
S�o Paulo – As grifes de luxo costumam ser associadas aos grandes centros urbanos, �s lojas elegantes em cidades como Nova York, Paris e Mil�o e �s modelos de fama internacional. Essa imagem, constru�da de bom grado pelas pr�prias empresas, n�o encerra todos os aspectos que envolvem o neg�cio bilion�rio de marcas como Ermenegildo Zegna, Herm�s, Chanel, Dior, Armani, Prada, Louis Vuitton e tantas outras famosas pela sofistica��o. H� um lado pouco conhecido das grifes que tem chamado cada vez mais a aten��o: a conex�o delas com o universo agro.
Se a integra��o vertical funciona como uma jogada esperta de marketing para seduzir consumidores cada vez mais conscientes (que empresa n�o quer escancarar para o mundo que seu couro de crocodilo vem de uma fazenda sustent�vel?), ela tamb�m contribui para a melhora dos resultados financeiros.
“Pesquisas recentes mostram que a verticalidade, se bem aplicada, dinamiza o processo produtivo e ajuda a reduzir custos”, diz Tancinsky. Isso explica por que as companhias tit�nicas de luxo come�aram a investir com for�a nesse modelo de neg�cio, colocando literalmente o p� na lama.
O grupo franc�s Kering, dono de marcas como Balenciaga, Gucci e Yves Saint Laurent, comprou em 2017 uma fazenda tailandesa produtora de cobras p�ton. Com at� sete metros de comprimento, as cobras p�ton s�o as maiores serpentes do mundo e fornecem a mat�ria-prima para a produ��o de bolsas da marca Gucci, que custam a partir de dois mil euros nas lojas de Paris.
A liga��o da Kering com o universo agro � �ntima. N�o � toa, sua diretora de sustentabilidade � uma engenheira agr�cola que chegou a ser ministra do Meio Ambiente da Fran�a entre 2010 e 2012. Contratada em 2013 para tornar os processos do conglomerado mais sustent�veis, Marie-Claire Daveu � uma das autoras do plano estrat�gico de 10 anos elaborado pelo grupo para fortalecer a sua pegada ecol�gica.
Atualmente, a executiva est� trabalhando com fazendeiros de cabras da Mong�lia para garantir suprimentos mais sustent�veis de caxemira e com produtores de l� fina da Nova Zel�ndia para que desenvolvam t�cnicas menos agressivas ao meio ambiente. Marie-Claire tamb�m garante que o ouro usado nos acess�rios das marcas da empresa foi “eticamente minerado”, o que significa, segundo ela, que sua extra��o gera os m�nimos danos poss�veis ao planeta.
A aposta na integra��o vertical � a principal respons�vel pelo recente fortalecimentos dos bra�os agros das grifes de luxo. Famosa pelas gravatas de seda e pelos artigos de couro, a Herm�s tem investido com assiduidade em animais vivos.
Nos �ltimos anos, a empresa fundada em 1837 na Fran�a comprou uma fazenda de jacar�s na Louisiana, nos Estados Unidos, e duas fazendas de crocodilos na Austr�lia. Para administrar esses empreendimentos, n�o basta ter apenas estilistas, designers e costureiros, os profissionais mais requisitados – e bem pagos – do universo do luxo, mas um pequeno ex�rcito de bi�logos e engenheiros agr�colas, assim como fazem as grandes l�deres globais do ramo do agroneg�cio.
A redescoberta agr�cola tamb�m transformou a estrat�gia de neg�cios da grife Ermenegildo Zegna, que come�ou a construir a reputa��o de seus de ternos de l� a partir de 1910, quando foi fundada por um alfaiate de Trivero, na It�lia. Mais de um s�culo depois, Paolo Zegna, herdeiro da marca, resolveu se embrenhar no campo.
Todos os meses, ele troca a moderna sede da empresa em Mil�o pela empoeirada Armidale, a 500 quil�metros de Sydney, na Austr�lia. � nessa cidade, rodeada por rios e ch�o de terra batida, que as l�s superfinas usadas nas roupas da Ermenegildo s�o produzidas. Nas ocasi�es em que visita a fazenda, algo cada vez mais comum depois que Paolo tomou gosto pela vida rural, o executivo deixa de lado os su�teres bem cortados para vestir jeans, mangas de camisa, botas e chap�u de caub�i.
Batizada de Achill, a propriedade est� no ramo de cria��o de ovelhas h� mais de um s�culo, e pertence � grife italiana desde 2014. Para Paolo, a decis�o de comprar a fazenda n�o poderia ter sido mais acertada. “Achill nos permitiu fechar o c�rculo”, disse Zegna em entrevista publicada pelo jornal australiano The Saturday Paper. “Os clientes de hoje querem saber de onde vieram os produtos que est�o comprando. Agora podemos dizer que nosso neg�cio vai desde a cria��o de ovelhas at� a gest�o das lojas.”