
Extrema – Os engenheiros Vagner Jos� da Silva e Andr� Luiz do Amaral, ambos de 30 anos, cresceram ouvindo hist�rias de familiares e amigos que deixaram Extrema, cidade de 33 mil habitantes no Sul de Minas, em busca de trabalho. A falta de oportunidades no munic�pio obrigava moradores a buscar emprego no interior paulista ou em outras regi�es de Minas. Hoje, os dois trabalham em uma empresa de ponta do setor de eletr�nicos e n�o t�m planos de deixar a terra natal. Desde o fim do ano passado, o Sul de Minas se destaca na retomada de investimentos e na gera��o de empregos. Para os pr�ximos tr�s anos, empresas j� instaladas na regi�o planejam gastar R$ 1,8 bilh�o na amplia��o de suas f�bricas. Ser�o criados cerca de 2 mil empregos diretos para o aumento da produ��o.
A volta de grandes investimentos em cidades do Sul de Minas � o tema da segunda reportagem do Estado de Minas da s�rie “Retomada mineira”, que mostra a mapa das contrata��es e iniciativas de empresas mineiras para voltar a crescer em meio � lenta recupera��o da economia nacional. Em cidades como Pouso Alegre, Itajub�, Po�os de Caldas, Varginha e Extrema v�rias empresas j� est�o com obras para ampliar seus parques industriais e atraem trabalhadores de v�rios munic�pios vizinhos.

“Cresci ouvindo as pessoas falarem que aqui na cidade n�o era poss�vel ter um bom sal�rio. E realmente era tudo bem vazio, algumas fazendas, mas poucas empresas. A maioria das pessoas sa�a para estudar e depois para trabalhar. H� cerca de 15 anos a situa��o come�ou a mudar”, comenta Vagner Jos� da Silva. Ele conseguiu trabalho na �rea de opera��o log�stica em uma empresa do setor eletr�nico. Pouco depois, come�ou a cursar engenharia e passou a conciliar o trabalho na f�brica com os estudos. “Com o crescimento da empresa, era poss�vel prever que boas vagas de emprego surgiriam por aqui. Formei em 2016 e, como tinha experi�ncia e conhecia bem a produ��o, acabei sendo contratado. N�o tenho mais inten��o de deixar Extrema. A regi�o cresceu muito e hoje oferece �timas condi��es de vida”, afirma Vagner.
QUALIFICA��O Para Lelius de Lucca Braga, diretor industrial da Multilaser, fabricante de eletr�nicos instalada em Extrema, o crescimento da oferta da m�o de obra qualificada na regi�o foi fundamental para o aumento da produ��o. “No in�cio a f�brica empregava grande n�mero de pessoas de fora de Minas. Com a cria��o de faculdade e cursos t�cnicos na cidade, os moradores passaram a ter op��o para se qualificar”, explica Lelius. A empresa come�ou em 2017 a constru��o de um novo galp�o para estocar produtos, o que vai permitir aumentar ainda a produ��o em mais de 30% ainda este ano. Em janeiro foram contratados 50 funcion�rios e at� o final do ano devem abrir cerca de 100 vagas.
Apesar de os empregos voltarem a surgir na regi�o, uma fila formada em uma ag�ncia de empregos de Extrema, que abriu processo seletivo para uma grande empresa aliment�cia, demonstra que o desemprego continuar� sendo um problema para milhares de pessoas ao longo de 2018. Com o curr�culo na m�o, Luciana Santos, de 32, chegou cedo para se inscrever no processo seletivo e espera encerrar um per�odo duro de dois anos sem renda fixa. “Estou desempregada desde 2015 e procuro emprego em qualquer �rea. J� rodei por algumas cidades de S�o Paulo e aqui de Minas. Parece que a concorr�ncia est� cada vez maior”, diz Luciana.
O jovem Ot�vio Matheus Nogueira, de 19, tenta uma recoloca��o no mercado de trabalho ap�s perder seu emprego no fim de 2017. Morador de Itapeva, ele conseguiu no ano passado trabalhos tempor�rios em f�bricas de alimento, mas ap�s o per�odo de experi�ncia a efetiva��o n�o ocorreu. “Estou buscando uma vaga em Extrema ou Pouso Alegre, que s�o pr�ximos da minha cidade. As vagas est�o aparecendo aos poucos. No ano passado, fiz o curso de log�stica no Senai e com um curr�culo melhor e alguma experi�ncia pode ficar mais f�cil achar emprego”, conta.
PLANEJAMENTO Para o presidente da regional do Sul de Minas da Federa��o das Ind�strias de Minas Gerais (Fiemg), Andr� Luiz Martins Gesualdi, a retomada dos investimentos privados explica o porqu� de a recupera��o das cidades da regi�o estarem em velocidade maior do que o restante do estado e do Brasil. “Com grandes empresas atra�das para a regi�o antes de o in�cio da crise, assistimos ao planejamento de expans�o de suas f�bricas. A crise veio e atrasou v�rios projetos. Agora eles voltam a sair do papel e o ritmo da recupera��o acelera onde essas empresas est�o”, explica Gesualdi.
Quando a quest�o � gera��o de empregos, no entanto, ele ressalta que o processo � mais lento. “Perdemos cerca de 13 mil empregos entre janeiro de 2014 e novembro de 2017. No ano passado, recuperamos 3 mil. O que demonstra uma �tima retomada. Ainda temos um saldo negativo de 10 mil vagas na ind�stria. � muita gente desempregada, mas a recupera��o j� est� acontecendo. Agora precisamos manter esse ritmo ao longo do ano e talvez em 2019 j� teremos uma recupera��o plena no emprego”, afirma.
Rem�dio contra a crise
Pouso Alegre – O setor farmac�utico lidera os investimentos planejados para a regi�o Sul de Minas nos pr�ximos anos. O montante programado para a amplia��o de f�bricas e centros de pesquisa alcan�a a marca de R$ 1 bilh�o entre 2018 e 2020, sendo que parte dos recursos j� come�aram a ser gastos e as obras est�o em andamento.
Na f�brica de Cimed, em Pouso Alegre, o processo de amplia��o come�ou em 2017, com aplica��o de R$ 40 milh�es no crescimento da capacidade industrial. A empresa aumentou a produ��o de rem�dios cosm�ticos, como cremes e pomadas. “No ano passado, o faturamento foi de R$ 1,03 bilh�o. Com os novos investimentos, a previs�o para 2018 � chegar a R$ 1,25 bilh�o”, conta o diretor-executivo da empresa, Amara� Furtado Silva.
A empresa come�a no m�s que vem um novo ciclo de investimentos, com gastos estimados em R$ 120 milh�es nos pr�ximos tr�s anos, sendo um ter�o do montante voltado para a �rea de pesquisa e inova��o. Segundo Amara�, o Brasil tem uma demanda reprimida na �rea de medicamentos, e a tend�ncia � que a produ��o continue crescendo nos pr�ximos anos. Em 2018, a empresa abrir� cerca de 500 vagas, sendo 400 delas na f�brica de Pouso Alegre.
A partir deste ano, a Biolab Farmac�utica tamb�m d� in�cio ao seu processo de expans�o, com investimento de R$ 450 milh�es na constru��o de um complexo industrial em Pouso Alegre. Com tr�s f�bricas em funcionamento no interior de S�o Paulo, a empresa passar� a ter um parque no Sul de Minas. A proximidade com as principais cidades da regi�o Sudeste (BH, Rio de Janeiro e S�o Paulo), a boa oferta de m�o de obra qualificada e a infraestrutura desenvolvida s�o alguns motivos para a entrada em territ�rio mineiro.
“O Sul de Minas se coloca como um centro farmac�utico muito forte. Com faculdades e universidades de qualidade, boas rodovias para a distribui��o dos produtos e boa estrutura energ�tica. A f�brica em Minas ser� nosso centro para partimos para os mercados internacionais”, avalia Cleiton Castro Marques, diretor-executivo da Biolab.