
Apesar de estar otimista com a recupera��o da economia brasileira em 2021, o economista Alberto Ramos, diretor de pesquisa econ�mica para a Am�rica Latina do Goldman Sachs, reconhece que a maior parte do avan�o entre 3,5% e 4% do Produto Interno Bruto (PIB) ser� uma quest�o meramente estat�stica. “N�o se trata de um crescimento genu�no. O pa�s ainda est� correndo atr�s do preju�zo”, diz.
Para Ramos, a economia chegou a apresentar uma retomada em V no terceiro trimestre de 2020 e, devido a essa recupera��o mais forte, haver� um carregamento estat�stico perto de 3% no PIB deste ano. Na vis�o dele, haver� um baque neste primeiro trimestre de 2021, com queda da atividade. E, se as reformas estruturais n�o andarem, a partir de 2022, o Brasil voltar� a apresentar taxas med�ocres de crescimento. A janela de oportunidade para virar esse jogo � agora. “Mas n�o estou t�o otimista de que v�o vir muitas reformas daqui para frente”, frisa.
Ex-economista-s�nior do Fundo Monet�rio Internacional (FMI) e doutor em Economia pela Universidade de Chicago, Ramos reconhece a import�ncia da volta do aux�lio emergencial nesse momento em que o pa�s est� lidando com uma segunda onda da pandemia da covid-19, que est� “bastante intensa”. Mas recomenda que medidas de corte de gastos tamb�m sejam adotadas para abrir espa�o fiscal ao benef�cio que atender� a popula��o mais vulner�vel.
“Eu me recuso aceitar que um pa�s que gasta R$ 1,5 trilh�o por ano n�o tenha onde cortar, que todo o gasto � muito eficiente e que todo gasto � muito bem alocado. Certamente, n�o � o caso, mas �, claramente, uma batalha pol�tica e � necess�rio investir o capital pol�tico para comprar essa briga”, emenda. A seguir a entrevista concedida por Alberto Ramos.
Para Ramos, a economia chegou a apresentar uma retomada em V no terceiro trimestre de 2020 e, devido a essa recupera��o mais forte, haver� um carregamento estat�stico perto de 3% no PIB deste ano. Na vis�o dele, haver� um baque neste primeiro trimestre de 2021, com queda da atividade. E, se as reformas estruturais n�o andarem, a partir de 2022, o Brasil voltar� a apresentar taxas med�ocres de crescimento. A janela de oportunidade para virar esse jogo � agora. “Mas n�o estou t�o otimista de que v�o vir muitas reformas daqui para frente”, frisa.
“Eu me recuso aceitar que um pa�s que gasta R$ 1,5 trilh�o por ano n�o tenha onde cortar, que todo o gasto � muito eficiente e que todo gasto � muito bem alocado. Certamente, n�o � o caso, mas �, claramente, uma batalha pol�tica e � necess�rio investir o capital pol�tico para comprar essa briga”, emenda. A seguir a entrevista concedida por Alberto Ramos.
Est� praticamente definido que o governo vai retomar o aux�lio emergencial em tr�s ou quatro parcelas de R$ 250. Na sua avalia��o, a volta do aux�lio emergencial � importante? Por qu�?
� importante no contexto atual. O Brasil ainda est� lidando com uma segunda onda da covid-19 bastante intensa, mas � importante perceber que se pode fazer tudo o que quer. Faz-se o que pode. Do ponto de vista fiscal, o Brasil tem uma situa��o muito debilitada. Seria importante que esse aux�lio emergencial fosse limitado no tempo e que o crit�rio de elegibilidade fosse mais restrito do que o utilizado em 2020. H� estudos recentes que mostram que a aloca��o n�o foi muito boa. E, ainda mais importante do que o enfoque mais restrito e limitado temporalmente, seria vital que esse benef�cio viesse acompanhado de outras medidas de ajuste fiscal. O aux�lio � necess�rio no curto prazo, mas � cr�tico equacionar a parte fiscal no m�dio e no longo prazos. � importante que todas as reformas que est�o pendentes no Congresso avan�assem para que o mercado possa digerir um pouquinho mais de gasto no curto prazo. Tamb�m seria bom que se encontrasse uma maneira de reduzir as despesas do governo. Eu me recuso a aceitar que um pa�s que gasta R$ 1,5 trilh�o por ano n�o tenha onde cortar, que todo o gasto � muito eficiente e que todo gasto � muito bem alocado. Certamente, n�o � o caso, mas � claramente uma batalha pol�tica, e � necess�rio investir o capital pol�tico para comprar essa briga. � uma quest�o de efici�ncia e necessidade. Ningu�m est� questionando o m�rito de estender, temporariamente, o aux�lio emergencial, mas � preciso fazer de uma forma que seja fiscalmente respons�vel.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, condicionou o retorno do aux�lio � PEC do Or�amento de Guerra dentro do Pacto Federativo. Mas isso leva tempo. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, j� disse que n�o d� para esperar e o presidente da C�mara, Arthur Lira, afirmou que a situa��o est� cr�tica demais. Como conciliar isso?
� dif�cil conciliar. Uma coisa � o pr�prio tr�mite Legislativo, particularmente, de emendas constitucionais, pois o processo � vagaroso. O Congresso tem uma liturgia que anda bastante devagar. Enquanto isso, o aux�lio emergencial � necess�rio neste momento. Mas, seria importante que houvesse um compromisso expl�cito e firme da classe pol�tica sobre a capacidade de entregar as reformas. O que n�o d� � fazer uma promessa no vazio: vamos gastar agora e, depois, vamos ver o que � poss�vel. Ancorar essa discuss�o seria muito importante, assim como discutir a redu��o de despesas agora, dentro do Or�amento, buscar contrapartidas para abrir espa�o para financiar esse aux�lio emergencial.
O Or�amento de 2021 est� em discuss�o. Mas, no meio do caminho, tem o teto de gastos. Dar� para acomodar toda as demandas?
A beleza do teto de gastos � essa. Os recursos s�o escassos, h� uma limita��o de espa�o e in�meras prioridades. E o legislador e o Executivo, dado o Or�amento, devem indicar quais s�o as prioridades e apontar onde pode estar, mais ou menos, o espa�o para eliminar algum gasto que tenha um multiplicador social e para economia muito baixo. Isso seria o ideal.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, condicionou o retorno do aux�lio � PEC do Or�amento de Guerra dentro do Pacto Federativo. Mas isso leva tempo. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, j� disse que n�o d� para esperar e o presidente da C�mara, Arthur Lira, afirmou que a situa��o est� cr�tica demais. Como conciliar isso?
� dif�cil conciliar. Uma coisa � o pr�prio tr�mite Legislativo, particularmente, de emendas constitucionais, pois o processo � vagaroso. O Congresso tem uma liturgia que anda bastante devagar. Enquanto isso, o aux�lio emergencial � necess�rio neste momento. Mas, seria importante que houvesse um compromisso expl�cito e firme da classe pol�tica sobre a capacidade de entregar as reformas. O que n�o d� � fazer uma promessa no vazio: vamos gastar agora e, depois, vamos ver o que � poss�vel. Ancorar essa discuss�o seria muito importante, assim como discutir a redu��o de despesas agora, dentro do Or�amento, buscar contrapartidas para abrir espa�o para financiar esse aux�lio emergencial.
O Or�amento de 2021 est� em discuss�o. Mas, no meio do caminho, tem o teto de gastos. Dar� para acomodar toda as demandas?
A beleza do teto de gastos � essa. Os recursos s�o escassos, h� uma limita��o de espa�o e in�meras prioridades. E o legislador e o Executivo, dado o Or�amento, devem indicar quais s�o as prioridades e apontar onde pode estar, mais ou menos, o espa�o para eliminar algum gasto que tenha um multiplicador social e para economia muito baixo. Isso seria o ideal.
De quem � a responsabilidade de apontar onde cortar gastos, do governo ou do Congresso?
A responsabilidade � de todos. Mas todo mundo est� tentando passar a batata quente para o outro. Acho que o ajuste fiscal � uma responsabilidade compartilhada do governo e do Congresso. As autoridades devem isso � sociedade. � uma responsabilidade compartilhada. Um legisla e outro toma a iniciativa, governa e gasta. Quem maneja o Or�amento � o governo. E quem aprova o Or�amento e as prioridades � o Congresso. Agora, n�o d� para fazer bonito e dizer: vamos gastar e o governo que se acomode e encontre uma maneira de enquadrar isso nas restri��es or�ament�rias. Um fica com o b�nus e outro com o b�nus. � importante que esse sinal de responsabilidade venha do Executivo e do Congresso para mostrar que est� todo mundo na mesma p�gina. Existe uma restri��o or�ament�ria e � importante observar. Faz sentido estender um pouco mais o aux�lio emergencial, mas tamb�m � imperativo encontrar uma forma respons�vel de fazer isso e mostrar que essa responsabilidade � compartilhada.
O senhor acha que � poss�vel que esse aux�lio acabe virando uma pol�tica populista do governo, de olho em 2022?
� poss�vel, sim. N�o digo que � o caso, mas � ineg�vel que esse tipo de gasto ter� um dividendo pol�tico muito claro. A popularidade do governo e do presidente Bolsonaro se fortaleceu no momento que o governo e o Congresso aprovaram o aux�lio emergencial. Pelo pr�prio impacto que teve na sociedade e pela resposta r�pida que deu a essa necessidade. � um risco. N�o � um segredo guardado a sete chaves que gastar mais faz parte de uma agenda populista. Agora, h� que se olhar para a quest�o fiscal. O Brasil j� tinha uma situa��o fiscal extremamente d�bil antes da covid-19 e ficou mais d�bil com a pandemia. E isso significa que o pa�s vai ter que iniciar ou reiniciar o ajuste fiscal em uma posi��o ainda mais fr�gil. N�o d� para perder muito mais tempo. E volta um pouco aquela ideia de que n�o se pode fazer o que quer, mas o que se pode. � preciso entender que existe essa restri��o. Se quiserem fazer uma aloca��o do gasto com vi�s mais pr�-social, acho muito bem. Mas ser� preciso pensar em contrapartidas que tenham impacto menor na economia e na sociedade menor e ter a vontade pol�tica de elimin�-las.
Seria melhor turbinar o Bolsa Fam�lia em vez de retomar o aux�lio emergencial? O programa tem se mostrado bem eficiente ao longo do tempo...
O Bolsa-Fam�lia � um programa bem eficiente, certamente, poder� ser melhorado. Ele n�o � muito caro em termos de recursos or�ament�rios que est�o alocados. Mas, aqui, h� duas coisas que precisamos separar. Uma � o aux�lio emergencial, que, dada � restri��o criada pela pandemia, pois h� indiv�duos que perderam a renda, que n�o podem trabalhar porque o lugar onde trabalhavam est� fechado ou estavam na informalidade. � o aux�lio emergencial. Esse benef�cio est� focado at� que a emerg�ncia passe. Outra coisa � expandir a rede de prote��o social, que � uma discuss�o completamente diferente. E tem um vi�s mais de m�dio e longo prazos. � poss�vel aceitar, no curto prazo, ter algum gasto extra-teto por algum car�ter emergencial que o motiva, mas n�o pode um gasto maior ou extra-teto para refor�ar o Bolsa Fam�lia. N�o tenho nada individualmente contra o Bolsa Fam�lia. Acho um programa �timo, que pode ser melhorado e pode ser mais abrangente, mas tem que ser dentro da restri��o financeira do Or�amento.
O Brasil pode ter um programa de renda m�nima mais ampliado dado o aumento da pobreza e da mis�ria?
Pode, certamente. Possivelmente, at� deva ter um programa de renda m�nima. O Brasil gasta uma enormidade. Quando olhamos para a parte fiscal do Brasil � chocante comparado com outros pa�ses emergentes, a quantidade de grana que o pa�s gasta e a quantidade de grana que o pa�s tributa. Dito isso, de maneira muito simplista, o Brasil � um pa�s que tributa muito, gasta ainda mais por ter um deficit muito elevado e investe muito pouco. Essa combina��o � um mix muito ruim. Investe pouco e investe mal. Gasta muito e gasta mal. H�, aqui, uma agenda muito importante que seria gastar menos para reduzir a carga tribut�ria e aumentar a efici�ncia da economia, mas tamb�m seria t�o importante quanto gastar menos e gastar melhor. E, dentro dessa an�lise, realocar alguma despesa para uma vertente social para ampliar e refor�ar a rede de prote��o social n�o me parece ruim do ponto de vista social e do ponto de vista econ�mico.
Al�m do impacto social, o aux�lio emergencial ajudou a salvar o PIB de um desastre mais em 2020…
Salvou o PIB a que pre�o? Os brasileiros compraram esse PIB. Foram gastos 8,5% do PIB (com medidas emergenciais). Todos pagaram e v�o pagar por esse PIB. O endividamento p�blico � a d�vida de todos, e os brasileiros v�o pagar por isso. Esse custo foi justificado plenamente naquela agonia da pandemia para se estruturar um programa rapidamente. N�o foi o programa mais eficiente. Acabou por transferir demais recursos para estados e munic�pios e, talvez, o enfoque do programa, tamb�m, n�o foi muito eficiente. Muitas pessoas com acesso a esses recursos tiveram uma suplementa��o de renda e n�o algo para complementar a renda. Mas, ent�o, entende-se que, na emerg�ncia da situa��o, esse tipo de inefici�ncia seja aceit�vel. � verdade que se conseguiu mitigar o impacto social. � ineg�vel. E tamb�m � verdade que se teve impacto na economia. Mas � preciso, mais uma vez, separar. Eu n�o acho que n�o se deva gastar para estimular a economia. Acho, sim, que se deve gastar para minorar o impacto social. S�o duas quest�es completamente diferentes. Com a situa��o fiscal do Brasil, que gasta mal, n�o acho uma boa ideia usar o fiscal para estimular a economia com esse mont�o de d�vida que o pa�s tem. Seria bom aprovar as reformas para sanar a parte fiscal. Isso melhoraria os indicadores de confian�a e o cen�rio para investimento. Seria um ajuste fiscal virtuoso, porque ajudaria na queda das taxas (de juros) longas e na melhora dos indicadores de confian�a. � o investimento privado que, no final, vai alavancar o crescimento. O que estamos vendo hoje foi apenas uma retomada turbinada por um montante enorme de gasto p�blico.
O senhor est� confiante de que h� um compromisso real com essas reformas? At� que ponto essa mudan�a no Congresso favorece isso?
� dif�cil avaliar. Primeiro, sou economista. n�o cientista pol�tico. Tamb�m n�o sou psic�logo. Mas, olhando para tr�s, � um pouco desalentador. O trabalho legislativo tem sido extremamente vagaroso. As reformas andaram pouco. Nas poucas reformas que avan�aram, o conte�do poderia ser mais forte, inclusive, a da Previd�ncia. Na reforma previdenci�ria ainda foram mantidos muitos regimes especiais e privil�gios. Deixou muitas pontas soltas e n�o incluiu os militares. Foi meio passo em frente. Poderia ter sido uma reforma muito mais contundente. E o que est� me preocupando, hoje, � que, n�o s� as reformas n�o avan�aram desde 2019, como todo o trabalho legislativo foi lento dadas �s necessidades e as urg�ncias desde a crise de 2014 a 2016. N�o estou t�o otimista de que v�o vir muitas reformas daqui para frente. Parece que o equil�brio pol�tico com as mudan�as nas presid�ncias da C�mara e do Senado possa, momentaneamente, gerar algum �mpeto para algumas dessas reformas. Temo, no entanto, que o conte�do deixe muito a desejar e, de fato, n�o fa�a muita diferen�a para a situa��o fiscal no curto prazo. � importante que as reformas avancem o mais rapidamente poss�vel. J� est�o extraordinariamente atrasadas, mas tamb�m � importante que o conte�do seja forte para fazer a diferen�a.
Na emerg�ncia que vivemos hoje, qual deve ser o foco do governo, sobretudo, quando vemos o Executivo apresentar uma lista de 35 prioridades…
� rid�culo.
Quem tem 35 n�o tem nada, n�o � mesmo?
� verdade. O importante � fazer o m�ximo poss�vel nessa lista de 35. H� reformas macro e h� reformas micro. Mas tem que tocar todas. Eu sempre achei um pouco esdr�xulo o argumento de que s� se pode discutir um assunto de cada vez no Congresso. Tem v�rias comiss�es, por que s� pode tocar um assunto de cada vez? Seria importante que os legisladores percebessem que a situa��o � cr�tica e a urg�ncia do momento necessitam do avan�ar das reformas. Acho que a reforma administrativa � muito importante. A PEC Emergencial, tamb�m, porque d� um instrumental mais vasto para o gestor p�blico manejar o gasto, que tem uma rigidez muito grande, pois d� os instrumentos e os gatilhos para manejar as despesas � medida que se aproximam do teto. Essas s�o as mais importantes, mas tem outras. Tem a PEC do Pacto Federativo e a PEC dos Fundos e a reforma tribut�ria, certamente, que � um tema denso e complexo, que dificulta a aprova��o. Mas essa reforma � muito importante. A carga tribut�ria no Brasil � gigante, � enorme. O c�digo tribut�rio � bizantino. A carga tribut�ria gera inefici�ncias enormes e tem instrumentos tribut�rios altamente regressivos. Seria importante trabalhar um pouco isso, mas � um tema complexo.
� poss�vel avan�ar com as reformas econ�micas se existe uma pauta de costumes no centro das aten��es do governo?
Eu n�o sei responder essa pergunta. Depende de como as lideran�as do Congresso encararem esses temas. S�o prioridades de algumas partes do governo e do presidente Bolsonaro. Foi promessa de campanha e s�o assuntos que ele, certamente, est� bastante empenhado em puxar, mas n�o sei se tem respaldo legislativo. Se � poss�vel andar, �. Mas se avan�a ou n�o, eu n�o sei.
Mas, neste momento de emerg�ncia, o mais importante � que as quest�es econ�micas tenham prioridade?
Eu diria que sim. � importante que, pelo menos essa parte fiscal, que j� era extremamente fr�gil antes da pandemia e se tornou mais fr�gil, acelerasse o passo.
Muitos dos defensores do retorno do aux�lio emergencial afirmam que outros pa�ses fizeram programas mais agressivos, sobretudo, na �rea social. Os Estados Unidos, agora, est�o discutindo um novo pacote fiscal. O Brasil foi t�mido? Por que alguns pa�ses podem ser mais agressivos do que o Brasil?
N�o acho que o Brasil foi t�mido. Pelo contr�rio. O pa�s foi bastante voluntarista. O montante do socorro foi expressivo. Ningu�m enriqueceu com o aux�lio emergencial, mas, dadas as circunst�ncias, acho que foi generoso. E alguns pa�ses fazem mais porque podem. Volto a essa quest�o: � importante que o aux�lio esteja conectado � emerg�ncia sanit�ria e seja relacionado � restri��o f�sica da atividade criada pela pandemia. Ele precisa ser para o indiv�duo que quer trabalhar e n�o pode, porque o restaurante onde ele trabalha est� fechado. � uma outra discuss�o o instrumento de redu��o de pobreza e o refor�o da rede de prote��o social, como modernizando e ampliando o Bolsa Fam�lia. � uma discuss�o completamente diferente, que, mais uma vez, requer que o financiamento desses programas seja pensado de forma separada. Mas � uma discuss�o que vale a pena ter, a da renda m�nima, com enfoque maior e, talvez, mais abrangente do gasto social e de como o pa�s gasta os seus recursos, que s�o limitados.
Desde o in�cio do governo, a equipe econ�mica critica a m� aloca��o dos recursos, mas pouco fez para combater isso. Por que � dif�cil sair do discurso para a pr�tica?
� mais f�cil falar do que fazer. Cortar gastos tem uma briga pol�tica. E vemos, inclusive, essa briga pol�tica entre diferentes membros do governo. Algu�m quer cortar, mas algu�m acha que tem um custo pol�tico e n�o quer cortar, e o pr�prio Congresso resiste. Isso n�o � novidade. A teoria pol�tica do gasto � que � sempre mais f�cil encontrar um amigo para votar com voc� para gastar mais, mas � sempre muito mais dif�cil um amigo votar com voc� para cortar o gasto. A ci�ncia pol�tica do gasto exige pensar bem. Quando pensamos em criar um programa novo, h� que se pensar em eliminar outro. Mas o Or�amento tem muita rigidez. O governo encontra-se bastante limitado na capacidade de fazer cortes. Mas poderia ter proposto um pouco mais e amarrado um pouco melhor o Or�amento. Precisa passar um pente fino e mostrar para a sociedade onde est� o gasto pouco eficiente, o gasto mal alocado, o gasto com multiplicador econ�mico ou social muito baixo e propor a elimina��o desse tipo de despesa. O Or�amento, no final, � aprovado pelo Congresso, mas o governo poderia ter feito mais nessa �rea sim.
O senhor est� confiante com a economia brasileira? Quais as suas perspectivas em meio a todas essas incertezas?
Estou confiante com a economia, por raz�es circunstanciais. Mas isso n�o significa que estou confiante no m�dio e longo prazos. Estamos falando dessa retomada da crise provocada pela pandemia. Mas, em 2021, o crescimento n�o ser� genu�no, de investimento e de produtividade. O pa�s ainda est� tentando recuperar tudo aquilo que perdeu durante a pandemia. Houve uma queda abrupta e recorde durante o primeiro semestre de 2020 e, depois, uma retomada muito forte, em V, que foi uma combina��o de muito est�mulo monet�rio, fiscal, quase fiscal — por meio do cr�dito — e quase monet�rio, por interm�dio de todos as medidas de provis�o de liquidez que o Banco Central muito bem fez. E houve tamb�m o aumento da mobilidade, e isso gerou atividade. At� pa�ses que n�o tiveram esse tipo de est�mulo que o Brasil teve tamb�m tiveram uma retomada em V. O M�xico contraiu bem mais do que o Brasil, mas o V aconteceu, porque a economia foi reabrindo e gerou atividade. E esse processo de retomada ainda n�o est� completamente terminado. Ainda h� uma energia latente, que s� vai terminar com uma campanha de vacina��o e a conscientiza��o para se atingir a imunidade de rebanho. A partir desse ponto, pode-se remover as restri��es � atividade, e alguns setores, como o de servi�os, que est�o bastante impactados por conta da pandemia, comecem a operar em condi��es normais. Tamb�m estou otimista para 2021, porque o entorno externo est� se tornando extraordinariamente favor�vel, com aumento significativo dos pre�os de commodities. Isso significa que os termos de troca do Brasil melhoraram bastante. Temos uma vis�o bastante construtiva de crescimento global e de expans�o do com�rcio mundial. Isso � bom para o Brasil, embora o pa�s ainda seja uma economia muito fechada para o com�rcio. As condi��es de liquidez global v�o se manter bastante amplas e baratas, o que � importante para um pa�s que tem uma taxa de poupan�a muito baixa. E temos tamb�m um ambiente de d�lar fraco, que favorece um pouco o cen�rio. Ent�o, as estrelas se alinharam do ponto de vista externo para criar um cen�rio bastante favor�vel para que essa retomada continue.
Quanto o pa�s pode crescer neste ano?
Acho que h� condi��es para que a economia brasileira cres�a de 3,5% a 4%. N�o � um crescimento genu�no. O pa�s ainda estar� correndo atr�s do preju�zo. Eu digo hoje que o Brasil tem dois problemas: o end�mico e o pand�mico. O problema end�mico � o problema estrutural de longo prazo, e o pand�mico, o problema circunstancial, de curto prazo. Esse � o problema da pandemia, que s� vai ser resolvido com a vacina e com o tempo. � um problema end�mico grave, � um problema s�rio, mas, por ironia do destino, se resolve com a vacina e com o tempo. O problema end�mico vem l� de tr�s e � mais estrutural e muito mais dif�cil de resolver em um pa�s que tem uma taxa de crescimento de PIB potencial muito baixa, uma taxa de investimento muito baixa, uma taxa de poupan�a muito baixa. Investe pouco, poupa pouco e cresce pouco. Esse � o problema que se resolve com reformas. E n�o s� com reforma fiscal. � preciso outros tipos de reformas, que deem alento ao investimento, que abram o pa�s ao com�rcio mundial, que aumentem o capital humano.
E como est� o cen�rio econ�mico para 2022?
Para 2022, quando, basicamente, for queimado esse combust�vel da retomada, o pa�s volta �quela toada de crescimento morno, ou baixo, a n�o ser que venham reformas que mudem os indicadores de confian�a. Aquelas reformas que equacionem de forma significativa a parte fiscal e outras que tornem a economia mais eficiente. Mas esse � um processo que eu n�o estou t�o otimista.
O que estamos vendo � um processo muito lento e atrapalhado de vacina��o. E v�rios bancos e consultorias est�o revisando para baixo a previs�o de crescimento deste ano e, inclusive, piorando as estimativas para o PIB do primeiro trimestre, que deve ser negativo, com chances de recess�o t�cnica no primeiro semestre.
Qual � o cen�rio que est�o prevendo?
� parecido. Talvez uma pequena contra��o no primeiro trimestre e um segundo trimestre relativamente d�bil e, depois, com o processo de vacina��o avan�ando, um crescimento mais robusto na segunda metade do ano. Veja que o carregamento estat�stico de 2020 vai se aproximar de 3%, porque a economia cresceu bastante no segundo semestre do ano passado. Ent�o, n�o d� para a gente se iludir e fazer uma “victory lap” (corrida da vit�ria) com o crescimento deste ano, porque, de fato, o crescimento sequencial vai ser relativamente pouco. H� uma heran�a estat�stica de 2020, pelo pr�prio perfil do crescimento, com queda no primeiro semestre e recupera��o em V no segundo, que gera esse carrego estat�stico bastante elevado. E, depois, em, 2021, temos um primeiro semestre ainda debilitado pela dificuldade log�stica da vacina��o. Esperamos que esse crescimento se acelere de uma maneira mais vis�vel na segunda metade do ano quando o setor de servi�os prestados �s fam�lias e outros ainda est�o bastante impactados comecem a operar de uma forma mais normal.
Qual� sua expectativa em rela��o a juros � quest�o da infla��o?
A infla��o � sempre preocupante, seja alta, seja baixa. Quando est� alta, � preciso se preocupar em baix�-la. Em quanto ela est� baixa, � preciso se preocupar em mant�-la. E esse � o papel do Banco Central. A infla��o hoje est� relativamente elevada. Em janeiro, estava rodando em 4,56%, mas tem um choque enorme de alimentos. Houve tamb�m alguma press�o de bens industrializados. Um componente de demanda que foi facilitado pela generosidade do aux�lio emergencial e, tamb�m, alguns problemas de oferta que, talvez, a ind�stria tivesse uma vis�o muito pessimista da retomada da economia e n�o trabalhou os estoques como devia trabalhar e depois foi surpreendida pelo vigor da demanda. Esses problemas, em princ�pio, se resolvem durante 2021.
Mas o Banco Central tem de aumentar os juros?
O juro b�sico est� a 2% ao ano. A infla��o est� em 4,6% anuais e vai acelerar para acima de 6% daqui a uns meses, e o juro real hoje est� muito negativo. Isso n�o � bom. N�o s� gera volatilidade no c�mbio, como corr�i as decis�es de investimentos. Por outro lado, a economia est� voltando. Hoje, ningu�m est� dizendo que n�o est� obtendo recursos pelo custo proibitivo do cr�dito ou da taxa Selic, que caiu muito. Portanto, chegou a hora de come�ar, gradualmente, a normalizar a pol�tica monet�ria. Inicialmente, retirando esses elementos extraordin�rios da acomoda��o, mas deixando algum impulso ao crescimento. Esperamos que o BC comece e elevar a Selic entre mar�o e maio. Vai depender um pouco dos dados. Talvez, j� em mar�o. No total a alta deve ser de dois pontos percentuais, para 4% ao ano.
A partir do segundo semestre, o Congresso vai se voltar muito para a quest�o eleitoral de 2022. At� que ponto isso atrapalha a aprova��o de reformas e qual o impacto que isso teria na economia?
Pode atrapalhar sim, porque reduz a janela de oportunidade de aprovar essas reformas. � uma observa��o que � apenas factual, observando os ciclos pol�ticos passados e, geralmente, nota-se que, chegando ao fim do ano, a cabe�a pol�tica come�a a mirar um pouco a elei��o que se aproxima. E, com isso, o apetite para aprovar as reformas diminui, e algumas delas, por natureza, n�o s�o reformas populares. Estamos falando de ajuste fiscal. E ajuste fiscal n�o � carnaval, n�o � festa. � ajuste. Parte da ansiedade do mercado, hoje, � essa percep��o de que n�o d� para perder muito tempo, porque essa janela de oportunidade para avan�ar nas reformas � pequena. Se n�o avan�arem, seria muito ruim. � muito importante, daqui a tr�s ou quatro meses, termos as reformas avan�ando com algum conte�do bem delineado e j� com alguns votos em n�vel de comiss�o, talvez alguns votos j� no plen�rio, para ter uma ideia de que cara as reformas est�o tomando. Tamb�m me preocupa um pouco continuarmos falando de reformas administrativa e tribut�ria em termos abstratos. Quando se fala em termos abstratos, ningu�m � contra. Mas, quando se entra um pouco no detalhe, a coisa complica um pouco mais, porque tem perdedores, tem ganhadores, e tem privil�gios que n�o se manter�o, o que torna o di�logo pol�tico menos flu�do. E, a�, come�am a surgir mais oposi��o e menos entusiasmo com as reformas.
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