
S�o Paulo – Os funcion�rios da montadora Fiat Chrysler Automobiles (FCA) na It�lia e nos Estados Unidos foram surpreendidos, na manh� de ontem, com um e-mail enviado antes do in�cio do expediente. Nele, o CEO global da companhia, Mike Manley, afirma que foi apresentada uma proposta formal de fus�o com a rival francesa Renault.
O argumento expresso no texto, e confirmado pela empresa horas depois, � que o setor automobil�stico passa pela “mais profunda e dram�tica transforma��o em quase de s�culo.” O executivo se refere � r�pida incorpora��o de novas tecnologias no campo da mobilidade, com a introdu��o de ve�culos el�tricos e aut�nomos, o que exige uni�o de for�as entre as principais montadoras mundiais.
Se o pedido de casamento da Fiat for aceito pela Renault, as duas empresas formar�o um colosso industrial, o terceiro maior do mercado automotivo, avaliado em mais de US$ 35 bilh�es e vendas de US$ 39 bilh�es. Com a uni�o, elas ultrapassam da americana General Motors e a coreana Hyundai, ficando atr�s apenas da Volkswagen e Toyota. “Mesmo que as marcas sigam independentes aos olhos do consumidor, o ganho de competitividade e de escala � gigantesco”, afirma o economista Jos� Eduardo Spangnuolo, especialista em ind�stria automotiva pela Fesp-SP.
O movimento de consolida��o do mercado de autom�veis, com a uni�o de for�as de grandes players globais, tem acontecido com mais intensidade nos �ltimos anos. Uma negocia��o semelhante est� em curso entre a General Motors e PSA Group (dona das marcas Peugeot, Citro�n, DS e Opel). Ambas as empresas, inclusive, chegaram a negociar a FCA.
Segundo o comunicado de ontem, a proposta � formar uma holding com sede na Holanda, com 50% do capital para cada, e a��es cotadas em Nova York (Estados Unidos) e em Mil�o (It�lia). Em resposta, a Renault afirmou que est� estudando a proposta com interesse e que considera interessante a oferta. Os investidores tamb�m gostaram. Os pap�is das duas empresas disparam mais de 10%.
A resposta definitiva da Renault, no entanto, sair� nos pr�ximos dias, depois que os membros do conselho de administra��o da montadora discutirem os pr�s e contras do neg�cio. N�o est� descartada uma contraproposta, que poderia incluir uma fatia maior para o governo franc�s, que � acionista da Renault, com fatia de 15%.
Os argumentos pela fus�o, segundo especialistas, s�o sedutores. A uni�o resultaria em vendas anuais de 8,7 milh�es de ve�culos e um aumento da presen�a das marcas em regi�es e segmentos importantes, gerando 5 bilh�es de euros (aproximadamente R$ 22 bilh�es) em economia anual.
“O amplo e complementar portf�lio das duas marcas forneceria uma cobertura completa do mercado, do luxo ao mainstream”, disse a FCA. Uma eventual fus�o, de acordo com a Fiat, n�o resultar� em fechamento de f�bricas. “Com base na experi�ncia com a Chrysler nos �ltimos 10 anos, estou muito animado com o que poder�amos conseguir com a Renault nos pr�ximos anos”, afirmou o presidente e herdeiro da FCA, John Elkann. “Pelo contr�rio, todos os pa�ses envolvidos e a It�lia, que � nossa casa, ser�o muito beneficiados”, afirmou.
Se as f�bricas n�o ser�o afetadas, o organograma da companhia, sim. A poss�vel uni�o formar� um grupo que deve ser presidido pelo diretor dos investimentos da fam�lia Agnelli, John Elkann. J� o presidente do conselho de administra��o da Renault, Jean-Dominique Senard, � cotado para assumir o cargo de presidente-executivo da companhia.
Na avalia��o do vice-premi� italiano, Matteo Salvini, a fus�o pode ser boa not�cia se ajudar a FCA a crescer em todo o mundo, mas, principalmente, preservar empregos. A FCA tem um neg�cio altamente lucrativo na Am�rica do Norte com as picapes RAM e a marca Jeep, mas perdeu dinheiro na Europa no �ltimo trimestre, onde a maior parte de suas f�bricas est� operando abaixo de 50% da capacidade e enfrenta dificuldades com normas mais r�gidas de emiss�es de poluentes.
A Renault, na contram�o, foi uma das primeiras empresas a investir em ve�culos el�tricos e tem forte presen�a em mercados emergentes, como a FCA no Brasil, mas n�o tem opera��es nos Estados Unidos. Um acordo, por�m, faria pouco para resolver a limitada presen�a de ambos os grupos na China, maior mercado automotivo do mundo.
A FCA afirmou que a decis�o pela fus�o foi “fortalecida pela necessidade de se tomar decis�es corajosas para capturar uma escala de oportunidades criadas pela transforma��o da ind�stria de ve�culos”. O custo enorme destas mudan�as, incluindo amea�as de novos entrantes como a Tesla em carros el�tricos e Uber e Google em ve�culos aut�nomos, tem pressionado montadoras de ve�culos a trabalharem mais juntas, incluindo Volkswagen e Ford.