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Estado de Minas ENTREVISTA/F�BIO OLIVEIRA

Adeus ao 'jeitinho brasileiro' para quem n�o seguir as regras

Seguros contra cibercrimes tendem a crescer no pa�s em fun��o da Lei Geral de Prote��o de Dados


postado em 30/09/2019 04:00 / atualizado em 02/10/2019 12:52

(foto: AIG/Divulgação)
(foto: AIG/Divulga��o)

S�o Paulo
– Imagine ser respons�vel pela �rea de seguran�a digital de um hospital e ter de garantir a prote��o de milhares de dados de pacientes, desde o CPF at� resultados de exames. Um dia, um criminoso cibern�tico invade o sistema, sequestra as informa��es dos prontu�rios e exige o pagamento de um valor, em bitcoins, para cessar a a��o. Como agir? Como proteger as informa��es e o patrim�nio da unidade de sa�de? Com o aumento crescente desse tipo de a��o, o mercado de seguros viu a� uma oportunidade de oferecer produtos que garantissem cobertura aos cibercrimes.

Neste m�s, a subsidi�ria brasileira da AIG, com sede nos Estados Unidos, fechou uma parceria com a consultoria Deloitte para oferecer um canal de emerg�ncia com a miss�o de conter situa��es de risco. Esse � um exemplo de como a empresa tem buscado trazer novos produtos para o mercado nacional e criar outras fontes de receita, explica F�bio Oliveira, presidente da AIG Seguros Brasil.

O executivo conta que esse produto n�o � novo no mercado americano, onde o n�mero de lit�gios � bem maior por conta da legisla��o local. Por outro lado, Oliveira acredita que essa divis�o de neg�cios ter� muito a crescer no Brasil por conta da entrada em vigor, a partir de agosto de 2020, da Lei Geral de Prote��o de Dados (LGPD). A nova regulamenta��o prev� uma s�rie de obriga��es para que as empresas garantam a seguran�a virtual dos dados de seus clientes. Outra frente importante de neg�cios no Brasil s�o os seguros para produtos financeiros. Por exemplo, os seguros para empresas que v�o abrir capital na bolsa de valores. A seguir, os principais trechos da entrevista com Oliveira.

 Como os crimes cibern�ticos entraram na carteira de produtos da AIG? Como tem sido a demanda at� agora e qual � o potencial no Brasil?
Quando falamos em produtos especializados, tentamos buscar o know-how e a experi�ncia de uma companhia multinacional e com mais de 100 anos de vida. O seguro para riscos cibern�ticos foi criado h� sete anos nos EUA e hoje tem um pr�mio global de US$ 5 bilh�es, sendo que grande parte se concentra no mercado americano. Mas o maior crescimento desse produto est� ocorrendo na �rea internacional. Ainda trata-se de um mercado incipiente, porque requer uma educa��o das empresas quanto ao risco da exposi��o que elas t�m. O brasileiro tende a olhar seguro como um custo, n�o como um investimento. Por isso, quando h� uma inova��o em um produto, sabemos que � preciso esperar por um tempo de matura��o maior.

'Sempre que h� uma nova lei com multas espec�ficas, tem uma demanda for�ada para as empresas se adequarem. Mesmo aquelas que acham que n�o t�m de fazer por vontade pr�pria, fazem a adequa��o para atender � lei'



Hoje, como o Brasil se posiciona quanto � prote��o a riscos cibern�ticos?
Quando se fala em risco cibern�tico, o comportamento � semelhante ao da American Latina, mas h� muito o que avan�ar, porque a ades�o aos seguros � muito baixa. Por exemplo, no Brasil, a aquisi��o de produtos de seguro relacionados ao risco patrimonial com responsabilidade civil gira em torno de 8% do total de neg�cios. Serviria, por exemplo, para uma padaria ter seu patrim�nio protegido, n�o s� para grandes empresas. No M�xico, esse �ndice est� em torno de 15%, quase dobra em rela��o ao Brasil. J� nos Estados Unidos, chega a 60%.

No caso da prote��o aos riscos cibern�ticos, voc� acredita que a demanda ser� gerada rapidamente?
Apesar de o crescimento ser lento, ele ocorre m�s ap�s m�s, o que mostra que a tend�ncia � exponencial. H� duas raz�es claras para esse aumento. Cada vez mais se tem conhecimento sobre a exposi��o a um risco, j� que estamos falando de um mundo cada vez mais globalizado e interconectado. Al�m disso, sabemos de casos de ataques no Brasil em que houve vazamento de dados, com �rg�os do governo, como o Minist�rio P�blico, for�ando as empresas a tomarem certas a��es para mitigar os danos. Foi assim, por exemplo, no caso da Netshoes. O MP exigiu que a empresa de e-commerce notificasse os consumidores de que as informa��es foram vazadas. Esse tipo de rea��o depois da invas�o se torna complexa pelo tipo de informa��o que pode ter sido acessada e o que foi exposto no ataque.

O Brasileiro tende a olhar seguro como um custo, n�o como um investimento'



Nesse contexto, a Lei Geral de Prote��o de Dados (LGPD), que entra em vigor em agosto de 2020, pode acelerar a procura por esse tipo de seguro?
Sim, a LGPD tem uma influ�ncia na gera��o de demanda. Sempre que h� uma nova lei com multas espec�ficas, tem uma demanda for�ada para as empresas se adequarem. Mesmo aquelas que acham que n�o t�m de fazer por vontade pr�pria, fazem a adequa��o para atender � lei. Vimos um aumento na procura por seguros relacionados a LGPD, mas em processo em que falta menos de um ano para entrar em vigor, esperava que as empresas fossem mais r�pidas. Agora, perto do fim do ano, come�a um per�odo de or�amentos, j� que os executivos sabem que ter�o de correr para se preparar em 2020.

No caso de um ciberataque, que tipo de cobertura pode ser oferecida?
Depende do tipo de sinistro. Por exemplo, se um hacker entra no sistema do hospital e pega o prontu�rio digitalmente para depois pedir um resgate, em bitcoins, pelos dados, o segurado pode tanto ser reembolsado pelo preju�zo quanto receber uma indeniza��o direta. A transa��o � entre o cliente, no caso, o hospital, e a seguradora, que n�o faz o contato com o hacker. Mas existe tamb�m um plano de remedia��o, em que recomendamos que assim que o ataque for identificado ele seja notificado para que entremos com um servi�o de seguran�a, que passou a ser oferecido por meio de uma parceria que fizemos com a Deloitte, por meio do seu ciber hub, em S�o Paulo. Quanto mais r�pido, melhor.

A exposi��o aos riscos � grande?
Pesquisa da IBM mostra que, em m�dia, uma empresa leva 211 dias para identificar uma invas�o on-line. Ou seja, a maioria das empresas que sofrem ataques e vazamentos de dados descobrem quase sete meses depois. Durante todo esse per�odo, a exposi��o continua. Imagine se um hacker entrar na sua casa, filmar durante sete meses e monitorar tudo o que ocorre. E voc� descobre apenas depois de sete meses toda aquela a��o. Quanto mais tempo o invasor est� na rede, mais ele acessa informa��es. � fato que somos atacados todos os dias, mas precisamos estar preparados para sermos mais eficientes que os hackers.

'Apesar da recess�o do comportamento do PIB, a ind�stria de seguros continua crescendo, o que mostra a sua resili�ncia'



Hoje, produtos financeiros, como o fundo de receb�veis, t�m apresentado um bom potencial? Outros produtos poder�o passar a ter cobertura?
No caso dos Fundo de Investimento em Direitos Credit�rios (FIDCs), a companhia trabalha nos segmentos de grande risco e PMEs. O produto de cr�dito trabalha com FIDCs, mas � um trabalho complexo de subscri��o e de avalia��o de todo risco pela alta exposi��o e complexidade. Mas trabalhamos com outros produtos financeiros, como responsabilidade civil para diretores e administradores, para fus�es e aquisi��es, assim como seguro espec�fico para abertura de capital e emiss�es de d�vidas p�blicas. � o tipo de prote��o que funciona, por exemplo, para a empresa que abre capital na bolsa, se resguardar no caso de falha na divulga��o de alguma informa��o nos prospectos que possa levar um investidor a reclamar de perdas.

O cen�rio constru�do no Brasil nos �ltimos anos em diferentes �reas, como pol�tica, economia, ambiental, mudou a avalia��o de risco sobre o pa�s?
A mudan�a nos �ltimos anos mudou a percep��o quanto � impunidade no pa�s. N�o adianta criar uma regra e n�o garantir que ela seja cumprida. Isso mudou e o que vemos � o foco em garantir que as regras sejam seguidas e quem n�o as cumprir que seja penalizado. Essa foi a grande diferen�a. N�o tem mais free lunch (almo�o de gra�a), n�o tem jeitinho brasileiro para quem n�o seguir as regras. A globaliza��o traz de fora para dentro. Traz investimento de fora, traz estrangeiros com outra mentalidade, acostumados com mais processos e regulamenta��o. Mesmo com uma opera��o no Brasil, pode ter um s�cio estrangeiro, e isso muda tudo.

As reformas na legisla��o, como a trabalhista, previdenci�ria e tribut�ria, poder�o ter impacto no setor?
Sou sempre a favor das reformas, que buscam trazer ganho de efici�ncia e agilidade que hoje n�o existem. No Brasil, s�o seis meses para abrir uma empresa e um ano para fechar. Com essa agilidade, as melhorias ser�o sentidas por todos. Apesar da recess�o e do comportamento do PIB, a ind�stria de seguros continua crescendo, o que mostra a sua resili�ncia. Isso ocorre, em parte, pela baixa ades�o aos seguros entre os brasileiros. Por exemplo, h� muito mais carros sem seguro do que com seguro. � assim para o seguro de vida, o residencial e tantos outros. Agora, por exemplo, estamos trabalhando no seguro-viagem, que tamb�m ainda � muito incipiente no pa�s.


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