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Estado de Minas

Gasolina j� subiu 13% nas refinarias em 2021 e deve ficar ainda mais cara

Pre�o praticado pela Petrobras segue abaixo do mercado internacional, indicando estrat�gia de controle da infla��o como no governo Dilma, dizem importadores. Empresa afirma evitar que volatilidade internacional e c�mbio afetem o mercado interno.


03/02/2021 08:34 - atualizado 03/02/2021 11:49


Preço praticado pela Petrobras segue abaixo do mercado internacional, dizem analistas(foto: Getty Images)
Pre�o praticado pela Petrobras segue abaixo do mercado internacional, dizem analistas (foto: Getty Images)

Ainda � fevereiro, mas a Petrobras j� anunciou dois aumentos para a gasolina e um para o diesel em 2021. Com um reajuste de 7,6% anunciado em 8 de janeiro e outro de 5% no dia 26 do mesmo m�s, a gasolina j� acumula cerca de 13% de alta nas refinarias neste ano. J� o diesel, piv� do descontentamento dos caminhoneiros que levou a paralisa��es isoladas nos �ltimos dias pelo pa�s, foi reajustado em 4,4%.

E os analistas s�o un�nimes: deve vir mais alta de pre�os dos combust�veis por a�, j� que os valores praticados pela Petrobras no mercado interno seguem abaixo do mercado internacional, que serve de refer�ncia para os reajustes da estatal.

O aumento esperado dos pre�os reflete a expectativa de valoriza��o do barril do petr�leo, diante da previs�o de manuten��o da oferta restrita pela Opep (Organiza��o de Pa�ses Exportadores de Petr�leo) e R�ssia; aliada ao crescimento projetado da economia mundial, com o avan�o da vacina��o contra a covid-19; e � incerteza com rela��o ao c�mbio, diante do desequil�brio das contas p�blicas nacionais.

Gasolina, diesel e o bolso do consumidor

Para o consumidor final, a expectativa dos analistas � de uma alta entre 8% e 10% do pre�o da gasolina neste ano e um pouco menos do que isso para o diesel, devido � sensibilidade pol�tica do reajuste desse combust�vel desde a greve nacional dos caminhoneiros de 2018.

A gasolina pesa no bolso do consumidor de classe m�dia que tem carro e dos trabalhadores que dependem de ve�culos automotores para seu sustento, como motoristas de aplicativos e entregadores.

J� o diesel tem peso direto menor no IPCA (�ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo), �ndice oficial de infla��o do pa�s, mas um impacto indireto muito maior, pesando no frete de todos os produtos transportados por rodovias e em alguns custos industriais.

Assim, embora a estimativa dos analistas seja de uma infla��o em 2021 abaixo da meta (de 3,53%, segundo o boletim Focus do Banco Central mais recente, contra meta de 3,75% para 2021), a alta do pre�o dos combust�veis, somada � carestia dos alimentos e � expectativa de um IPCA acumulado em 12 meses que pode superar os 6% em maio devem contribuir para o mal-estar da popula��o com rela��o � din�mica de pre�os esse ano.

"A sensa��o t�rmica � muito ruim. N�o d� para dizer outra coisa, porque alimenta��o pesa bastante e combust�veis tamb�m", diz F�bio Rom�o, analista de infla��o na LCA Consultores.

A tal paridade internacional

A Petrobras adotou em 2016 o chamado PPI (Pre�o de Paridade Internacional), uma resposta � pol�tica de controle de pre�os dos combust�veis que vigorou durante o governo Dilma Rousseff (PT), que deteriorou a contabilidade da empresa, como parte de uma estrat�gia para controlar a infla��o.

Quando foi estabelecida a nova pol�tica de pre�os, eles chegaram a variar quase que diariamente, seguindo a flutua��o do mercado internacional. Em setembro de 2018, �s v�speras da elei��o daquele ano, esses reajustes passaram a ser quinzenais. E, em meados de 2019, deixaram de ter prazo fixo, passando a depender da avalia��o da companhia sobre as condi��es de mercado e o ambiente externo.

A f�rmula usada pela Petrobras para calcular a rela��o entre os pre�os praticados pela empresa no Brasil e o mercado internacional n�o � conhecida. Por conta disso, cada consultoria chega a um resultado diferente, com base em par�metros como o pre�o da gasolina no Golfo do M�xico, nos Estados Unidos, cota��es em Bolsa e outros.

A Ativa Investimentos, por exemplo, calcula que a gasolina pode ter ainda um reajuste potencial de 9%.

J� o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) estima que a defasagem est� em R$ 0,28 para o diesel e R$ 0,30 para a gasolina, equivalentes a cerca de 12% e 13% de diferen�a, respectivamente.

A consultoria StoneX, por sua vez, calcula que o diesel pode ser reajustado ainda em at� R$ 0,22 e a gasolina, em R$ 0,11.

Independentemente do valor exato, o que chama a aten��o � a avalia��o consensual entre os analistas de que os pre�os internos est�o defasados e, por isso, o caminho esperado � de mais reajustes de valores para cima.

Petr�leo e c�mbio ditam a tend�ncia


Sob ameaça de greve dos caminhoneiros, Jair Bolsonaro acenou com a possibilidade de zerar impostos(foto: Getty Images)
Sob amea�a de greve dos caminhoneiros, Jair Bolsonaro acenou com a possibilidade de zerar impostos (foto: Getty Images)

"A gasolina, como um derivado do petr�leo, tem alta correla��o com o pre�o do barril de �leo", explica �tore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. "Recentemente, assistimos ao pre�o do petr�leo subir, depois da reuni�o da Opep e das perspectivas de crescimento global, que ganharam �mpeto".

O petr�leo de tipo Brent, refer�ncia da Europa, � negociado em torno de US$ 56 por barril, enquanto o WTI, dos EUA, est� em US$ 53 por barril, comparado a valores pr�ximos a US$ 51 e US$ 49, respectivamente, ao final de 2020.

"Houve um avan�o do pre�o internacional da commodity, um primeiro aspecto que justifica a Petrobras reajustar seus pre�os dom�sticos para cima", diz Sanchez.

"Al�m disso, temos um c�mbio brasileiro que n�o cede, com o d�lar pr�ximo a R$ 5,40, um avan�o significativo em rela��o ao come�o do ano, quando estava ao redor de R$ 5,20. Isso tamb�m contribui para que a defasagem de pre�os avance."

Adriano Pires, diretor do CBIE, tem avalia��o semelhante. "O pre�o do barril de petr�leo subiu muito nos �ltimos meses. Apesar de em abril e maio [de 2020] ele ter chegado abaixo de US$ 20, a partir de junho o barril voltou a subir, com a abertura das economias no hemisf�rio Norte e a restri��o de produ��o provocada pela Opep+, que � a Opep mais a R�ssia", diz Pires.

"Para se ter uma ideia, de julho at� dezembro de 2020, o barril subiu quase 40%. No caso brasileiro, al�m da press�o do pre�o do barril, tamb�m teve a press�o do c�mbio", destaca o diretor do CBIE.

"Isso fez com que a Petrobras, apesar de ter continuado a seguir a tend�ncia de pre�o internacional, n�o conseguisse acompanhar em termos absolutos. Ent�o a defasagem existe, apesar de ela ter feito aumentos nos pre�os da gasolina, do diesel e do botij�o de g�s nos �ltimos meses."

Importadores reclamam da disparidade


A Petrobras diz que 'reitera compromisso com preços competitivos em equilíbrio com os mercados internacionais'(foto: Getty Images)
A Petrobras diz que 'reitera compromisso com pre�os competitivos em equil�brio com os mercados internacionais' (foto: Getty Images)

Apesar de nenhum consumidor ter pressa para que essa defasagem seja corrigida, existe um grupo de empres�rios que est� ansioso para que isso aconte�a: os importadores de combust�veis.

A Associa��o Brasileira dos Importadores de Combust�veis (Abicom) tem feito, pelo menos desde novembro, cr�ticas � disparidade de pre�os, que inibe a atividade importadora.

"Caso n�o haja ader�ncia dos custos no mercado dom�stico, o Brasil estar� sinalizando que ser� mantida a retra��o dos pre�os para conten��o da infla��o, e essa artificialidade � um desest�mulo para os investidores que pretendem desenvolver neg�cios em nosso pa�s", escreveu a entidade em nota publicada em 25 de janeiro.

"A paridade � o pre�o que justifica algum agente privado trazer combust�vel para o Brasil, porque, se n�o, voc� vai comprar mais caro e vender mais barato", explica Thadeu Silva, consultor de petr�leo e g�s da StoneX.

"Olhando as licen�as de importa��o de dezembro, que s�o os dados oficiais mais recentes disponibilizados pela ANP [Ag�ncia Nacional do Petr�leo, G�s Natural e Biocombust�veis], vemos que v�rios agentes privados j� pararam de importar. Ainda n�o temos dados de janeiro, mas o m�s deve trazer mais gente parando de trazer produto."

Procurada, a Petrobras informou que "reitera compromisso com a pr�tica de pre�os competitivos e em equil�brio com os mercados internacionais".

"Os reajustes seguem sendo realizados sem periodicidade definida, de forma que a volatilidade das cota��es internacionais e da taxa de c�mbio podem n�o ser repassadas imediatamente para o mercado interno", disse a empresa.

Com rela��o � cr�tica dos importadores, a Petrobras afirmou que os custos efetivos de importa��o variam de agente para agente.

"Por esse motivo, a cr�tica dos importadores deve ser vista com cautela, ao pretender um aumento de pre�os que 'proteja' a atua��o de agentes menos eficientes, cujo efeito pr�tico se traduziria em maiores pre�os ao consumidor."

Infla��o ao consumidor

O percentual de reajuste da gasolina e do diesel nas refinarias n�o chega integralmente ao consumidor. Isso porque o pre�o ao consumidor � formado pelo valor nas refinarias, pelos impostos federais Cide e Pis/Cofins, o estadual ICMS e pelas margens de lucro da distribuidora e da revenda.

Assim, um mesmo reajuste de R$ 0,10, por exemplo, representa um percentual maior de varia��o no pre�o da refinaria, que � mais baixo, do que no pre�o na bomba, que � mais alto devido a todos esses itens adicionais.

A consultoria Triad Research, que coleta dados em postos de revenda de combust�veis, estima que a gasolina comum fechou janeiro a um pre�o m�dio de R$ 4,870 por litro para os consumidores, comparado a R$ 4,714 ao fim de dezembro, um aumento de 3,3%.

J� o diesel S10 estava em R$ 3,905 em 31 de janeiro, ante R$ 3,838 no �ltimo dia de 2020, alta de 1,7%.

Gasolina vs. Diesel


A alta dos combustíveis não afeta os consumidores apenas no custo para abastecer seus veículos(foto: Getty Images)
A alta dos combust�veis n�o afeta os consumidores apenas no custo para abastecer seus ve�culos (foto: Getty Images)

Para F�bio Rom�o, da LCA Consultores, a alta de pre�os menor para o diesel do que para a gasolina deve ser uma tend�ncia no ano.

O analista lembra que, em 2020, a gasolina teve queda de pre�o de 0,19% no IPCA e o diesel caiu 3,30%, enquanto a infla��o em geral subiu 4,52%.

Olhando para os reajustes realizados pela Petrobras no ano passado, considerando apenas as altas de pre�os, foram 19 aumentos da gasolina, com varia��o m�dia de 5,79%, comparadas a 14 altas do diesel, a uma taxa m�dia de 5,21%.

"� dif�cil afirmar categoricamente, mas existe a possiblidade de essa diferen�a ter acontecido � luz da greve dos caminhoneiros de 2018, que tornou o pre�o do diesel politicamente mais sens�vel", avalia Rom�o.

Para 2021, a proje��o da LCA � de uma alta de 9,5% da gasolina e de 7,4% do diesel, contra uma infla��o em geral de 3,52%.

"O aumento do diesel deve ser novamente menor do que o da gasolina", prev� Rom�o. "Estamos no come�o de 2021, mas essa l�gica j� voltou a acontecer, com dois aumentos da gasolina e s� um do diesel. Al�m disso, pode ter algum al�vio no diesel pelo lado da tributa��o, como j� aventado pelo governo, o que teria como efeito l�quido uma queda de pre�o no curto prazo."

Na quarta-feira passada (27/01), sob amea�a de greve dos caminhoneiros, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) acenou com a possibilidade de zerar a PIS/Cofins sobre o diesel, desde que os governos estaduais reduzissem as al�quotas de ICMS.

A perda de arrecada��o, no entanto, � um entrave para levar � frente a redu��o, e o governo estaria estudando medidas compensat�rias, como retirar benef�cios de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros de valor mais alto e acabar com ren�ncias tribut�rias para o setor petroqu�mico.

Por que a alta dos combust�veis � um problema de todos, e n�o s� de quem dirige?

"A infla��o dos menos favorecidos � pautada em parte pelo pre�o dos transportes p�blicos. O principal meio de transporte no Brasil � o �nibus urbano e 30% do custo da passagem � derivado do pre�o do diesel. Ent�o, se ele sobe, acaba influenciando no custo da passagem de �nibus, que � um item de peso para as fam�lias de baixa renda", diz Andr� Braz, coordenador do �ndice de Pre�os ao Consumidor da FGV (Funda��o Getulio Vargas).

A alta do diesel tamb�m onera o frete. "Fica mais caro transportar mercadorias para os grandes centros urbanos. Ent�o, uma parte desse aumento do frete � transferido para o pre�o final de tudo que consumimos nas cidades", afirma o economista.

Ele lembra ainda que o diesel e outros �leos combust�veis e lubrificantes t�m aplica��es industriais. "Isso tamb�m acaba aumentando o custo de produ��o do pa�s, o que pode favorecer aumento de pre�os de uma gama muito variada de produtos, tanto para as fam�lias, quanto para a pr�pria ind�stria."

J� a alta da gasolina afeta mais a parcela mais rica da popula��o, avalia Braz.

"Quem tem carro, normalmente pertence � classe m�dia mais alta", afirma. "Mas a gasolina afeta mais o IPCA. E isso � grave, porque o �ndice � base para uma s�rie de contratos, que podem ser indiretamente afetados pelo aumento do combust�vel."

Rom�o, da LCA, estima que, sem a alta prevista para a gasolina esse ano, o IPCA teria aumento de 3,05%, comparado aos 3,52% esperados pelo analista.

Ou seja, a gasolina sozinha pode ser respons�vel por 0,47 ponto percentual do aumento da infla��o em 2021.


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