
S�o Paulo – O primeiro flerte como empreendedor do mineiro Fernando Franco, de 27 anos, n�o teve final feliz. A onda dos food parks arrefeceu e o neg�cio que tinha com alguns s�cios, em S�o Paulo, n�o foi adiante. Mas a experi�ncia como operador de uma empresa o inspirou anos depois.
“Vimos como o cr�dito era concedido aos chineses e a diferen�a para o mercado americano, que � muito pulverizado. Quando n�o h� informa��o dispon�vel sobre quem precisa do dinheiro, � preciso recorrer a caminhos n�o tradicionais”, relata. Por exemplo, buscar dados em redes sociais e, a partir deles, tra�ar o perfil do cliente e seu risco.
O amigo de Franco vinha de uma experi�ncia na �rea de cr�dito de um grande banco. Juntos, eles decidiram criar uma fintech voltada � concess�o de cr�dito para quem busca um curso profissionalizante.
"Todo mundo est� fazendo a mesma coisa no Brasil. Vimos que n�o dava para ser mais uma empresa de cr�dito caro, que atrapalha a vida das pessoas. Quer�amos fazer a diferen�a. Se era para usar o dinheiro emprestado, que fosse para uma coisa boa, n�o para comprar uma bolsa cara ou um carro novo”, relata.
Depois de muita pesquisa, Franco e o s�cio definiram a �rea de atua��o da fintech Provi. O cr�dito seria oferecido a quem precisa de recursos para estudar e melhorar suas condi��es no mercado de trabalho. Foi preciso reunir as economias do tempo em que trabalharam em banco e usar o dinheiro da venda dos carros para dar os primeiros passos. “Tinha de dar certo, do contr�rio, come�ar�amos negativados”.
A ideia foi amadurecida depois que a Provi se aproximou do C6 Bank. O banco digital, que ainda est� em fase pr�-operacional, criou uma incubadora para abrigar startups e apoi�-las em sua estrutura��o, por meio do hub de empreendedorismo Opp. Quando foi lan�ado o processo de sele��o, no fim do ano passado, a institui��o financeira recebeu 344 inscri��es, foram feitas 140 entrevistas e quatro empreendimentos foram selecionados. A Provi foi a vencedora do primeiro "demoday" e, na pr�xima semana, se prepara para a apresenta��o final.
Na troca de experi�ncias na incubadora, os s�cios perceberam que n�o seria vi�vel oferecer o cr�dito por meio de divulga��es em redes sociais, com a capta��o de clientes de forma aleat�ria. Esse trabalho poderia ser feito por meio de parcerias com escolas, de diferentes segmentos. O primeiro movimento foi em dire��o �s institui��es formadoras de desenvolvedores. “O pa�s tem cerca de 13 milh�es de desempregados. Apesar disso, h� muitas vagas para desenvolvedores. E se financi�ssemos quem estivesse em busca desse tipo de forma��o? Foi assim que passamos a procurar escolas especializadas nesse perfil para oferecer parceria.”
AN�LISE
Cursos para desenvolvedores podem custar at� R$ 20 mil e a forma��o leva de quatro a seis meses. Um profissional em fase inicial de carreira tem sal�rio mensal de R$ 3,5 mil, em m�dia. “Com esses acordos, os financiamentos dos cursos passam a ser feitos pela Provi.
Um dos parceiros da fintech, que conta com apenas seis pessoas na equipe, � a Ironhack, escola de programa��o e design interativo, em S�o Paulo.
O processo para o financiamento � feito por meio do aplicativo da Provi. Antes de liberar o financiamento, que � pago diretamente para a institui��o de ensino, a startup analisa dados p�blicos dispon�veis nas redes sociais, com a permiss�o do candidato, al�m de outros dados. A an�lise, segundo Franco, leva em considera��o aspectos mais “humanos” do candidato, como o n�vel do seu entusiasmo com a possibilidade de passar por uma forma��o. Esse cruzamento de informa��es � feito por meio de machine learning.
“Os bancos fazem empr�stimo pensando na vida passada, olhando para a renda passada do potencial cliente. Mas as pessoas s�o qualificadas profissionalmente, por meio do financiamento de cursos, esse empr�stimo � dado pensando na sua renda futura”, explica o fundador da fintech.
Hoje, al�m dos cursos para desenvolvedores, a Provi j� financiou cursos na �rea de est�tica e se prepara para outros segmentos. A partir de agosto, passar�o a ser financiados tamb�m m�dicos rec�m-formados que est�o em fase de resid�ncia e que t�m dificuldades para se manter apenas com a bolsa- resid�ncia. Muitos, segundo Franco, desistem da especializa��o porque n�o t�m como se sustentar.
negocia��es Nos primeiros meses de opera��o, a Provi j� financiou cerca de 100 pessoas e os empr�stimos j� passaram de R$ 1 milh�o. Franco acredita que ter� condi��es de chegar ao fim do ano com R$ 10 milh�es financiados, aproximadamente. Essa acelera��o no crescimento vai depender das negocia��es com fundos de investimento.
O valor m�dio dos empr�stimos � de R$ 10 mil e os cursos variam de R$ 2 mil a R$ 17,5 mil. Os juros s�o a partir de 0,75% ao m�s, mas podem chegar a 2,99%, de acordo com o n�mero de parcelas – que podem atingir dois anos. H� casos at� de juro zero, com uma negocia��o pr�via diretamente com a escola, que oferece bolsas de estudo. Com o pagamento feito diretamente para a escola, Franco diz que consegue evitar fraudes e oferecer o cr�dito a um custo mais barato. Tamb�m a partir de agosto, a Provi passa a fazer parte do LIFT, programa de inova��o coordenado pelo Banco Central e voltado a fintechs.
“Antes, imaginava que aos 50 anos queria ter alguns milh�es na conta. Agora, quero daqui a 30 dias dizer que mudei a vida de uma 'porrada' de pessoas”, diz o empreendedor.