
De festa de abnegados no in�cio da d�cada a evento com expectativa de atrair 4,8 milh�es de pessoas neste ano, o carnaval de Belo Horizonte multiplicou de tamanho em velocidade muito superior � capacidade dos blocos de atrair investimentos para equacionar as contas da festa. Colocar o bloco na rua continua sendo uma luta herc�lea dos organizadores, que, antes de esquentar os tamborins, precisam lidar com planilhas, documenta��o, alvar�s e outras burocracias.
Uma das principais agremia��es da cidade, o Baianas Ozadas utilizava recursos pr�prios at� 2016, provenientes de venda de camisas e shows. Desde 2017, com o n�mero de foli�es aumentando a cada ano, o bloco passou a contar com patroc�nio privado, al�m de recurso de edital da Prefeitura de BH – que, este ano, foi de R$ 10 mil. Segundo a produtora Pollyana Paix�o, o custo total para o bloco sair na segunda-feira de carnaval (4 de mar�o) pelas ruas do Centro da capital � de cerca de R$ 200 mil.
S� o aluguel do trio el�trico custa cerca de R$ 35 mil, de acordo com a produtora. “Quem faz o carnaval s�o os blocos. Atra�mos turistas, movimentamos a cidade. E o custo � cada vez maior. Antes ensai�vamos no nosso tempo livre, o caminh�o de som era s� para a voz. Agora multiplicou de tamanho. Por isso, os blocos devem agir como players”, afirma.
Ainda que diante de m�dia espont�nea e milhares de foli�es, Polly afirma que o financiamento � dif�cil. Para o carnaval deste ano, o Baianas Ozadas tentou e n�o conseguiu o dinheiro suficiente para trazer a BH o Olodum, expoente da cultura afro do carnaval baiano “Est�vamos fechados, eles estavam dispostos, mas n�o conseguimos angariar fundos”, conta.

� frente do Bloco da Calixto – que em 2019 traz a tem�tica “nas estrelas” para a folia, da qual participa desde 2014 –, a cantora e compositora Aline Calixto explica que o carnaval de BH foi se firmando como atra��o cultural e, em paralelo, o evento encareceu. Com mais pessoas na festa, argumenta, estruturas maiores e mais gastos s�o necess�rios para que todo o p�blico seja contemplado de forma satisfat�ria.
Apesar disso, pela primeira vez desde o ano passado, o bloco liderado por Calixto n�o contar� com apoio da Belotur e arrecada recursos, principalmente, da iniciativa privada. A artista ressalta a import�ncia do setor privado para a folia e diz que parcerias s�o bem-vindas. “Os custos s�o altos e s� a parte da opera��o do bloco custa da ordem de R$ 80 mil. Precisamos arrecadar recursos para levar uma festa � altura do p�blico”, explica.
Superlativo Na festa deste ano, 590 blocos se cadastraram na Empresa Municipal de Turismo (Belotur), com 700 desfiles programados. A Belotur vai gastar em torno de R$ 14,5 milh�es, segundo o diretor de eventos, Gilberto Castro. Desse valor, R$ 12,5 milh�es ser�o aportados pela iniciativa privada, por meio de edital vencido por uma ag�ncia que pode ativar at� seis marcas de contrapartida. Os outros R$ 2 milh�es sair�o de um fundo de or�amento do carnaval.
Utilizando-se de edital de subven��o, a Belotur distribuiu R$ 564 mil para 84 blocos, divididos em quatro categorias, com valores variando de R$ 3 mil a R$ 10 mil, para apoiar a produ��o e opera��o dos desfiles. “Conseguimos contemplar, assim, blocos de v�rios tamanhos e formatos, que s�o importantes para as comunidades, at� os maiores”, conta Gilberto Castro.
Falta dinheiro e sobra disputa
“Esse � um ano at�pico”, afirma Lelo Lob�o, fundador, vocalista e contrabaixista do Bloco Baianeiros, que desde o ano passado participa do carnaval belo-horizontino. Segundo ele, al�m do crescimento da folia na capital mineira, v�rios elementos pol�ticos e econ�micos contribuem para que os custos de produ��o dos cortejos tenham aumentado em 2019.
O artista tamb�m relata ter ouvido de v�rios outros blocos que h� um menor apoio da iniciativa privada, neste ano, em compara��o com outros carnavais. “H� uma mudan�a no comando pol�tico federal, que de uma forma ou de outra, acaba fazendo com que empresas demorem a definir e tomem cuidado maior com certos tipos de investimento”, afirma Lob�o.
Al�m disso, ele acredita que a Belotur n�o tem estrutura para suportar a festa na qual o carnaval de Belo Horizonte se tornou. “Ela est� muito sobrecarregada para segurar sozinha essa grandeza. O carnaval n�o � mais de Belo Horizonte, mas de Minas Gerais e espero que o governo do estado enxergue esse potencial”, argumenta.
O Bloco Baianeiros, de acordo com Lob�o, tem gastos em dobro se comparados aos de alguns outros cortejos da capital, uma vez que o desfile ocorre em dois dias. Os gastos totais chegam a R$ 200 mil.
No entanto, nem s� de grandes multid�es, estruturas fara�nicas e custos elevados vive o carnaval belo-horizontino. Blocos de pequeno e m�dio porte tamb�m agitam a folia na capital e abrigam p�blicos distintos, que v�o de os f�s de jazz a moradores de bairros distantes do Centro. Exemplo disso � o Bloco Magn�lia, que desde 2014 agita o Bairro Cai�ara, na Regi�o Noroeste de BH. O cortejo, que pretende levar 20 mil pessoas �s ruas, custa em torno de R$ 30 mil, revela o coordenador e fundador do bloco, Fl�vio Maia.
Apesar de ter tentado participar do edital aberto pela Belotur no ano passado, o bloco n�o conseguiu a verba de R$ 10 mil que foi ofertada. Com isso, e sem muitos patroc�nios certos, o Magn�lia busca parceiros. “Queremos colocar o bloco na rua, temos um parceiro, mas ainda n�o arrecadamos o suficiente. Estamos buscando empresas que possam nos apoiar”, explica Fl�vio.
‘Invis�vel’ Financiamento tamb�m � a principal dificuldade do bloco afro Afox� Bandarer�. “A gente nunca colocou na ponta do l�pis, mas para o trio, vestir o corpo de baile, a charanga, o custo deve girar em torno de R$ 50 mil”, conta Agnaldo Muller, um dos coordenadores da agremia��o, que sair� nas ruas do Conc�rdia no domingo de carnaval, a partir das 13h, com concentra��o na Pra�a M�xico. “Em 2013, nossa estrutura era m�nima, nosso carro de som era um Uno. Hoje crescemos, mas n�o conseguimos chegar aos patroc�nios privados, pois h� toda uma quest�o da invisibilidade da cultura negra, temos uma cultura verdadeira.”
(*) Estagi�rio sob a supervis�o da subeditora Marta Vieira

