ticos da Hypermarcas por R$ 3,8 bilh�es. “O Brasil � um mercado obrigat�rio para qualquer empresa que tenha a lideran�a global como ambi��o”, disse o holand�s Lambertus Johannes Hermanus Becht, CEO e chairman da Coty.
Faz todo sentido. Naquela mesma �poca, a L’Or�al havia comprado a Niely para assumir a lideran�a no Brasil nas linhas de cabelo e pele. No ano seguinte, a brasileira Natura iniciou as negocia��es para a compra da brit�nica The Body Shop, neg�cio conclu�do no ano passado, por 1 bilh�o de euros. Com a aquisi��o, a fabricante de cosm�ticos brasileira ganhou escala internacional, com faturamento somado de R$ 11,5 bilh�es, presen�a em 70 pa�ses e for�a de vendas de 1,8 milh�o de consultoras independentes, al�m de 3,2 mil lojas espalhadas pelo mundo.
No m�s passado, o mercado se agitou com informa��es de que a Avon est� sendo comprada pela Natura. O que gerou a movimenta��o foi uma reportagem publicada na vers�o on-line do The Wall Street Journal. Com a subida de mais de 20% em suas a��es, o valor de mercado da Avon chegou a US$ 1,01 bilh�o, quase nada perto dos US$ 20 bilh�es que a empresa valia h� cinco anos.
No segundo trimestre, a Avon perdeu US$ 37 milh�es. J� a Natura lucrou R$ 31,8 milh�es nesse per�odo. O setor de cosm�ticos passa, indiscutivelmente, por um momento de amplia��o da concentra��o. Em mar�o deste ano, o Botic�rio anunciou a compra da Vult Cosm�tica, empresa fundada em 2004, em Mogi das Cruzes, no interior paulista. Com a aquisi��o, o grupo ampliou sua participa��o no setor de cosm�ticos. Al�m da rede de lojas O Botic�rio, a companhia � dona das marcas Eudora, Quem disse, Berenice?, The Beauty Box e Multi B.