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Estado de Minas ENTREVISTA/SERGIO LEITE

''O Brasil tem tudo para uma grande arrancada'', diz presidente da Usiminas

Executivo diz que problemas s�rios na infraestrutura passam por gest�o e investimentos


postado em 31/10/2018 06:00 / atualizado em 31/10/2018 08:33

(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

S�o Paulo – O engenheiro metal�rgico Sergio Leite assumiu a presid�ncia da Usiminas em maio de 2016 com uma dura miss�o: livrar a empresa de fechar as portas. Depois de dois anos desastrosos, a sider�rgica, que � um dos s�mbolos da ind�stria nacional, acumulava uma s�rie de preju�zos que a impedia de realizar os investimentos necess�rios para voltar a crescer.

Leite instituiu um n�cleo de trabalho, chamado de “Grupo dos 10”, que realizou completa varredura em todos os neg�cios, opera��es, estruturas e �reas de empresa. Com o diagn�stico em m�os, o presidente p�de definir prioridades e atacar os problemas de frente.

Resultado: a Usiminas acaba de alcan�ar o melhor desempenho trimestral dos �ltimos oito anos. Executivo de opini�es s�lidas e com 42 anos de servi�os prestados � Usiminas, Leite, que tamb�m � presidente do Conselho Diretor do Instituto A�o Brasil, faz parte de um novo tipo de lideran�a que n�o se abst�m de participar do debate pol�tico no pa�s. Nesta entrevista, o executivo diz por que acredita no projeto defendido pelo futuro governo Jair Bolsonaro, exp�e as raz�es que o levaram a apostar na retomada da economia e analisa os desafios que o setor de a�o enfrentar� nos pr�ximos anos.

Quais s�o as suas expectativas em rela��o ao novo governo?

A minha expectativa � muito positiva. O Brasil precisa voltar a ter crescimento, a gerar emprego, encerrar definitivamente esse per�odo de cinco anos, que trouxe, num primeiro momento, recess�o muito grande e, num segundo, recupera��o muito pequena. Est� na hora, acho at� que j� passou da hora, de resolver os graves problemas que afetam o pa�s. Estou muito otimista. O Brasil tem tudo para dar uma grande arrancada.

Quais s�o os problemas centrais que o novo governo deve atacar?

N�s temos problemas s�rios no campo da sa�de, da educa��o e da infraestrutura. Enfrentar os desafios nessas tr�s �reas passa por uma grande capacidade de gest�o e de investimentos. Na parte de gest�o, precisamos fazer uma reforma profunda no Estado brasileiro e traz�-lo para a dimens�o que ele precisa, com ajustes das contas p�blicas. � preciso essencialmente voltar ao super�vit prim�rio e come�ar um processo de regulariza��o das contas p�blicas. Esse processo deve levar em considera��o tamb�m a reforma da Previd�ncia e a reforma fiscal. Refor�o: neste momento, devemos reduzir ao m�ximo os gastos com a m�quina governamental.

"Na China, n�o competimos contra empresas, mas contra um Estado que n�o � uma economia de mercado, que pratica subs�dios. Ou seja, � uma concorr�ncia desleal"



Os problemas s�o, de fato, monumentais. O Brasil vai conseguir sair rapidamente da crise?

Acho que rapidamente, n�o. Precisamos construir um 2019 que represente a partida do processo. Com o potencial que o Brasil tem, com as car�ncias que n�s temos, � preciso crescer pelo menos 5% ao ano. A perspectiva para 2019 � avan�ar 3%, o que j� ser� desafio importante. Precisamos preparar o pa�s para crescer 5%, mas eu diria que at� mais. Precisamos fazer o que os outros Brics (grupo das na��es emergentes formado ainda por R�ssia, �ndia, China e �frica do Sul) fizeram com muita compet�ncia, como a China e a �ndia. Agora iniciaremos o processo de constru��o, mas o importante � que a largada seja r�pida.

 

O senhor chegou a se encontrar com o presidente eleito, Jair Bolsonaro?

N�s nos encontramos com o presidente Bolsonaro e expusemos a ele a vis�o da ind�stria. Dissemos que a ind�stria precisa voltar a ter protagonismo no Brasil. Nos �ltimos 15 anos, o setor teve participa��o de 25% no PIB. Hoje, esse �ndice � de 10%. A ind�stria tem um potencial muito grande, ela � uma grande geradora de empregos de qualidade, mas a situa��o � muita s�ria. Alguns setores est�o com capacidade ociosa, que chega a 50%. � preciso colocar essa capacidade ociosa em atividade, e isso n�o requer novos investimentos. J� est� tudo l�.

Quais s�o os obst�culos que emperram o setor do a�o no Brasil?

� preciso fazer o pa�s voltar a crescer. S� assim vamos em frente. Temos duas alavancas no nosso neg�cio: o consumo das fam�lias e o investimento. O consumo � sin�nimo de gera��o de empregos, e tivemos, nesse aspecto, queda brutal nos �ltimos anos. Se voc� considerar a subocupa��o de m�o de obra, existem mais de 25 milh�es de brasileiros que poderiam estar no pleno emprego e n�o est�o. Essa massa gera consumo. Gerando consumo, ela estimula a produ��o de bens para suprir a necessidade das pessoas. Na vertente do investimento, o a�o tem como principais alavancas a constru��o civil e a infraestrutura, ambas completamente paralisadas no Brasil. O governo precisa criar as condi��es para que essas �reas avancem.

De que forma o protecionismo imposto pelo presidente americano, Donald Trump, afeta o neg�cio do a�o?

No setor do a�o, somos a favor do livre com�rcio, do equil�brio e da isonomia nas rela��es comerciais. N�s temos um cen�rio interno que depende obviamente do crescimento do Brasil. Em termos de mercado externo, estamos entre os maiores exportadores de a�o do mundo. Ou seja, somos protagonistas no neg�cio global do a�o. O que n�s desejamos no �mbito internacional � que haja equil�brio nas rela��es, uma isonomia, e que a competi��o seja feita em condi��es de igualdade. Embora seja um setor altamente competitivo, n�o dispomos de nenhum subs�dio.

"Est� na hora de resolver os graves problemas que afetam o pa�s. Estou muito otimista"

 

O maior competidor da ind�stria brasileira do a�o � a China, certo?

Sim, mas na China n�s n�o competimos contra empresas, mas contra um Estado. Trata-se de um Estado que n�o � uma economia de mercado, que n�o remunera adequadamente sua m�o de obra, que n�o remunera adequadamente o capital e em que a pr�tica do subs�dio est� presente na ind�stria. Ou seja, � uma concorr�ncia desleal. Esse posicionamento da China gerou rea��o dos Estados Unidos. Por sua vez, a decis�o protecionista do presidente Trump desencadeou uma s�rie de rea��es na Europa, �frica e �sia. A �nica regi�o que n�o aplicou medidas para fazer frente a essa decis�o de Trump foi a Am�rica Latina. Por isso, eu digo que � preciso fazer uma reflex�o: faz sentido o Brasil ser um pa�s liberal nas suas rela��es comerciais num mundo notadamente protecionista?

Apesar da crise dos �ltimos anos, a Usiminas vem de uma s�rie de resultados financeiros s�lidos, voltando inclusive a operar no azul Como isso foi poss�vel?

N�s completamos agora o nono trimestre consecutivo de resultados positivos e crescentes. A partir de 2015, notamos uma deteriora��o muito grande de nossos resultados. Essa deteriora��o nos conduziu, no primeiro semestre de 2016, a uma situa��o cr�tica para a empresa. Corremos o risco de entrar em recupera��o judicial ou at� mesmo falir.

O que foi feito para reverter o quadro?

Naquele momento em que corrermos s�rio riscos, tivemos que renegociar as d�vidas com os bancos e os principais acionistas da empresa colocaram R$ 1 bilh�o no caixa. O maior problema que a empresa tinha era n�o gerar resultados. Iniciamos forte a��o dentro da companhia, que contou com a participa��o de nossos mais de 13 mil funcion�rios. Criamos naquela �poca o “Grupo dos 10”, formado por profissionais experientes que ocupavam posi��es executivas diferentes. Esse grupo se tornou um n�cleo de trabalho que teve a miss�o de trabalhar em prol da recupera��o da Usiminas.

 

Do ponto de vista pr�tico, o que o “Grupo dos 10” fez?

O grupo fez o diagn�stico de todas as �reas, processos, opera��es e estruturas da empresa. A ideia era preparar um diagn�stico global para identificar a��es que levassem a Usiminas a alcan�ar bons resultados. No primeiro ano, de julho de 2016 a 2017, o foco central era mesmo gerar resultados. J� no segundo semestre de 2016, sa�mos de uma situa��o de Ebtida (lucro antes de juros, impostos, deprecia��o e amortiza��es) negativo para um saldo de R$ 1,2 bilh�o. Quando encerramos o primeiro semestre de 2017, um ano depois de iniciarmos esse trabalho, a empresa j� estava num patamar de Ebtida superior a R$ 1,8 bilh�o, acima do n�vel que operamos antes da crise. Al�m disso, registramos, agora, o melhor resultado trimestral dos �ltimos oito anos da Usiminas.

A Usiminas � um caso especial, j� que ela tem acionistas japoneses e �talo-argentinos e uma gest�o brasileira. Como � trabalhar com m�ltiplas nacionalidades?

� um desafio e uma experi�ncia extraordin�ria. Temos na Usiminas tr�s for�as: os brasileiros, que somam a maior parte da for�a de trabalho, os �talo-argentinos e os japoneses. Tenho uma rela��o s�lida com todos os grupos, porque o trabalho foi sempre o de buscar integra��o e equil�brio. Atravessamos um per�odo grande de conflito acion�rio, mas conseguimos unir as for�as dentro da empresa. No “Grupo dos 10”, tenho profissionais que representam o acionista �talo-argentino, outros que representam o acionista japon�s, e os que fazem parte da for�a de trabalho brasileira. Durante mais de um ano e meio, conseguimos trabalhar de forma integrada, unida e pac�fica. Conseguimos inclusive selar um novo acordo de acionistas, que trouxe a paz. Hoje, vivemos um cen�rio muito positivo. Estamos todos de m�os dadas trabalhando para construir o presente e o futuro da Usiminas.

"Devemos fazer reforma profunda no Estado brasileiro e traz�-lo para a dimens�o que ele precisa, com ajustes das contas p�blicas"



Como est� o plano de investimentos da empresa? Diante da melhoria dos resultados, os planos foram ampliados?

Ficamos sem discutir planejamento estrat�gico durante tr�s anos. Em julho de 2017, com os resultados positivos, percebemos que a Usiminas voltou a ser uma empresa normal. No momento em que ela voltou a ser uma empresa normal, passamos a pensar de novo no futuro.

Como ficaram os investimentos?

Entre 2016 e 2107, investimos R$ 220 milh�es, o que � pouco para o nosso porte. Em 2018, mais do que dobramos esse valor, chegando quase a R$ 500 milh�es. Para o ano que vem, o investimento ser� superior ao de 2019.






 


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