
Os aumentos dos pre�os da carne bovina n�o est�o mais sozinhos no varejo. O consumidor da Grande Belo Horizonte j� paga mais caro pelos cortes de porco e frango, cuja oferta tem sido influenciada, como a da carne vermelha, pelo aumento das exporta��es, que encarecem esses alimentos no mercado brasileiro. A demanda maior � medida que se aproximam as festas de fim de ano tamb�m pressiona os gastos nos caixas dos a�ougues. Novo levantamento de pre�os realizado na segunda-feira e ontem pelo site de pesquisas Mercado Mineiro, e antecipado ao Estado de Minas, verificou altas que atingem 10,77% dos cortes su�nos em rela��o a 5 de novembro. O quilo do pernil com osso, que custava R$ 13,19, em m�dia, no come�o do m�s passado, j� est� sendo vendido a R$ 14,61, tamb�m na m�dia. Foi o maior reajuste encontrado.
No quilo dos cortes de frango, os aumentos de pre�os no per�odo de menos de um m�s, de acordo com a pesquisa, chegaram a 19,85%, quando o cliente pede a asa resfriada. O pre�o m�dio do produto neste come�o de dezembro foi encontrado a R$ 14,49, ante R$ 12,09. Se o cliente optar pelo frango resfriado, paga R$ 7,32, em m�dia, acr�scimo de 10,57% em rela��o ao pre�o m�dio de R$ 6,62 pesquisado em 5 de novembro.
A press�o das carnes foi ainda confirmada pelo �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado ainda ontem pela Funda��o Ipead, vinculada � UFMG. No m�s passado, a infla��o das carnes subiu 7,71% frente a outubro. Os cortes bovinos encareceram 11,23% e com os pre�os altos, a procura por alimentos substitutos, como ovo e lingui�a, tamb�m aumenta. De acordo com o instituto, o pre�o do ovo de galinha sofreu reajuste de 5,16% no m�s, enquanto a lingui�a ficou 9,22% mais cara.
A coordenadora de pesquisa da Funda��o Ipead, Thaize Martins, observa que as altas nos pre�os das carnes foram mais expressivas em novembro do que no resto do ano, especialmente a partir da segunda quinzena do m�s passado. De acordo com a especialista, uma jun��o de fatores explica o encarecimento das carnes. Devido a um surto de gripe su�na na �sia, a demanda da China por carne bovina aumentou consideravelmente. O pa�s asi�tico aumentou a importa��o da carne brasileira e, com isso, os frigor�ficos n�o conseguiu suprir a demanda interna.
Com menos oferta de carne, o pre�o subiu. Segundo a Associa��o Brasileira das Ind�strias Exportadoras de Carne (Abiec), o Brasil exportou 65.827 toneladas para a China em outubro, 62% a mais do que em setembro. Al�m disso, 38 frigor�ficos receberam autoriza��o para exportar para o pa�s em 2019; 22 deles especializados em carne bovina, segundo o Departamento de Inspe��o de Produtos de Origem Animal (Dipoa) do Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento.
Outro fator apontado por Thaize Martins � a alta do d�lar. A valoriza��o da moeda norte-americana em rela��o ao real favorece as exporta��es. O produtor nacional ganha mais vendendo para o mercado internacional, que se interessa mais em adquirir a carne brasileira, mais barata. “Esse pre�o vai ser manter por alguns meses, para equilibrar a oferta e a demanda, e atender � procura interna e externa”, explica.
O presidente da Associa��o Brasileira da Prote�na Animal (ABPA), Francisco Turra, afirma que os pre�os das carnes de frango e porco ficaram represados nos �ltimos anos e que ocorreu crescimento anormal das exporta��es para a China. “Os maiores exportadores de carne su�na, o Brasil, Uni�o Europeia e Canad�, n�o suportam metade da demanda chinesa. O aumento da carne su�na puxou tudo”, alega. Outro fator de aumento dos pre�os, segundo ele, foi o fato de a economia interna melhorou e aumentou o consumo de aves e su�nos. “Os insumos tamb�m tiveram eleva��o de pre�os”, alega
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H�bitos
O aumento nos pre�os das carnes � sentido pelo consumidor, que protesta. A dona de casa L�cia Helena, de 42 anos, percebeu o encarecimento nos a�ougues h� pelo menos duas semanas. “Aumentou bastante. Eu vi muita diferen�a”, conta. Segundo ela, o quilo do garr�o, que custava R$ 14, evoluiu para R$ 19 nas �ltimas semanas. Por�m, L�cia n�o chegou a pesquisar em outros locais, j� que mant�m o h�bito de fazer as compras num �nico a�ougue.
Ela comprou menos carne ontem e optou por cortes bovinos mais baratos. “Aquelas carnes mais caras, como ch� de dentro, fil�, eu n�o estou levando”, explica. No a�ougue que a dona de casa comprou, o quilo do ch� de dentro custava ontem R$ 32,95 e o do fil� mignon era R$ 39,95.
O economista Wellison Bahia, de 45 anos, tamb�m notou reajuste “muito alto” nos pre�os das carnes.
Ele conta que se assustou com o pre�o do quilo da picanha, quando foi comprar na semana passada. Mesmo assim, ele n�o deve mudar os h�bitos de consumo, pelo menos por enquanto. “J� tenho o h�bito de comer carne vermelha. N�o abro m�o da minha picanha. A gente trabalha � pra isso mesmo”, diz. Segundo o economista, o per�odo de festas no final de ano e a alta procura alavancada pela inje��o do 13º sal�rio e o Fundo de Garantia do Tempo de Servi�o (FGTS) na economia contribuem para o encarecimento das carnes.
* Estagi�rio sob supervis�o da subeditora Marta Vieira
• CARNES NA BERLINDA
» Em fevereiro de 1986, o presidente Jos� Sarney lan�ou o Plano Cruzado, que se tornou uma pol�mica tentativa de estabiliza��o da economia, com a substitui��o do cruzeiro. O plano envolveu congelamento de pre�os, sal�rios e c�mbio, abono de 8% para todos os trabalhadores, aumento de 15% para o sal�rio m�nimo e um gatilho salarial a ser acionado toda vez que a infla��o ultrapassasse 20%. Em consequ�ncia do congelamento, surgiu uma crise de abastecimento e a carne sumiu do varejo. O governo, em demonstra��o de for�a, confiscou milhares de bois no pasto.
» O frango assumiu o posto de s�mbolo do Plano Real, lan�amento em 1º junho de 1994, no governo de Itamar Franco. Com a cria��o do real, cada R$ 1 passou a equivaler a US$ 1e o governo controlava artificialmente a cota��o da moeda para dar estabilidade monet�ria ao Brasil. O quilo do frango podia ser adquirido por R$ 1, o que deu ao alimento o significado de acesso das fam�lias carentes � carne no card�pio.
• CAMPE�ES DOS REAJUSTES (Pre�o por kg)
» Porco – Pernil com osso inteiro
Pre�o m�dio em 5/11 R$ 13,19
Pre�o m�dio em 3/12 R$ 14,61
Aumento 10,77%
» Frango – Asa resfriada
Pre�o m�dio em 5/11 R$ 12,09
Pre�o m�dio em 3/12 R$ 14,49
Aumento 19,85%
» Boi – Ac�m
Pre�o m�dio em 05/11 R$ 18,08
Pre�o m�dio em 3/12 R$ 22,75
Aumento 25,83%
Fonte: Mercado Mineiro
Press�o r�pida no varejo
O diretor do site Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, diz que o aumento apurado nos pre�os das carnes de porco e frango surpreenderam. “Quando o pre�o do boi sobe, abre espa�o para o porco e o frango”, afirma. Por�m, com a alta demanda por essas carnes tanto interna quanto externamente, a tend�ncia � de que os pre�os subam em todo o segmento. Ele argumenta que, como mostra o levantamento do site, os pre�os dos frangos congelados foram o que mais subiram, justamente por ser aqueles destinados ao mercado internacional. “Tem muito tempo que a gente n�o v� um aumento como esse em um curto per�odo”, afirma. Os pesquisadores consultaram pre�os em 98 estabelecimentos comerciais de BH, Contagem e Betim. A carne de boi segue em alta. No per�odo da pesquisa, entre 5 de novembro e ontem, o pre�o m�dio do quilo de ac�m sofreu aumento de 25,83%, ao pular de R$ 18,08 para R$ 22,75, maior reajuste encontrado. Abreu observa que a chegada das festas de fim de ano consiste noutro fator para o consumidor continuar encontrando pre�os nos supermercados e a�ougues.