
Apesar da retra��o da economia brasileira e da queda do consumo, a minera��o deve ser um dos setores que v�o se recuperar mais rapidamente da crise provocada pelo coronav�rus, ao lado da agropecu�ria. Essa avalia��o � do diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Minera��o (Ibram), Fl�vio Ottoni Penido.
“A partir do momento em que diminui a venda interna de geladeiras, carros e panelas, esse efeito vem vindo de tr�s para a frente. Mas a minera��o tem facilidade de retornar. Quando � demandada, tem uma capacidade instalada que permite isso”, diz Penido.
O principal motivo para o otimismo do diretor-presidente do Ibram est� no mercado internacional e na capacidade de exporta��o do setor. Segundo Penido, a China, que conseguiu controlar o avan�o do novo coronav�rus, j� est� voltando a procurar min�rio. “Em um primeiro momento, a demanda internacional cai. Mas na China os estoques de a�o j� est�o baixos. E agora devem iniciar um grande investimento em infraestrutura”, explica.
Por outro lado, Penido pondera que a retomada n�o ser� imediata ou uniforme. O setor de pesquisa mineral deve demorar mais a se recompor, por precisar de mais funcion�rios trabalhando em espa�os menores, o que � desaconselhado num contexto de circula��o do v�rus.
A perspectiva do diretor-executivo de Finan�as e Rela��es com Investidores da mineradora Vale, Luciano Siani, � parecida. O executivo afirmou em transmiss�o promovida pelo jornal Valor Econ�mico que a China est� se recuperando mais rapidamente do que a Europa e os Estados Unidos.

N�vel normal
Segundo Siani, 70% da produ��o da Vale � voltada para a China, onde o investimento em constru��o civil � forte. “Na China o lockdown [isolamento total] foi rigoroso, durou tr�s meses. No primeiro trimestre a produ��o de a�o cresceu, mesmo com o lockdown. As atividades da ind�stria j� est�o de volta aos n�veis normais. A constru��o civil est� aumentando diariamente. Os estoques de a�o e min�rio de ferro est�o caindo”, analisou o diretor-executivo, que se diz otimista com a situa��o do pa�s asi�tico.
Desde o final de mar�o, quando o Minist�rio de Minas e Energia (MME) editou a portaria 135/ 2020, a minera��o � considerada atividade essencial durante a pandemia do novo coronav�rus. Dessa forma, os funcion�rios das mineradoras continuaram trabalhando, tanto na extra��o dos recursos minerais quanto na pesquisa. O diretor-presidente do Ibram defende a continuidade do trabalho. “Existe toda uma cadeia produtiva. A minera��o tem uma responsabilidade e � essencial para que os demais setores da ind�stria possam funcionar”, argumenta.
Mesmo com previs�es de queda na produ��o, ainda � cedo para para se ter uma ideia abrangente a respeito do efeito da pandemia no setor. Em comunicado, a Vale afirma que a pandemia da COVID-19 tem “impacto limitado” nas opera��es. A empresa suspendeu a opera��o de um terminal mar�timo na Mal�sia, o que n�o impactou na produ��o. Tamb�m suspendeu a minera��o em Voisey’s Bay, no Canad�, por at� quatro meses, mantendo a manuten��o da mina. Por fim, postergou planos de manuten��o corretiva em uma planta de processamento de carv�o em Mo�ambique.
Por�m, a mineradora avalia que o adiamento de paradas de manuten��o programada em diversas plantas deve prejudicar o n�vel de produ��o, especialmente no segmento de metais b�sicos. Al�m disso, prev� um impacto na produ��o por causa da demora de processos de inspe��o e autoriza��o, para a retomada da atividade de minas paradas.
De acordo com o diretor-executivo da ArcelorMittal Minera��o Brasil, Sebasti�o da Costa Filho, a pandemia “n�o alterou a produ��o de granulados e concentrados de min�rio de ferro” da empresa. A companhia tem duas minas em Minas Gerais. A Mina de Serra Azul, em Itatiaiu�u, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, e a Mina do Andrade, em Bela Vista de Minas, na Regi�o Central do estado.
Costa Filho afirma que as instala��es continuam produzindo dentro do esperado para o per�odo. “A prioridade da produ��o � para o consumo das plantas sider�rgicas da empresa”, explica o executivo. J� a multinacional Kinross, que extrai ouro da Mina do Ouro, em Paracatu, no Noroeste do estado, afirma que a produ��o n�o foi afetada pela pandemia.
Medidas sanit�rias
As mineradoras Vale e Kinross e as divis�es de minera��o da ArcellorMittal e Usiminas adotaram medidas parecidas entre si para frear a dissemina��o do coronav�rus nas instala��es. Entre as a��es comuns implantadas pelas empresas est�o a amplia��o das frotas de �nibus de transporte dos funcion�rios, que circulam com capacidade reduzida; equipes administrativas em trabalho remoto; afastamento de funcion�rios dos grupos de risco; aferi��o constante de temperatura dos colaboradores e distanciamento nos refeit�rios, que funcionam em hor�rio escalonado. As companhias n�o t�m previs�o para o relaxamento dessas medidas.
Segundo Penido, alguns processos da minera��o foram postergados. “Em muitas atividades da minera��o, o funcion�rio trabalha sozinho, como � o caso de um motorista ou operador de escavadeira”, diz. Para o diretor-presidente do Ibram, as medidas devem continuar indefinidamente. “N�s vamos ficar aguardando o que o Minist�rio da Sa�de e os governos municipais e estaduais liberarem. A esperan�a que temos � que se supere a pandemia o mais rapidamente poss�vel, a� se permita uma volta (dos processos interrompidos) com seguran�a. Neste momento, n�o cabe atitude a�odada.”
Queda de produ��o
No primeiro trimestre de 2020, a produ��o mineral no Brasil foi de 220 milh�es de toneladas. Uma queda de 17,67% em rela��o aos 265,45 milh�es registrados nos tr�s primeiros meses de 2019. Em rela��o ao quarto trimestre do ano passado, a retra��o foi de 18%. Na avalia��o do Ibram, como o setor � caracterizado por resultados de longo prazo, esses n�meros ainda mostram pouco do efeito do coronav�rus.
Um motivo imediato para a queda seriam os estragos provocados pelas chuvas no in�cio do ano. Outra raz�o � que a minera��o ainda tentar superar uma crise espec�fica: os efeitos do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em janeiro de 2019.
Segundo o diretor-presidente do Ibram, depois do desastre muitas barragens e atividades foram paralisadas. “Tornou-se necess�rio acompanhar com mais rigor as demais barragens. Com atitudes como paralisar minas que usavam barragem � montante. Com isso, diminuiu a produ��o, e o Brasil perdeu espa�o para a Austr�lia no mercado internacional de min�rio. Mas, aos poucos, isso est� sendo recomposto”, afirma.
*Estagi�rio sob a supervis�o da editora Silvana Arantes