
S�o Paulo – No final de 2018, 4,3 bilh�es de toneladas de alimentos ser�o produzidos no mundo. Desse total, 1,3 bilh�o ir� para o lixo, segundo estimativas da Organiza��o das Na��es Unidos para a Alimenta��o e a Agricultura (FAO). Embora a pr�pria FAO reconhe�a que o n�mero possa conter alguma imprecis�o (h� tantas vari�veis envolvidas, do tamanho do PIB �s tecnologias de produ��o, entre in�meras outras, que � imposs�vel cravar um indicador exato), os especialistas concordam que cerca de 30% dos alimentos, de qualquer parte do planeta, s�o desperdi�ados ou se perdem de alguma forma.
Algumas simples compara��es dimensionam o problema. A cada ano, o mundo joga fora 20% de toda a carne produzida, o equivalente a 75 milh�es de vacas, 30% dos peixes, algo como 3 bilh�es de salm�es, e 45% das frutas, mais ou menos 3,7 trilh�es de ma��s. Estudos da FAO mostram que 24% de todas as calorias prontas para consumo jamais cumprem o seu destino. Ainda mais chocante: a quantidade seria suficiente para alimentar todos os 800 milh�es de famintos do mundo – e n�o uma, mas quatro vezes.
Do ponto de vista financeiro, o desperd�cio � uma trag�dia. Os alimentos eliminados valem aproximadamente US$ 1 trilh�o. Para ficar bem claro o que isso significa: todos os anos, um montante semelhante � metade do PIB do Brasil acaba na pilha de compostagem. Apenas para produzir a quantidade colossal de comida desperdi�ada, gastam-se US$ 172 bilh�es em �gua e ocupa-se uma �rea equivalente a todo o M�xico. Sob qualquer �ngulo que se analise a quest�o, o resultado parece �bvio: a redu��o do desperd�cio � vital para o futuro do planeta e a sobreviv�ncia dos humanos.
O tema come�ou a ser debatido com seriedade em meados dos anos 90, quando preocupa��es ambientais ganharam for�a. Mas s� agora, com a chegada de novas tecnologias, � que o desperd�cio passou a ser combatido de forma mais efetiva. De acordo com estimativas da AgFunder, gestora de recursos na �rea agr�cola, desde 2015 investidores despejam cerca de US$ 100 milh�es por ano em startups que desenvolvem alternativas capazes de conter os detritos alimentares.
A boa not�cia � que o dinheiro est� sendo bem usado. Poucas fronteiras empresariais t�m apresentado espectro t�o grande de inova��es, e com resultados concretos para justificar o volume de recursos aplicados.
Na Europa e nos Estados Unidos h� uma corrida no ambiente acad�mico e empresarial para criar tecnologias de ataque ao desperd�cio. No Reino Unido, a startup Entomics, criada h� 3 anos por quatro alunos de biologia e engenharia da Universidade de Cambridge, ir� lan�ar no mercado um projeto inusitado.
Para os jovens mentores da empresa, a melhor maneira de eliminar a comida que sobra nos supermercados e restaurantes � oferec�-las a uma pequena criatura: moscas. Parece asqueroso, mas o sistema tem se revelado eficiente. � f�cil entender como a coisa funciona. As larvas de moscas s�o comedoras vorazes e podem ingerir quantidades enormes de alimentos prestes a estragar, ou mesmo podres. Ao fazer isso, elas eliminam 95% do volume da comida e a metabolizam em prote�nas e gorduras. Bem nutridas, e carregadas de prote�na absorvida do lixo, essas larvas se transformam em ra��o para alimentar aves, peixes e animais de estima��o.
Segundo Matt McLaren, um dos empreendedores por tr�s da ideia, a iniciativa tem potencial para provocar uma pequena revolu��o no planeta. “Asseguro que � um dos m�todos mais eficientes e seguros para eliminar detritos alimentares”, disse ele a uma TV brit�nica.
Tamb�m inglesa, a Fruit Spare lida com os res�duos de maneira mais saborosa. Restos de frutas como peras e ma��s s�o transformados em chips crocantes. A empresa compra de fazendeiros locais alimentos que seriam descartados porque n�o atendem aos crit�rios rigorosos, mas muitas vezes injustific�veis, de consumo das pessoas. Em geral, as frutas s�o rejeitadas por motivos f�teis: manchas causadas por fen�menos clim�ticos (granizo, geada), descolora��o (resultado de chuvas irregulares), formato ou tamanho errados (que se devem aos des�gnios da natureza). Para os fazendeiros, trata-se de �timo neg�cio vender o que seria jogado no lixo.
Para a Fruti Spare, � tamb�m uma oportunidade de fazer dinheiro. As frutas descartadas passam por um processo de secagem, s�o cortadas em fatias finas e desidratadas at� virar chips. Desde 2016, quando foi criada, a Fruit Spare transformou centenas de toneladas de lixo em alimentos saud�veis que j� ocupam as prateleiras de grandes redes de supermercados da Inglaterra.