
O que a infla��o registrada em agosto diz sobre o estado atual da economia brasileira?
Os n�meros mostram que � a absoluta aus�ncia de surpresas em rela��o � economia. Ela est� parada mesmo. Os n�cleos de infla��o est�o inalterados nos �ltimos 12 meses, � uma economia que n�o tem tens�o inflacion�ria.
O exterior tamb�m tem contribu�do para a infla��o baixa?
Sim. H� alguns efeitos desinflacion�rios vindo do exterior: crescimento global mais fraco, pre�os de commodities em queda e a crise Argentina, que pesa direto na produ��o industrial do Brasil, pela import�ncia que eles t�m na compra de manufaturados brasileiros. Pelos n�meros, d� para ver que a exporta��o de manufaturados do Brasil est� perdendo f�lego, o que � preocupante, dado o estado cr�tico em que a ind�stria brasileira se encontra.
A recupera��o, ent�o, deve vir do mercado interno?
Exatamente. A recupera��o da economia n�o vai vir de fora, � preciso colocar mais demanda dom�stica para puxar a economia. O consumo est� muito fraco ainda, mais forte do que o resto da economia, mas muito distante do ideal.
O consumo vai continuar fraco enquanto o desemprego continuar resistente?
A taxa de cria��o de empregos, na compara��o com todo o resto, n�o est� t�o mal. Houve uma recupera��o expressiva na compara��o com os piores momentos da crise. Se a gente parar para pensar, eram 92,5 milh�es de empregos em 2015, caiu para 89,5 milh�es durante o pior momento da crise. A gente est� na casa de 93,5 milh�es, mas � um emprego de pior qualidade. O emprego formal ainda est� muito abaixo do per�odo pr�-crise, subiu no informal e no conta pr�pria. O que leva a uma renda mais baixa das fam�lias tamb�m.
O emprego informal acaba inibindo a concess�o de cr�dito tamb�m, certo?
Sim, os bancos tendem a ser mais reticentes para dar cr�dito para quem est� informal ou por conta pr�pria. A economia depende muito da recupera��o da renda e n�o tem muito como alavancar a renda neste momento.
Houve uma deprecia��o forte do real recentemente, com o d�lar encostando em R$ 4,20. Isso pode afetar a infla��o?
Foi, de fato, uma deprecia��o forte. O d�lar rapidamente chegou a esse patamar entre R$ 4,10 e R$ 4,20, mas os efeitos ainda n�o apareceram na infla��o de agosto. Se aparecerem, vai ser em setembro ou outubro. Ainda assim, deve ser um efeito de curto prazo, se o d�lar parar mesmo em R$ 4,20. Se a moeda americana subir al�m disso, podemos ter problemas. At� agora, por�m, n�o acho que seja um grande obst�culo para continuar cortando juros.
O ano de 2019 � dado como perdido, apesar de previs�es anteriores, que mostravam uma recupera��o mais forte. Foram as crises pol�ticas que postergaram a retomada da economia?
A responsabilidade n�o � toda do Planalto. Eu acho que o presidente � fraco, mas o Congresso chamou para si a responsabilidade de tocar a agenda de reformas. O problema � que a economia perdeu f�lego no fim do ano e n�o recuperou desde ent�o, apesar da perspectiva que os economistas tinham de que a elei��o iria eliminar incertezas.
Com a infla��o nesse patamar baixo, o espa�o para novos cortes dos juros continua aberto?
Todas as indica��es s�o de que o Banco Central vai continuar cortando juros, � um consenso de mercado que os juros v�o ficar em alguma coisa na casa dos 5% at� o fim deste ano e devem permanecer a� ao longo de 2020. N�o tem muita op��o, sem a queda de juros, dificilmente a infla��o vai convergir para a meta. Em 2019 n�o tem mais o que fazer, o ano est� perdido e o cen�rio j� foi lan�ado, n�o tem pol�tica monet�ria que v� mudar alguma coisa agora. O foco do Banco Central j� est� em 2020.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.