
S�o Paulo – Ex-s�cio da XP e ex-CEO do portal Infomoney, Pedro Englert partiu para um per�odo sab�tico em 2016 e a convite do amigo Marcelo Maissonave foi conhecer de perto o que estava sendo feito no Vale do Sil�cio, na Calif�rnia.
“Ele disse ‘pega um avi�o e vem pra c�’. Tomei um choque com tudo que vi”, relembra. Logo depois, Englert voltou ao Brasil decidido a mergulhar no ambiente da inova��o e, mais do que isso, investir em educa��o.
Em tr�s anos, a StartSe saiu de um faturamento de R$ 2,5 milh�es para R$ 36 milh�es. Al�m da sede em S�o Paulo, tem escrit�rios no Vale do Sil�cio e em Xangai. Hoje, j� fazem parte da carteira de clientes, segundo o CEO, 34 das 50 maiores empresas do Brasil, como Gerdau, Tigre, Suzano, Branco o Brasil e Bradesco.
Neste ano, a proje��o � dobrar a receita. Al�m disso, Englert ter� outro desafio. “Nosso grande sonho � provocar novos come�os nas empresas e nas pessoas. Para isso, queremos impactar 1 milh�o de pessoas nos pr�ximos tr�s anos, at� 2021, e fazer com que elas desejem recome�ar, tenham uma vida mais bacana e se tornem mais competitivas”.
As grandes empresas t�m se aproximado mais do ambiente das startups?
Existe um movimento muito grande nesse sentido. As empresas est�o maduras o suficiente para entender que est�o em uma nova din�mica de inova��o. Por outro lado, n�o existe ainda a clareza de como isso deve ser feito. H� v�rias iniciativas nessa dire��o, mas, infelizmente, um n�mero pequeno de companhias sabe o que est� fazendo. A maioria vai pela onda da manada, n�o pelo objetivo de inovar. O prop�sito delas est� certo, o de querer se atualizar, mas elas adotam a��es que n�o v�o levar a esse prop�sito.
Por que h� esse conflito?
Isso acontece porque � um mercado novo l� fora e aqui. O Brasil est� vindo na carona, n�o estamos atrasados. J� a China e o Vale do Sil�cio est�o na vanguarda. A rela��o � nova, baseada em teste e experimenta��o, s� que todo o modelo de gest�o de investimento em educa��o foi cunhado no s�culo passado, a partir de um mercado est�tico, pouco din�mico e onde clientes tinham pouco poder de decis�o. Vivemos em um mercado pouco din�mico, baseado em resultados previs�veis, diferentemente do que vem se ganhando espa�o nos �ltimos anos.
"A preocupa��o de um startup n�o � lan�ar um produto sensacional, mas praticar, corrigir e evoluir"
Pedro Englert
Mas como as empresas devem se comportar diante dessa velocidade nas inova��es?
As empresas que pretendem seguir inovando devem antes entender qual � novo modelo de gest�o. Olha tudo que aconteceu nos �ltimos anos. As empresas de telet�xi (ou r�dio-chamada) vinham bem, a� chegou a 99 e acabou com tudo. Esse � um exemplo de como a tecnologia vem, cresce r�pido e o meu neg�cio morre. Como prever isso? � preciso olhar de perto os novos movimentos, como o de fontes alternativas ao petr�leo e a carne sint�tica. Como a sua tecnologia est� protegida para daqui a 10 anos em rela��o a essas transforma��es?
Sem essas transforma��es as empresas correm risco de serem engolidas?
Quando olhamos para o futuro vemos algo “incerto”, r�pido e imprevis�vel, o que torna o trabalho mais desafiador, principalmente para empresas que ainda insistem em montar um business plan para cinco anos. Esse modelo ineficiente. O grande segredo das startups � que criam as coisas com base em processos diferentes. Em vez de usar cen�rio de cinco anos e colocar um monte de gente executando, elas definem uma hip�tese. Por exemplo, como � poss�vel pedir um t�xi usando o smartphone. N�o ser� um produto ou servi�o a ser lan�ado daqui a dois anos. A valida��o � a mais curta poss�vel, o entendimento sobre o neg�cio, certo ou errado, � mais r�pido e simples e isso diminui muito o risco e o custo de lan�amento e de distribui��o. � medida que coloca a hip�tese do neg �cio na rua, j� � preciso tentar validar se � positiva ou negativa. Se errar nessa fase, vira um aprendizado, corrige a hip�tese e coloca na rua de novo. A preocupa��o de uma startup n�o � lan�ar um produto sensacional, mas praticar, corrigir e evoluir.
Isso facilita o acesso para quem quer ter uma startup?
Facilita sim, porque n�o � preciso fazer um monte de investimentos com um risco enorme. Portanto, por ser muito mais barato, mais pessoas podem fazer isso. Hoje temos, por exemplo, cerca de 400 fintechs tentando colocar algum produto financeiro no mercado. H� dois, tr�s anos, n�o t�nhamos mais do que tr�s bancos tentando entrar nesse mercado. A diferen�a � gigante e acontece de forma muito mais acelerada. Por isso o mundo das startups � t�o atrativo, porque elas est�o promovendo inova��o por meio de investimentos baixos e com muita rapidez. A sua base � olhar para a dor do cliente, onde est� o problema de um determinado mercado.
Para as empresas, essa aproxima��o de startups � algo necess�rio para o futuro do neg�cio ou � poss�vel criar esse ambiente inovador apenas com investimentos feitos internamente?
As empresas t�m de ajustar sua cultura, sua cabe�a. A din�mica e as pr�ticas s�o diferentes. Por mais intelig�ncia que a empresa tenha, sempre vai ter mais do lado de fora. Por isso, � importante estar preparado para buscar fora, se apoiar. Algumas coisas fazem fora, algumas internaliza. Ao se aproximar de startups, as empresas conseguem melhorias interessantes no processo, tornam a opera��o mais r�pida, trazem novas linhas de receita e trocam informa��o com base em uma nova cultura. Os executivos v�o aprendendo e se abrindo. Para a startup tamb�m � importante porque ela ganha com aprendizado e com o acesso a capital.
As startups levam vantagem nessa corrida pela inova��o?
Levam sim. Quando crescem, as empresas procuram mais se proteger do que tomar risco, ficam muito presas a atingir metas e isso cria uma cultura conservadora. O cliente n�o admite mais esse conservadorismo. Por isso tem de criar uma cultura de contexto, para o mesmo pensamento, e enxergar a mesma coisa. Quanto mais se esfor�ar. O risco e o erro fazem parte do processo, que se quiser entrar em mercado que n�o conhece vai errar, vai ficar obsoleto, parado no tempo. Dentro das empresas tem gente muito boa, conservadora e tomador de risco.
Esse comportamento conservador das empresas pode refletir nos seus profissionais?
Diante da falta de um ambiente inovador e do apoio da empresa, o profissional sai em busca de uma oportunidade para empreender. As empresas correm o risco de ficar s� com o funcion�rio que tem um �mpeto menor de evolu��o. Nesse contexto, a �nica certeza que temos hoje � que o arriscado � ficar parado, porque pode ser atropelado pelos que est�o chegando ao mercado. Muitas empresas ficam engessadas por exig�ncias de compliance que n�o a deixa agir e n�o premia quem quer se arriscar. Sem essa mudan�a, elas ficar�o obsoletas. Algumas empresas j� entenderam que incorporar inova��o d� resultado, como o Magazine Luiza. A a��o subiu 20 vezes em boa parte porque o Fred Trajano, CEO, entendeu essa din�mica, foi para o Vale do Sil�cio ver o que est� acontecendo, entendeu o momento e foi jogar o jogo. � um exemplo de que d� para fazer, seja criando uma startup dentro de casa ou se aproximando dessas empresas criadas a partir de conceitos inovadores.
Por que as universidades n�o atuam t�o fortemente no ambiente de inova��o?
As universidades perderam esse papel, porque a educa��o passou a ser muito mais em cima de pr�tica com o passar do tempo. Por isso, quem quiser aprender que v� para o Vale do Sil�cio, para a China, para Israel ou participe de eventos por aqui, porque � a chance de aprender em cima das pr�ticas constru�das. Teorizar quando se trata de inova��o, que � algo t�o din�mico, acaba resultando em perda de tempo. Hoje, pouco importa como o cara estudou, porque se ele ao longo do tempo n�o se atualizou de forma intensa j� ficou para tr�s. Mais importante do que a universidade � como ele se desenvolve, qu�o aberta mant�m sua cabe�a para entender esse mundo, seja em viagens a polos de inova��o no exterior ou visitas os centros de inova��o aqui, como InovaBra e o Cubo.
Ainda h� muitas amarras burocr�ticas para o ambiente de inova��o?
Existe regula��o excessiva, � fato. Mas temos de nos preparar para isso. Algumas entendem a regra do jogo e procuram alternativas para fazer de uma forma diferente em vez de enxergar aquela burocracia como uma barreira. Isso jamais poder� ser usado como uma desculpa dada por quem n�o quer agir. Foi a partir da busca de alternativas que surgiram casos como o da XP e do Uber, que testaram a inova��o no limite da regula��o. Esse movimento leva o governo a se ajustar a essa inova��o e criar regras.
O empreendedorismo por necessidade predomina no Brasil. A inova��o tamb�m pode se mover pela necessidade ou isso � ruim quando se pensa na cria��o de uma startup?
Isso como ponto de partida � bom porque aumenta o n�mero de potenciais empreendedores. O problema � se n�o estiver preparado, porque o empreendedor pode buscar caminhos que n�o d�o certo. Hoje o Brasil vive um problema ao incentivar a inclus�o de jovens no mercado de trabalho com o foco em m�o de obra a partir de um conceito muito tradicional. N�o se olha, por exemplo, para a necessidade de capacita��o de profissionais que entendam de tecnologia, que � um mercado com grande oportunidade e com falta de profissionais. Quando v� a tecnologia tomando o lugar dos bra�os do homem. A tecnologia vem tomando conta do que � feito pelos bra�os do homem, por isso n�o d� para insistir em uma forma��o antiquada de forma��o profissional. A concorr�ncia vem e todos os lados e � global, basta um software e um profissional do outro lado do mundo passa a trabalhar tamb�m no Brasil, � dist�ncia. A concorr�ncia pelo mercado de trabalho � global. Se o Brasil n�o entender isso, ser� ultrapassado por todo mundo. N�o precisa ir longe. Olhe os aplicativos do seu celular. A maioria � de fora, como Netflix, Google, Facebook, Uber. Esse � um problema seri�ssimo. Se n�o mudar a forma de ver a inova��o, o Brasil vai ser s� exportador de gr�o e os servi�os ser�o providos apenas por empresas estrangeiras.
Quem � Pedro Englert
Formado em Administra��o de Empresas com �nfase em finan�as pela UFRGS, o empres�rio tem p�s-gradua��o em varejo e servi�os pela Universidade de S�o Paulo e pela Singularity University. Foi s�cio da XP Investimentos por 10 anos, onde comandou a �rea comercial e foi CEO do portal InfoMoney. No in�cio de 2016, se associou ao time do StartSe e � CEO da empresa. � s�cio de cinco fintechs: Warren, FitBank, Monkey Inc, Bee Tech e ID e de uma startup do setor de varejo, a Yuool. Faz parte do conselho da Junior Achievment Brasil e da Associa��o Brasileira de Fintechs.