
O mercado de trabalho no Brasil est� mudando. Alguns t�m chamado isso de precariza��o, outros de dinamismo e competitividade. Sem qualquer ju�zo de valor, � inquestion�vel que o n�vel de formalidade est� caindo, e o n�mero de empreendedores aumenta. Embora o pa�s tenha encerrado 2018 com saldo positivo de 529,5 mil empregos formais, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o n�mero de trabalhadores ocupados com carteira de trabalho assinada foi o menor em sete anos no Nordeste, Sudeste e Sul – as regi�es que mais empregam no Brasil.
De acordo com o coordenador de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), Cimar Azeredo, h� uma tend�ncia de redu��o da formalidade, exclu�das as influ�ncias sazonais na pesquisa. “Isso revela a baixa qualidade do emprego que est� sendo gerado nos �ltimos anos”, disse o pesquisador, durante a divulga��o da pesquisa, na �ltima semana.
“Com a redu��o da carteira de trabalho e o aumento da informalidade, a contribui��o para a Previd�ncia tamb�m cai, o que cria problemas mais � frente.” No balan�o geral, a taxa de desemprego no Brasil ficou em 11,6% no trimestre encerrado em dezembro do ano passado, atingindo 12,2 milh�es de brasileiros. A taxa representa estabilidade frente ao trimestre encerrado em novembro e recuo de 0,3 ponto percentual em rela��o ao terceiro trimestre (11,9%). Em 2018, a taxa m�dia de desocupa��o foi de 12,3%, ante 12,7% em 2017.
A busca pelo neg�cio pr�prio, de outro lado, tem sido combust�vel para o mercado de franquias. No ano passado, de acordo com a Associa��o Brasileira de Franchising (ABF), o setor contabilizou crescimento de 7% em 2018 sobre o ano anterior – resultado not�vel em uma economia que est� crescendo na casa de 1%. As franquias faturaram pouco mais de R$ 174 bilh�es, acima dos R$ 163 bilh�es obtidos em 2017.
Ainda assim, a expans�o ficou abaixo da expectativa da entidade. No come�o de 2018, a ABF divulgou previs�o de crescimento de 8%. “Estamos passando por um processo de profissionaliza��o dos servi�os. As pessoas procuram mais cursos, qualifica��o, padroniza��o, e tudo isso d� mais confian�a ao consumidor”, disse Andr� Friedheim, presidente da ABF. “Antes, quando voc� ia a um mec�nico, sempre se tinha receio, achava que est� sendo roubado. Atualmente, com mais redes internacionais no Brasil e maior concorr�ncia, isso j� acontece muito menos.”
Expans�o Entre os fatores que explicam o reaquecimento do setor de franquias, se destacam o indicador de abertura de neg�cios – houve crescimento de 5% de novas franquias, frente a apenas 2% em 2017 –, e o desempenho do setor de servi�os. “Nos �ltimos anos, o setor de franquias est� crescendo em per�odos de alta e de baixa da economia. H� momentos em que existe dinheiro sobrando para as pessoas investirem em novos neg�cios, e h� tamb�m uma necessidade de empreender quando o mercado de trabalho se retrai”, afirmou o economista Paulo Barelli, professor da Universidade de Guarulhos (UnG).
Outro fator que est� ajudando o setor de franquias � diversifica��o de formatos de opera��o – e dos valores investidos. Al�m das tradicionais lojas, t�m surgido, como nunca, quiosques, servi�os feitos a partir da casa do empreendedor, g�ndolas independentes nas lojas e, principalmente, espa�os internos em universidades e hot�is.
“Os franqueadores est�o preocupados em atender esses novos formatos, mas sem perder o DNA do neg�cio. � um avan�o feito com cautela, mas que d� resultado”, afirmou Friedheim. “H� uma retomada, um aquecimento do consumo, que se refletiu em uma boa Black Friday, um Natal positivo. Vimos que isso refletiu bem na �rea de franchising tamb�m”, acrescentou.
Para 2019, a ABF aposta em crescimento ainda mais acelerado para o setor, mesmo com as perspectivas de melhoria do ambiente de neg�cios em todo o pa�s. O crescimento estimado para o ano varia de 8% a 10%, enquanto o n�mero de unidades dever� subir entre 5% e 6%. J� o n�mero de novas redes deve avan�ar 1%.
A �nica desacelera��o deve ocorrer na gera��o de empregos, com crescimento de 5%. Segundo o presidente da entidade, � grande a expectativa de que o franchising volte a crescer dois d�gitos no faturamento, movimento que n�o ocorre h� tr�s anos. “Existem fatores econ�micos que indicam essa possibilidade, como os juros menores e a maior propens�o ao risco que os empres�rios est�o tomando, obtendo, em contrapartida, retornos maiores dos investimentos.”
No quesito emprego, o n�mero de vagas criadas cresceu 8% no ano passado, segundo a ABF, tanto com a gera��o de novos postos tradicionais quanto nos modelos de contrata��o tempor�ria e de contratos intermitentes, formato rec�m-regulamentado pela Reforma Trabalhista. Pelas contas do presidente da ABF, em m�dia, cada nova unidade de uma franquia aberta no Brasil gera oito empregos.
Corrida de empreendedores
Os mesmos fatores que t�m puxado para cima do setor de franquias explicam o pulo no n�mero de microempreendedores individuais, conhecidos como MEI. De acordo com levantamento da plataforma MEI F�cil, em 2018, cerca de 2 milh�es de empresas foram abertas por meio desse regime, resultado 18% maior do que o registrado h� dois anos.
Com base no relat�rio anual da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), chamado de Global Report, 53% dos empreendimentos no Brasil, de todos os setores da economia, s�o classificadas como MEIs. A pesquisa indica tamb�m que, com a perspectiva de melhora da economia neste ano, 31% dos brasileiros adultos enxergam o momento como oportuno para investir em um novo neg�cio.
O programa MEI, em vigor desde 2008, tem conquistado mais popularidade entre potenciais empreendedores, j� que, al�m de formalizar trabalhadores e garantir benef�cios como aux�lio-doen�a e Previd�ncia, tamb�m pode ser uma sa�da para o desemprego. Em m�dia, h� 1 milh�o de novos MEIs por ano, segundo o Sebrae (Servi�o Brasileiro de Apoio �s Micro e Pequenas Empresas). Criada para diminuir a informalidade, a modalidade tem como principal fun��o dar incentivos fiscais a empresas que faturam at� R$ 81 mil anuais.
Na avalia��o do professor e coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Neg�cios da FGV-SP, Edgard Barki, o grande n�mero de MEIs est� ligado a tr�s fatores principais: crise econ�mica, facilita��o e mudan�a de cultura. “A crise econ�mica fez o desemprego crescer, e o empreendimento individual torna-se uma alternativa para muitos. Outro fator � que o MEI � uma forma muito simples e vantajosa de abrir e manter um neg�cio. E o terceiro fator fica no sentido de uma gera��o que busca outras formas de vida e carreira”, afirma Barki.