Franquias crescem e falam em mudar Black Friday

S�o Paulo – Apesar dos anos de baixo crescimento do Brasil, o franchising ainda mostra que tem conseguido se descolar da economia e apresentar crescimento acima do Produto Interno Bruto (PIB). A Associa��o Brasileira de Franchising (ABF), entidade que representa o setor, divulgou na �ltima ter�a-feira (21) dados preliminares relativos a 2019. Os n�meros definitivos ser�o confirmados em fevereiro, mas n�o devem diferir muito do que a associa��o tem em m�os hoje.

O faturamento das franquias apresentou crescimento de 6,9% em 2019, aponta a ABF. Apesar de a receita total n�o ter sido divulgada pela entidade, ao aplicar esse �ndice sobre os n�meros de 2018, quando o faturamento foi de R$ 174,84 bilh�es, chega-se a R$ 186,9 bilh�es movimentados pelo setor em 2019. Os dados, no entanto, s�o nominais, portanto, n�o levam em considera��o a infla��o acumulada no per�odo, quando o �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA), chegou a 4,31%.

Apesar de a trajet�ria das redes de franquias ter sido melhor que a expectativa de crescimento do PIB para 2019, o n�mero final ficou abaixo do que a ABF projetava no in�cio de 2019, quando apontou para um crescimento entre 8% e 10%. Passado o primeiro semestre, houve uma revis�o dos dados e a proje��o foi de 7%, apenas 0,1% abaixo do que foi divulgado pela entidade.

O otimismo revelado um ano atr�s pela ABF para 2019 era o mesmo de outros setores da economia, que contavam com uma agenda de reformas do governo que andasse com mais celeridade. “No come�o do ano, os empres�rios tinham uma expectativa muito alta”, comenta Andr� Friedheim, presidente da associa��o.

Dois segmentos se destacaram em 2019. Foram eles ‘casa e constru��o’ e ‘comunica��o, inform�tica e eletr�nicos’. “No primeiro, as redes souberam complementar a cadeia de valor da constru��o civil. No segundo, trabalharam com a diversifica��o dos canais de venda, como lojas f�sicas, e-commerce e marketplaces”, explica o diretor-executivo da ABF, Marcelo Maia.

Ainda segundo o balan�o da ABF, o quarto trimestre foi respons�vel por puxar o desempenho das franquias, como costuma ocorrer todos os anos. Apesar de ser um comportamento recorrente, j� h� quem veja tend�ncia de mudan�a nos �ltimos quatro meses do ano.

Isso porque a Black Friday, em novembro, tem canibalizado parte das vendas de Natal. Como os pre�os s�o promocionais, muitos comerciantes reclamam que a nova data do calend�rio do varejo, apesar de alavancar os n�meros, acaba tomando parte dos neg�cios que poderiam ser fechados no Natal, quando os pre�os praticados n�o s�o de promo��o.

''A Black Friday roubou vendas do Natal, quando as vendas s�o com margens maiores. J� na Black Friday, o varejo queima margem, fatura mais, mas rouba as vendas com margens maiores. Isso acontece principalmente com o setor de moda, como apontou a Hering''

Andr� Friedheim, presidente da ABF

Divulga��o feita pela Hering na �ltima segunda-feira (20) confirma esse impacto. A companhia classificou como decepcionante as vendas de fim de ano e atribui � Black Friday o resultado.

“A ressaca de vendas ap�s a Black Friday j� era esperada em raz�o da antecipa��o de parte das compras. Entretanto, esse movimento se estendeu mesmo ap�s a segunda quinzena de dezembro”, informou a empresa. A receita da companhia catarinense foi de R$ 502 milh�es no quarto trimestre, o que representou uma queda de 5% em rela��o ao ano anterior. O efeito da declara��o foi sentido na B3, a bolsa paulista, com a baixa de 12,6% nas a��es, o que refletiu em perdas de R$ 600 milh�es no valor de mercado da empresa.

Segundo Friedheim, havia uma expectativa maior para o per�odo. “Na nossa vis�o, a Black Friday roubou vendas do Natal, quando as vendas s�o com margens maiores. J� na Black Friday, o varejo queima margem, fatura mais, mas rouba as vendas, com margens maiores, que aconteceriam no Natal. Isso acontece principalmente com o setor de moda, como apontou a Hering”, detalha o presidente da associa��o.

Hoje, h� uma discuss�o entre as associa��es e varejistas, explica Friedheim, com o objetivo de tentar antecipar a Black Friday – inspirada no calend�rio americano de varejo, no qual a data surgiu para que os comerciantes queimassem seus estoques logo depois do Dia de A��o de Gra�as – para setembro, um m�s sem nenhuma data comemorativa que impacte positivamente no desempenho do setor.

A ideia de antecipar a Black Friday, no entanto, tem a resist�ncia do setor de brinquedos, j� que a nova data provocaria impactos nas vendas do Dia das Crian�as, que s�o t�o relevantes quanto o Natal para essa atividade. 

“(Se a mudan�a fosse feita), a� seriam os brinquedos que venderiam menos em outubro”, pondera o representante da ABF. A discuss�o sobre a antecipa��o da Black Friday, de acordo com Friedheim, j� est� ocorrendo e inclui o com�rcio eletr�nico e f�sico.

''Os setores de 'casa e constru��o' e 'comunica��o, inform�tica e eletr�nicos' se destacaram em 2019. No primeiro, as redes souberam complementar a cadeia de valor da constru��o civil. No segundo, trabalharam com a diversifica��o dos canais de venda, como lojas f�sicas, e-commerce e marketplaces''

Marcelo Maia, diretor-executivo da ABF

Al�m do faturamento, a Associa��o Brasileira de Franchising (ABF) identificou crescimento em unidades e em redes. Os dados divulgados pela ABF apontam para aumento de 5,1% nas unidades em opera��o e de 1,4% no total de redes de franquias em opera��o no pa�s. Em m�dia, foram inauguradas 25 franquias por dia em 2019.

Como consequ�ncia, houve uma alta no volume de empregos diretos do setor, que avan�ou 4,8% no ano passado, chegando a um total de 1,34 milh�o de postos de trabalho. Segundo Andr� Friedheim, em m�dia, as franquias s�o respons�veis por gerar nove novos postos a cada opera��o inaugurada. Em muitos casos, s�o a porta de entrada para jovens em busca do primeiro emprego.

Al�m da aposta na recupera��o gradual do mercado interno, as redes de franquias tamb�m olharam com mais aten��o para outros pa�ses. No ano passado, chegou a 163 o n�mero de marcas nacionais no exterior, ante as 145 marcas em 2018. Quem puxa essa internacionaliza��o � o segmento de moda, que conta atualmente com 35 marcas com neg�cios fora do Brasil. Na sequ�ncia, com 32 bandeiras, vem o segmento de sa�de, beleza e bem-estar, acompanhado por alimenta��o, com 25. Friedheim acredita na tend�ncia de crescimento para este ano, apesar de ainda haver muito espa�o para expandir no mercado local.

A previs�o para 2020 feita pela ABF � de um crescimento maior do faturamento do que o registrado no ano passado. A associa��o trabalha com uma estimativa de expans�o das vendas de 8%. J� o n�mero de empregos diretos deve aumentar em 6%.

Um dos term�metros para medir o humor do franchising � a procura por espa�os na feira anual organizada pela ABF. Segundo o presidente da ABF, “nunca teve um �ndice de venda como nesse ano”, o que seria um “reflexo da expectativa de melhora do quadro de 2020”.

Essa proje��o de melhora dos n�meros gerais est� atrelada na expectativa de abertura de mais franquias de grande porte, que exigem mais investimento, geram maior receita e mais empregos. Isso deve acontecer, segundo Friedheim, por causa da queda na taxa b�sica de juros, que tem pressionado para baixo os percentuais cobrados pelos bancos. A estimativa da ABF � de que haja um crescimento de 6% no total de unidades abertas em 2020 e de 1% nas redes em opera��o.