
Seis empresas financeiras dos Estados Unidos investiram mais de US$ 18 bilh�es (cerca de R$ 101 bilh�es na cota��o atual) desde 2017 em nove companhias acusadas de impactar negativamente povos ind�genas brasileiros ou que t�m planos de iniciar opera��es dentro de territ�rios desses povos, afirma relat�rio publicado nesta ter�a-feira (27/10) pela Articula��o dos Povos Ind�genas do Brasil (Apib) e a ONG americana Amazon Watch.
Ao evidenciar esses la�os, a terceira edi��o da publica��o "Cumplicidade na Destrui��o" busca pressionar investidores internacionais a adotar e fortalecer mecanismos internos de controle para "garantir que n�o haja investimentos em �reas de destrui��o ambiental, viola��es de direitos humanos e conflitos em Territ�rios Ind�genas".As seis empresas financeiras citadas no relat�rio s�o as duas maiores gestoras de recursos do mundo (BlackRock e Vanguard), tr�s bancos (Citigroup, J.P. Morgan Chase e Bank of America) e uma gestora de investimentos (Dimensional Fund Advisors).
Segundo o levantamento todas elas t�m investimentos em Vale, Anglo American, Cargill, Cosan, Eletrobras, Energisa e JBS — companhias que o relat�rio acusa de ter provocado s�rios danos aos povos ind�genas no passado ou de ter planos para iniciar atividades que ter�o impacto negativo nos seus territ�rios.
Quatro dessas corpora��es (BlackRock, Vanguard, J.P. Morgan Chase e Dimensional Fund Advisors) tamb�m investiram na Equatorial Energia, que � acusada por Apib e Amazon Watch de n�o respeitar direitos do povo Krikati ao construir duas linhas de transmiss�o sobre seu territ�rio, no Maranh�o.

Al�m disso, o relat�rio destaca o investimento da BlackRock na mineradora Belo Sun, que planeja instalar um dos maiores projetos de explora��o de ouro a c�u aberto da Am�rica Latina na Volta Grande do Xingu, no Par�. O projeto sobre cr�ticas de ambientalistas e enfrenta questionamentos do Minist�rio P�blico na Justi�a.
Procuradas pela BBC News, as empresas citadas negaram as acusa��es feitas por Apib e Amazon Watch e informaram suas iniciativas para atuar com sustentabilidade.
Elas tamb�m ressaltaram que n�o tiveram acesso � �ntegra do relat�rio antes de sua publica��o. A reportagem forneceu a cada uma delas os trechos espec�ficos em que eram feitas as acusa��es para que pudessem se posicionar.
Entenda melhor a seguir essas acusa��es e a resposta das companhias e de seus investidores.
Mineradoras
Tr�s mineradoras s�o citadas na publica��o — Vale, Anglo American e Belo Sun.
A Vale � acusada, por exemplo, de ter contaminado o rio Catet�, principal fonte de �gua da Terra �ndigena Xikrin, que fica localizada a poucos quil�metros de empreendimentos da mineradora na regi�o da Serra do Caraj�s, no Par�.
"J� a Estrada de Ferro Caraj�s afeta diretamente quatro Terras Ind�genas: Rio Pindar�, M�e Maria, Xikrin e Arariboia. A empresa � acusada por ind�genas de descumprir seguidamente os acordos firmados para amenizar os impactos na regi�o", diz ainda o relat�rio.
A publica��o diz tamb�m que a mineradora tem centenas de requerimentos para explorar dentro de Terras Ind�genas na Amaz�nia — hoje essas opera��es n�o ocorrem dentro dos territ�rios, mas o presidente Jair Bolsonaro enviou ao Congresso uma proposta de regulamenta��o para tentar abrir esse mercado.
"Entre os 236 pedidos, destacam-se os que incidem sobre o Territ�rio Ind�gena (TI) Trombetas/Mapuera, que est� localizado entre Roraima, Amazonas e Par�, com 68 requerimentos; a TI Munduruku, no Par�, com 52 requerimentos; a TI Xikrin do Rio Catete (PA), com 37; a Kayabi (PA), com 35; e a Menkragnoti/Ba� (MT/PA), com 26", afirma o relat�rio.
Essa � a acusa��o que recai tamb�m sobre a Anglo American. O relat�rio n�o aponta atividades da empresa que j� tenham impactado territ�rios ind�genas, mas diz que a mineradora representa uma grande amea�a aos povos por suas tentativas de explorar min�rio dentro de suas terras.
"Junto com duas subsidi�rias brasileiras, a Minera��o Itamarac� e Minera��o Tanagra, a Anglo American tem quase 300 requerimentos de pesquisa registrados na Ag�ncia Nacional de Minera��o que incidem sobre Terras Ind�genas na Amaz�nia. Os requerimentos atingem 18 Terras Ind�genas, algumas com a presen�a de povos em isolamento volunt�rio", diz o documento.
"O mais recente alvo da Anglo American � a TI Sawr� Muybu, no M�dio Tapaj�s, onde vive o povo Munduruku. Cinco pedidos s�o de 2017 e 2019, o que mostra que a mineradora n�o parou de atuar mesmo sabendo da proibi��o de explora��o em Terras Ind�genas. Parece que a empresa est� contando com as mudan�as legislativas propostas pelo governo de Bolsonaro para que sejam validadas suas licen�as de prospec��o", acrescenta o relat�rio.
J� a Belo Sun "tem atualmente 11 processos de pesquisa abertos na Ag�ncia Nacional de Minera��o que incidem diretamente sobre os TIs Arara da Volta Grande do Xingu e Trincheira Bacaj�", segundo a publica��o.
A mineradora tinha planos de iniciar a explora��o de ouro no Par� em 2015, mas at� o hoje o projeto n�o saiu do papel devido a decis�es judiciais que atenderam pedidos do Minist�rio P�blico contra o empreendimento. O caso segue em tramita��o na Justi�a.

Respostas das mineradoras �s acusa��es:
Ao ser procurada, a Vale disse que o relat�rio tem "informa��es equivocadas" e lamentou n�o ter sido ouvida pela Apib e a Amazon Watch antes da publica��o "uma vez que est� sempre aberta ao di�logo e reconhece o importante papel das entidades de defesa dos direitos ind�genas".
Sobre a acusa��o de contamina��o do rio Catet�, a Vale afirmou "que o empreendimento On�a Puma, localizado a mais de 20 km de dist�ncia da Terra Ind�gena (TI) Kayap�, e fora dos limites da TI Xikrin, est� licenciado pelos �rg�os competentes e que retomou suas atividades regulares a partir da autoriza��o do Ministro Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), em setembro de 2019, ratificada pelo Pleno do Tribunal".
"A decis�o foi baseada em sete laudos elaborados por peritos judiciais especializados em diversas �reas cient�ficas, com destaque para os de limnologia, geologia e metalurgia, os quais demonstraram cabalmente a inexist�ncia de rela��o entre as atividades da empresa e a suposta contamina��o do Rio Catet�", acrescentou.
A empresa informou ainda que tem cumprido ordem judicial do TRF-1 relacionada ao empreendimento On�a Puma e que, "at� o momento, j� depositou aproximadamente R$ 130 milh�es" referentes ao Termo de Ajuste de Conduta (firmado com as associa��es ind�genas e o Minist�rio P�blico Federal para a mitiga��o de danos causados � comunidade pela atua��o da empresa).
Quanto aos requerimentos para explorar dentro de comunidades na Amaz�nia, a Vale respondeu "que n�o realiza atividades de pesquisa mineral ou lavra de qualquer natureza em terras ind�genas no Brasil e respeita rigorosamente a legisla��o vigente".
A empresa tamb�m refor�ou "que respeita o princ�pio do consentimento livre, pr�vio e informado junto �s comunidades ind�genas", conforme estabelece o Artigo 169 da conven��o da Organiza��o Internacional do Trabalho que prev� a consulta aos povos sempre que forem impactados por empreendimentos. A Vale disse ainda "que em seu plano de produ��o atual n�o est�o sendo considerados recursos minerais ou reservas minerais em terras ind�genas no Brasil".
Quanto � Estrada de Ferro Caraj�s (EFC), a Vale afirma que desde sua constru��o, no in�cio da d�cada de 80, "realiza atividades de apoio aos povos ind�genas, incluindo a��es nas �reas de sa�de, educa��o, atividades produtivas, entre outras". Como exemplo, a empresa disse que h� um "Termo de Compromisso em vigor que estabelece o valor de R$ 14 milh�es anuais repassados mensalmente para as associa��es ind�genas do Povo Gavi�o, que s�o respons�veis pela execu��o do recurso no seu etnodesenvolvimento".
"Todas as atividades da ferrovia s�o realizadas em conformidade � legisla��o vigente, respeitando os direitos dessas popula��es. Cabe esclarecer que a EFC n�o tem influ�ncia nas Terras Ind�genas Ararib�ia e Xikrin do Catet�", acrescentou.
Procurada pela BBC News Brasil, a Anglo American disse que "n�o possui atualmente planos de exercer atividades miner�rias em terras de povos ind�genas no Brasil".
A empresa afirma que "desistiu de todos os requerimentos de pesquisa mineral localizados dentro das terras ind�genas, mas diversos desses pedidos ainda constam do cadastro da Ag�ncia Nacional de Minera��o (ANM)".
A mineradora informou tamb�m que "alguns requerimentos de pesquisa vigentes podem margear terras ind�genas, apresentando blocos com pequenas interfer�ncias nesses territ�rios. Em casos assim, � papel da AMN demarcar esses blocos fora dos territ�rios ind�genas".
A Anglo American acrescentou ainda que "se compromete a s� explorar terras ind�genas com Consentimento Livre Pr�vio e Informado (FPIC) dessas comunidades. Al�m disso, a empresa se compromete com um impacto positivo l�quido sobre a biodiversidade em todos as regi�es onde atua".
J� Belo Sun disse que "� infundada a ideia de que a empresa pretende explorar min�rio em terras ind�genas, pois os t�tulos minerais est�o fora das terras ind�genas, a mais de 10 km da TI Paqui�amba e a mais de 14 Km da TI Arara da Volta Grande"
A empresa afirma ter um relacionamento "respeitoso e colaborativo" com esses povos e disse que "o licenciamento do Projeto Volta Grande segue todos os ritos pertinentes".
"O projeto continua com a Licen�a de Instala��o (LI) suspensa pelo TRF-1 e a Belo Sun concluiu e submeteu com sucesso o Estudo de Componente Ind�gena (ECI) � FUNAI (Funda��o Nacional do �ndio), no final de fevereiro deste ano, seguindo os protocolos estabelecidos pela entidade, incluindo a coleta de dados prim�rios e a consulta �s comunidades ind�genas em conson�ncia com as diretrizes da Conven��o 169 da OIT", informou ainda a mineradora.

Agroneg�cio
O relat�rio aponta Cargill, JBS e Cosan/Ra�zen como empresas de agroneg�cio que receberam investimentos de grandes corpora��es financeiras americanas.
Citando dados da organiza��o europeia Trase, que rastreia o impacto ambiental de cadeias de produ��o agr�cola, o relat�rio acusa a produtora e processadora de alimentos americana Cargill de continuar como "um dos traders de soja mais expostos a risco de envolvimento em desmatamento", apesar de a companhia "ser signat�ria da Morat�ria da Soja na Amaz�nia e afirmar que cerca de 95% da sua safra 2018-19 � livre de desmatamento e convers�o".
Ainda segundo o levantamento, a Cargill foi em 2018 "a segunda trader de soja que mais exportou o gr�o produzido nos 15 munic�pios com maior �rea de soja em fazendas associadas com desmatamento ilegal no Mato Grosso.
O relat�rio diz ainda que a atua��o da Cargill na regi�o do Tapaj�s (Par�), o que inclui a constru��o de um complexo de portos para escoar produ��o, � apontada como "um fator decisivo para o crescimento da produ��o de soja que tem acirrado disputas locais e aumentado a press�o sobre as Terras Ind�genas".
Segundo a publica��o, a produ��o de soja com uso de agrot�xicos no Par� por fazendas que seriam fornecedoras da Cargill tem impactado o povo ind�gena Munduruku, que ainda n�o tem seu territ�rio demarcado, devido a amea�as por parte de fazendeiros e por causa de contamina��o e assoreamento de rios e igarap�s.
No caso da JBS, maior processadora de carne do mundo, o relat�rio acusa o grupo de continuar comprando gado de produtores que invadem terras ind�genas, mesmo j� tendo se comprometido no passado a eliminar essa pr�tica.
A publica��o cita um relat�rio da Anistia Internacional de julho que indicou que a cadeia de fornecimento da JBS adquiriu gado de fazendas sobrepostas � Terra Ind�gena Uru-Eu-Wau-Wau, na Amaz�nia. Al�m disso, destaca uma reportagem de agosto da Ag�ncia P�blica denunciando o mesmo problema com uma fazenda que cria gado ilegalmente dentro da Terra Ind�gena Kayabi, no Mato Grosso.
J� a Cosan � citada no relat�rio devido a uma a��o civil p�blica movida pelo Minist�rio P�blico Federal em 2017 com um pedido de indeniza��o de R$ 129,83 milh�es ao povo Xavante da TI Mar�iwats�d� pelas viola��es de direitos humanos sofridas com a constru��o sobre as Terras Ind�genas do projeto agr�cola Sui�- Missu. S�o r�us na a��o a Funai, o estado do Mato Grosso e nove herdeiros da fam�lia Ometto, s�cios da Cosan.
"Na d�cada de 1960, a fam�lia Ometto, dona da Cosan na �poca, recebeu autoriza��o do governo federal para criar a Agropecu�ria Suia-Miss� S/A. O empreendimento na regi�o compreendia entre 800 mil e 1,7 milh�o de hectares, e � considerado o maior latif�ndio do Brasil. Sua implementa��o envolveu a remo��o for�ada da comunidade Xavante da Terra Ind�gena Mar�iwats�d�, que foi submetida a um regime de trabalho an�logo � escravid�o, ao serem utilizados como m�o de obra na fazenda. Apenas nos anos 2000, os Xavante tiveram parte de sua �rea demarcada e homologada", acusa o relat�rio.
Embora o grupo Cosan n�o possua mais terras na �rea da TI Mar�iwats�d�, a publica��o diz ainda que "as ramifica��es do caso s�o sentidas at� hoje", com a continuidade de invas�es de produtores rurais. "A TI Mar�iwats�d� � a Terra Ind�gena mais desmatada da Amaz�nia Legal, com perda de 75,5% de sua cobertura vegetal original", destaca o documento.

Respostas do agroneg�cio �s acusa��es
Procurada pela reportagem, a Cargill disse que "sempre busca atuar com base em princ�pios �ticos e em conformidade com a legisla��o das localidades onde atua, a fim de fortalecer os sistemas alimentar e agr�cola".
A empresa lista como compromissos essenciais: demonstrar integridade, �tica e transpar�ncia; operar cadeias de abastecimento sustent�veis; proteger os direitos humanos; promover a inclus�o e a diversidade; e garantir a seguran�a das pessoas, animais e do sistema alimentar.
A empresa disse ainda que apoia "o consentimento pr�vio, livre e informado" dos povos ind�genas quanto a atividades que impactem seus territ�rios, como elemento fundamental para proteger seus direitos.
A Cargill destacou tamb�m seu papel como um dos principais apoiadores da "Morat�ria da Soja na Amaz�nia", pacto volunt�rio entre produtores e ONGs ambientais contra o desmatamento firmado em 2006.
"Com a assinatura do documento, a ind�stria se comprometeu a n�o comprar soja de terras desmatadas ap�s 2008. Esse esfor�o j� contribuiu para a queda de 80% do desmatamento na Amaz�nia na �ltima d�cada e, em 2016, foi prorrogado indefinidamente", ressalta a Cargill.
"Tamb�m temos o compromisso p�blico de eliminar o desmatamento em nossas cadeias produtivas at� 2030. Para atingir essas metas, temos planos de a��o focados nas cadeias priorit�rias, incluindo a soja na Am�rica do Sul", destacou tamb�m.
Em resposta �s acusa��es, a JBS ressaltou "que tem o prop�sito de produzir de uma maneira cada dia mais sustent�vel e trabalha h� mais de uma d�cada na linha de frente para promover mudan�as significativas e respons�veis na regi�o amaz�nica".
Segundo a empresa, "o sistema de monitoramento da JBS garante que 100% de seus fornecedores diretos est�o em conformidade com r�gidos crit�rios socioambientais da Pol�tica de Compra Respons�vel, que rege o relacionamento da companhia com seus fornecedores".
A companhia disse ainda que "apresentou em setembro a Plataforma Verde JBS, que permitir� estender o monitoramento que j� faz de seus fornecedores aos demais elos da cadeia e a cria��o do Fundo JBS pela Amaz�nia, dedicado a financiar a��es e projetos para ampliar a conserva��o da floresta e o desenvolvimento sustent�vel das comunidades que nela vivem, com aporte inicial de R$ 250 milh�es nos primeiros cinco anos e meta de chegar ao total de R$ 1 bilh�o at� 2030".
A empresa lembrou ainda seu programa Boi na Linha, desenvolvido em parceria com o Minist�rio P�blico Federal e a ONG brasileira Imaflora, para "desenvolver estrat�gias setoriais que podem ser aplicadas a toda a ind�stria de carne bovina".
A Cosan, por sua vez, disse que "nunca teve titularidade das terras mencionadas no documento nem qualquer atua��o nesses eventos", ao responder sobre as acusa��es relacionadas ao impacto do projeto agr�cola Sui�-Missu sobre o povo Xavante.
"Os fatos de que tratam o relat�rio s�o de mais de 50 anos atr�s e j� foram resolvidos com a demarca��o (da Terra Ind�gena). As outras empresas do grupo, citadas inadvertidamente no documento, tamb�m n�o possuem nenhuma rela��o com os epis�dios. Em rela��o ao sr. Rubens Ometto Silveira Melo, ele nunca teve qualquer participa��o na empresa que adquiriu as terras", disse ainda o comunicado da Cosan.

Empresas de energia
A Eletronorte, subsidi�ria da Eletrobras, foi inclu�da no relat�rio devido � tentativa da empresa "de viabilizar a constru��o de uma linha de transmiss�o entre os estados de Roraima e do Amazonas que passar� diretamente sobre as terras do Povo Ind�gena Waimiri-Atroari", grupo traumatizado pelo massacre sofrido nas d�cadas de 1970 e 1980, com a constru��o da estrada BR-174 durante a ditadura militar.
Esse povo, por sua vez, exige o cumprimento da Conven��o 169 da Organiza��o Internacional do Trabalho (OIT) que prev� �s comunidades atingidas por empreendimentos o direito a serem previamente consultados de forma livre e informada.
Segundo a publica��o, os Waimiri-Atroari est�o preocupados com o Projeto de Lei Complementar 275/2019 em tramita��o no Congresso, que visa desburocratizar esse tipo de empreendimento em terras ind�genas. O povo teme esse projeto repita o impacto de outras grande obra j� feitas na Amaz�nia como imigra��o descontrolada, dissemina��o de doen�as, aumento da viol�ncia, conflitos e invas�es de terras.
J� a Energisa Mato Grosso foi citada no relat�rio devido a a��o civil p�blica movida pelo Minist�rio P�blico Federal contra a empresa por sua atua��o dentro da Terra Ind�gena Urubu Branco, do povo Tapirap�. Na avalia��o do MP, a empresa contribuiu para o processo de grilagem e desmatamento do territ�rio ao promover a eletrifica��o para posseiros ilegais que est�o na �rea ind�gena. Por outro lado, a empresa teria se negado a fornecer energia para os ind�genas, ainda segundo a a��o.
A Equatorial Energia Maranh�o, por sua vez, � acusada no relat�rio de ter um "hist�rico de conflitos com ind�genas no estado do Maranh�o, em disputas sobre instala��o de linhas de energia".
Segundo a publica��o, o Minist�rio P�blico Federal denunciou em 2018 a Equatorial (antiga Cemar) "por firmar um acordo nulo e insuficiente com o Povo Ind�gena Krikati e a Funai por permitir a passagem de duas linhas de transmiss�o sobre a TI Krikati".
Al�m disso, o relat�rio diz que a empresa tenta "acelerar o processo de instala��o da linha de transmiss�o Miranda do Norte-Tr�s Marias, cujos impactos afetam os ind�genas Akro�-Gamella - uma etnia que busca h� quatro d�cadas a demarca��o de suas terras no Maranh�o".
Respostas das empresas de energia �s acusa��es:
A BBC News Brasil entrou em contato na segunda-feira por email com a Eletronorte e o grupo Equatorial Energia, mas n�o obteve retorno at� a publica��o da reportagem
A Energisa Mato Grosso disse que s�o "inver�dicas as acusa��es" de que contribuiu com grileiros da Terra Ind�gena Urubu Branco, em preju�zo do povo Tapirap�. A empresa afirma que "as 164 liga��es de energia feitas na Terra Ind�gena" foram realizadas no �mbito do programa Luz para Todos, do governo federal. Desse total, segunda a companhia, 124 s�o ind�genas ou unidades consumidoras que atendem os ind�genas, como escolas e postos de sa�de p�blicos, n�o sendo verdade que houve recusa em atender a esse grupo.
"Todas essas informa��es foram prestadas � Justi�a Federal, em abril de 2020, pela Energisa Mato Grosso, com documentos que respaldam a posi��o da empresa. A Energisa Mato Grosso lamenta que s� tenha sido procurada pela APIB na noite do �ltimo dia 22 de outubro, mesmo a entidade admitindo que a coleta das informa��es que embasam o relat�rio foi feita em junho de 2020", criticou a companhia.
"A Energisa Mato Grosso reafirma que atua com absoluto respeito � legisla��o para prover energia el�trica com seguran�a, conforto e qualidade a 1,5 milh�o de clientes. A empresa cumpre o papel primordial de levar energia a grande parte da Amaz�nia Legal, com respeito aos pactos e acordos internacionais de prote��o aos povos ind�genas e ao meio ambiente", finalizou a empresa.

As acusa��es e as respostas dos investidores
BlackRock:
Maior gestora de ativos do mundo, a BlackRock investiu US$ 8,2 bilh�es no total nas empresas Anglo American, Belo Sun, Cargill, Cosan, Eletrobras, Energisa, Equatorial, Vale e JBS, desde 2017, segundo o relat�rio.
A publica��o destaca que "muitos dos ativos que a BlackRock administra internacionalmente s�o mantidos em fundos indexados (que rastreiam �ndices de mercado), e s�o oferecidos a investidores em todo o mundo" e que, "no Brasil, a maioria desses investimentos acontece via '�ndices representativos', que s�o selos de qualidade da B3, a Bolsa de Valores brasileira, e funcionam como um guia para o investidor, indicando ativos mais promissores em cada segmento".
Procurada, a BlackRock informou que trata dos riscos sociais, ambientais e de governan�a com as empresas nas quais investe e se posiciona em vota��es de acionistas contra as administra��es quando o di�logo n�o � suficiente.
"O desmatamento e os direitos ind�genas s�o quest�es cr�ticas, que tamb�m trazem riscos para o retorno do investimento. N�s nos envolvemos com empresas sobre estes e outros riscos sociais, ambientais e de governan�a. E, onde eles n�o est�o sendo adequadamente gerenciados ou o progresso n�o � suficiente, n�s votamos contra a administra��o", disse um porta-voz da empresa.
No caso da JBS, por exemplo, a BlackRock votou em abril contra a elei��o de tr�s membros do Conselho Fiscal porque "o nomeado n�o demonstrou capacidade de representar efetivamente os melhores interesses dos acionistas", segundo registro p�blico da vota��o. N�o est� claro, por�m, se isso teve rela��o com quest�es socioambientais.
A empresa BlackRock � acionista minorit�ria na maioria das empresas citadas no relat�rio, n�o tendo peso sobre decis�es estrat�gicas. Seus clientes podem optar por investir, por exemplo, em �ndices de a��es e fundos de a��es que incluem pap�is dessas empresas.
No caso da Cargill, os investimentos dos clientes da BlackRock podem ser feitos em t�tulos de d�vida, que n�o d�o direito de voto como no caso dos acionistas.
J.P. Morgan Chase:
O banco J.P. Morgan investiu no total US$ 2,4 bilh�es desde 2017 nas empresas Anglo American, Cargill, Cosan, Energisa, Vale, JBS, Equatorial e Eletrobr�s, de acordo com o relat�rio.
Procurado, o banco n�o fez coment�rios espec�ficos sobre o relat�rio ou as empresas que financia, e destacou suas iniciativas no campo da sustentabilidade.
No caso de transa��es que podem impactar potencialmente povos ind�genas, um documento do banco para quest�es sociais e ambientais diz esperar que seus clientes demonstrem alinhamento a padr�es de conduta estabelecidos pelo Banco Mundial, prevendo que haja "consentimento pr�vio, livre e informado" dos povos atingidos pelos empreendimentos.
O banco tamb�m diz aderir �s melhores pr�ticas para quest�es sociais e ambientais, como os Princ�pios para Investimento Respons�vel da ONU.
A regras internas do J.P Morgan Chase tamb�m pro�bem empr�stimos ou outros servi�os do banco a algumas atividades, como "empresas que conspiram ou est�o conscientemente envolvidas na extra��o ilegal de madeira" e " que utilizem intencionalmente o inc�ndio descontrolado como meio de desmatamento".
Citigroup:
Segundo a publica��o da Apib e Amazon Watch, o Citigroup investiu quase US$ 2,2 bilh�es de d�lares entre 2017 e 2020 na Anglo American, Cargill, Cosan, Eletrobras, Energisa, JBS e Vale. O banco n�o quis comentar o relat�rio.
Em suas diretrizes para quest�es ambientais e sociais, o Citigroup "reconhece que proteger e conservar �reas de habitat cr�tico, biodiversidade significativa e/ou alto valor de conserva��o, incluindo �reas legalmente protegidas, � fundamental para uma gest�o de risco ambiental e social de alta qualidade".
"Somos guiados por padr�es que exigem que os clientes evitem ou mitiguem amea�as � biodiversidade decorrentes das opera��es dos clientes e gerenciem de forma sustent�vel os recursos naturais", diz ainda o documento.
No caso de a��es que impactem florestas, as regras do banco requerem "avalia��es robustas de risco ambiental e social para todos os clientes florestais anualmente e se aplica a todos os clientes que est�o diretamente envolvidos na extra��o de madeira ou processamento prim�rio de madeira de florestas naturais ou planta��es, independentemente da rela��o banc�ria, tipo ou montante da transa��o".
Bank of America:
O Bank of America tamb�m n�o quis comentar o relat�rio. Segundo a publica��o, o banco contribuiu com US$ 1,45 bilh�o entre 2017 e 2020 para Anglo American, Cargill, Cosan, Eletrobras, Energisa, Vale e JBS.
Em sua p�gina sobre compromisso com sustentabilidade ambiental, o Bank of America diz que "mobilizou mais de US$ 158 bilh�es em financiamento para atividades de neg�cios sustent�veis e de baixo carbono em todo o mundo", dentro da sua Iniciativa de Neg�cios Ambientais.
O banco diz ainda que investe no desenvolvimento de solu��es para as mudan�as clim�ticas e outros desafios ambientais, como "energia de baixo carbono, efici�ncia energ�tica e transporte sustent�vel, al�m de abordar outras �reas importantes como conserva��o de �gua, uso da terra e res�duos".
Dimensional Fund Advisors
A Dimensional Fund Advisors investiu pouco mais de US$ 1 bilh�o na Anglo American, Cosan, Energisa, Equatorial, Eletrobr�s, Vale, Cargill e JBS, de 2017 a 2020, segundo o relat�rio.
A empresa informou a reportagem que gerencia fundos m�tuos e outras carteiras em nome de clientes, administrando "mais de US$ 500 bilh�es em ativos com mais de 15.000 a��es listadas publicamente, representando amplos mercados de a��es em muitas carteiras".
Sobre as acusa��es, a Dimensional respondeu que "projetou processos inovadores para integrar considera��es ambientais, sociais e de governan�a em solu��es de investimento sistem�ticas amplamente diversificadas e de valor agregado".
A empresa tamb�m disse que lan�ou seus primeiros "fundos sustentabilidade" h� mais de uma d�cada, oferecendo hoje aos clientes "portf�lios de (investimentos em ativos com) sustentabilidade com foco em a��es dos Estados Unidos, internacionais e de mercados emergentes, bem como t�tulos globais".
Vanguard:
Segunda maior gestora de ativos do mundo, a Vanguard investiu US$ 2,7 bilh�es de 2017 a 2020 nas empresas Anglo American, Cosan, Cargill, Eletrobras, Energisa, Equatorial, Vale e JBS, de acordo com o relat�rio.
Procurada pela reportagem, a Vanguard destacou ter mais de 30 milh�es de investidores em todo o mundo e manifestou estar "profundamente preocupada com os impactos de longo prazo das mudan�as clim�ticas e transgress�es dos direitos humanos".
"Compreendemos a import�ncia de abordar essas quest�es complexas, ao mesmo tempo em que permanecemos comprometidos em fornecer valor de longo prazo aos detentores de fundos", disse tamb�m a gestora de ativos.
A Vanguard ressaltou ainda que danos aos ind�genas tamb�m s�o arriscados para seus clientes. "Se as pr�ticas de neg�cios ou produtos de uma empresa causam danos �s comunidades ind�genas ou colocam em risco a sa�de, a seguran�a ou a dignidade das pessoas, eles tamb�m apresentam riscos financeiros de longo prazo. Por meio de nossos compromissos, buscamos a garantia de que os conselhos (das empresas) fiscalizem e assumam esses riscos e tomem as medidas adequadas para mitig�-los e divulg�-los ao mercado", acrescentou a Vanguard.
*Colaborou Andr� Shalders, da BBC News Brasil em Bras�lia
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